A inércia da legalização da maconha no Brasil não foi por conta da pandemia

Fotografia em plano fechado da flor de uma planta de maconha (cannabis) com pistilos de cor creme que contrasta com as folhas em tons de verde-escuro e roxo. Foto: John Hanusek | Unsplash.

A regulação do uso e cultivo de cannabis no país ficou estagnada ao longo de 2020, e não podemos culpar o coronavírus por isso. Entenda mais no texto de Luciano Cunha Noia* para o jornal O Dia

Poderíamos até usar a pandemia de Covid-19 registrada este ano para justificar a estagnação da legalização da cannabis no país, tanto no âmbito social (recreativo) quanto no medicinal. Afinal, esta doença fez com que a sociedade em geral parasse suas atividades a fim de conter a contaminação em massa da população.

Mas, quando olhamos a postura de outros países, como México, Argentina e o próprio Estados Unidos, que modernizaram suas legislações no decorrer de 2020 quanto ao uso e cultivo da erva, vemos que esta pauta não avançou em terras brasileiras não só por causa do coronavírus, mas também pela imposição de políticas proibicionistas em todas as esferas federais.

A Argentina regularizou o cultivo doméstico no último mês de novembro para fins medicinais. No decreto, quem desejar cultivar deverá ter uma prescrição médica, e uma autorização do governo. A decisão não estipula um número de plantas por pacientes, e ainda permite o comércio de óleos, cremes e medicamentos em farmácias cadastradas.

No México, a lei que legaliza o uso medicinal e social da maconha já foi aprovada pelo Senado, mas ainda precisa ainda entrar em votação na Câmara deste país para entrar em vigor. No entanto, a aprovação é dada como certa. Com isso, o México se tornará o terceiro país a legalizar totalmente a erva, junto com Canadá e Uruguai.

Nos EUA, foi colocada em votação em vários estados, no último processo eleitoral, a questão da legalização da cannabis, e mais quatro unidades federativas aprovaram esta proposta (Nova Jersey, Montana, Dakota do Sul e Arizona). Além disso, a Câmara Federal de lá também aprovou a descriminalização em âmbito federal, faltando apenas a aprovação pelo Senado para entrar em vigor. Isso representará um alívio para o mercado canábico estadunidense, que não pode até o momento usar o sistema financeiro deste país, que é regido por leis federais.

Toda esta conjuntura mundial pela legalização, no entanto, não motivou o STF a retomar a votação do recurso extraordinário (RE 635.659) que trata da descriminalização da cannabis, entre outras substâncias. Aqui, a maconha é permitida somente para uso medicinal, e isso com uma série de restrições. Os obstáculos começam em encontrar médicos que receitem a erva, passam pelos altos preços dos medicamentos canábicos, e terminam nos Habeas Corpus que permitem o plantio àqueles pacientes que não têm condições financeiras para arcarem com as importações destes remédios.

Até a própria ONU já retirou a cannabis da lista de drogas perigosas da sociedade. Mesmo assim, infelizmente, não existe perspectiva alguma do Brasil surfar esta onda tão breve. Em tempos de “gripezinha”, maconha é considerada veneno, e ozônio remédio. Por isso, é necessário, cada vez mais, mantermos o nosso posicionamento pela legalização, a fim de não permitirmos que as leis que atendem aos usuários não regridam em nossa legislação.

*Luciano Cunha Noia é advogado no estado do Rio de Janeiro e ativista pela descriminalização da cannabis.

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#PraCegoVer: em destaque, fotografia em plano fechado da flor de uma planta de maconha com pistilos de cor creme que contrasta com as folhas em tons de verde-escuro e roxo. Foto: John Hanusek | Unsplash.

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