‘Head shops’ expandem negócios com shows, exposições e até estúdio de tatuagem no Brasil

Fotografia colorida frontal, tirada à noite, que registra o movimento de pessoas em frente ao centro cultural que tem seu nome "Smoke Lounge" em letreiro luminoso na entrada. Head shops.

A onda da legalização movimenta mercados até mesmo em terras proibicionistas. No Brasil, as head shops que vendem acessórios para o consumo de maconha promovem até mesmo debates sobre cannabis com neurocientistas. As informações são d’O Globo.

Antes as “head shops” eram conhecidas apenas como lugares onde se vendiam acessórios. Hoje, no entanto, o público encontra nelas bem mais do que diferentes tipos de seda, desberlotadores e bongs. Esses empreendimentos estão abrindo suas portas para exposições de arte, experiências gastronômicas, tatuagens, apresentações musicais e, claro, debates sobre cannabis. Criadas sob a inspiração das casas de contracultura dos anos 1960 e 1970 nos Estados Unidos, esses espaços são também usados para incentivar o empreendedorismo local de cada região.

Em um casa de três andares, escondida numa das dezenas ruas estreitas e cheias de paralelepípedos de pedra do centro do Rio de Janeiro, se encontra a Ganjah. O espaço tem um pé na contracultura underground dos anos 60 e outro no vale do silício do século XXI: homens de terno afrouxam das gravatas e abrem os laptops para fazer reuniões, enquanto isso jovens pedem um hambúrguer artesanal no aguardo do show de slam que vai acontecer mais tarde naquele mesmo dia.

— A ideia a princípio era montar apenas uma tabacaria, mas vimos que havia uma possibilidade de criar um espaço de convivência – conta Ítalo Rodrigues, fundador — Começamos a perceber que a galera vinha para permanecer na casa. As pessoas vinham para ficar no sofá, tinha gente que que vinha para trabalhar, outros marcavam reunião, outros só queriam curtir uma música com os amigos.

Fotografia de um veículo tipo utilitário de cor verde e com o logo da "Ganjah Coffeeshop" em branco estampado em sua lateral, estacionado em frente à loja com fachada de arquitetura antiga no centro do Rio de Janeiro, onde se vê uma porta de ferro de enrolar com desenhos em tons de vermelho abaixo do nome "Ganjah" escrito em verde, entre duas outras portas de madeira verdes.

#PraCegoVer: fotografia de um veículo tipo utilitário de cor verde e com o logo da “Ganjah Coffeeshop” em branco estampado em sua lateral, estacionado em frente à loja com fachada de arquitetura antiga no centro do Rio de Janeiro, onde se vê uma porta de ferro de enrolar com desenhos em tons de vermelho abaixo do nome “Ganjah” escrito em verde, entre duas outras portas de madeira verdes.

Ítalo foi ao Uruguai para conhecer as iniciativas empreendedoras que estavam sendo feitas com a legalização da cannabis no país e para estudar que tipo de investimento poderia fazer no Brasil, dentro do que a legislação nacional permite. O negócio começou em 2015 com uma pequena loja, mas logo Juliano Werneck, dono de um sobrado algumas casas ao lado onde funcionava uma boate, se interessou em unir os investimentos. No piso térreo, cachimbos e narguilés dividem espaço com araras de roupa, obras de arte e um espaço gastronômico; o segundo andar tem um palco que recebe shows, peças teatrais e reuniões, o terceiro andar é um terraço aberto.

Werneck, 53 anos, hoje é um dos cinco sócios que administram o empreendimento. Ele conta que a casa ruma para se tornar um centro cultural, com possibilidade de eventos noturnos, encontros de coletivos de criação, cineclube, peças teatrais e para debate sobre cannabis, é claro. A casa já organizou, por exemplo, rodas de conversa com neurocientistas sobre o uso médico da planta, por exemplo.

— Tudo que a gente vende aqui tem nota fiscal, geramos emprego, pagamos nossos impostos, fazemos tudo dentro da legalidade. Não estamos fazendo apologia à droga, a gente quer promover o debate inteligente e com informação de qualidade, tendo a saúde como norte, por isso chamamos médicos e especialistas. E isso faz parte da construção da nossa marca, que se identifica com trabalho colaborativo, com liberdade, com debates democráticos e sempre dentro da perspectiva de estar dentro da legalidade.

Leia: Lojas de produtos legais relacionados à maconha se espalham no Rio

Estúdio de gravação e de tatuagens

Em outra casa de três andares no Rio de Janeiro, o Centro Cultural Smoke Lounge funciona de segunda a sábado com agenda cultural intensa, cada dia da semana tem apresentações musicais de um ritmo diferente, com destaque para os shows de jazz, blues e de rock. O espaço mistura tabacaria, pub, sinuca, estúdio de ensaio para músicos, e estúdio de tatuagens.

— É uma combinação de elementos de cultura alternativa e underground, a ideia era criar um centro cultural que agregasse todo esse universo, na Tijuca — explica Jader Veríssimo, 36 anos, sócio da casa, que relata ter sofrido com episódios de preconceito – No início enfrentamos algumas coisas, as pessoas passavam na porta e xingavam, chegaram a nos denunciar como se fôssemos uma boca de fumo. Acho que agora as pessoas entenderam melhor e, com o tempo, puderam ver que não tem nada a ver.

Veríssimo explica que fez uma ampla pesquisa na legislação para manter tudo dentro dos padrões e que todos os produtos possuem notas fiscais. Ele também conta que a casa possui linhas importadas, mas que procura dar ênfase à indústria nacional.

Fotografia de um homem vestindo camiseta verde e com os braços cruzados, enquanto observa outro que fala e gesticula, com outras pessoas, em frente a um estabelecimento com estrutura de madeira, onde se vê mais pessoas num bar em seu interior e uma placa afixada à entrada com o nome "Leprechaun".

#PraCegoVer: fotografia de um homem vestindo camiseta verde e com os braços cruzados, enquanto observa outro que fala e gesticula, com outras pessoas, em frente a um estabelecimento com estrutura de madeira, onde se vê mais pessoas num bar em seu interior e uma placa afixada à entrada com o nome “Leprechaun”.

— A primeira pergunta em geral é “mas é legal você vender isso?” — conta Pedro Cordeiro, 31 anos, sócio da Leprechaun, em Embu das Artes, São Paulo. A casa vende produtos de tabacaria, como seda e bongs de vidro importados, mas também é um espaço de exposição de obras de arte feitas por artesãos locais e de apresentações musicais.

— Nossa função não é vender seda, é proporcionar uma experiência diferente, a gente consegue desmistificar o assunto quando o cliente sai dali sabendo uma coisa nova, assim como as pessoas querem conhecer mais sobre cerveja, por exemplo.

Em Recife, a head shop Fervo, tem parcerias com chefs de cozinha e artistas locais para fazer exposições, além dos serviços de tatuagem e barbearia. E Orange House, que tem lojas na capital paulistana e em Florianópolis, tem ambientes separados para um pub e um estúdio de tatuagem que recebe tatuadores convidados. Em Florianópolis, a loja é em frente a uma praça, onde os sócios fazem atividades como música ao vivo e realização de manifestações artísticas, com um leilão de telas de grafite.

#PraCegoVer: fotografia (capa) colorida frontal, tirada à noite, que registra o movimento de pessoas em frente ao centro cultural que tem seu nome “Smoke Lounge” em letreiro luminoso na entrada. Créditos da foto: Divulgação.

Deixe seu comentário
Assine a nossa newsletter e receba as melhores matérias diretamente no seu email!