Guerra às Drogas – Dando a Letra

Imagem que traz o recorte do retrato de um menino sorrindo, com uma máscara que cobre sua cabeça até o nariz, com furos nos olhos, além de colagens com o nome da série, "Dando a Letra", o título do texto, "Guerra às drogas", o crédito da curadoria, por Levi Kaique, e o logo da Bem Bolado Brasil.

O combate às drogas é apenas uma máscara para a efetivação do genocídio da população preta e pobre no Brasil. Saiba mais no texto de Nico Cordeiro, com curadoria por Levi Kaique

Nossas visões são desviadas todos os dias. Assistimos a uma valorização assustadora de políticas e agentes de segurança pública por parte de programas sensacionalistas, por parte de um governo autoritário e de conservadores que não querem que o povo preto e periférico tenha o que eles têm (o mínimo para todo ser humano: Segurança, Saúde, Saneamento etc.). Porém, a realidade é aquilo que NÃO é televisionado. São incontáveis as agressões e abusos policiais direcionados a mulheres, homossexuais, pessoas da periferia e, principalmente, quem é PRETO.

A população carcerária do Brasil chegou a mais de 800 mil encarcerados em 2019, segundo dados do Banco de Monitoramento de Prisões do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Desse total, 337 mil, o equivalente a 41,5%, são presos provisórios e que aguardam julgamento. Você se espantaria com o resultado se fizéssemos um recorte racial desses números?

O último levantamento realizado pelo Departamento Penitenciário Nacional (Depen), em 2016, aponta que a população presa é predominantemente composta por pretos e pardos (65%). Ou seja, 65% das pessoas presas nesse país são negras. Além desse dado é importante falar sobre um outro número. O Brasil teve ao menos 5.804 mortes cometidas por policiais na ativa em 2019 e 5.716 em 2018. Segundo levantamento, em 2018, mais de 75% dos mortos pela polícia no país eram Pretos e Pardos (Negros).

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Nos últimos anos, inclusive durante a quarentena, instituições fizeram um alerta para falar sobre o aumento do número de ações policiais nas comunidades. No Rio de Janeiro, por exemplo, entre março e abril a polícia promoveu 110 ações dentro das favelas. A justificativa para as ações varia entre busca e apreensão de armamentos e drogas.

Todos esses números e observações escancaram uma realidade: o combate às drogas é apenas uma máscara para a efetivação do genocídio da população preta e pobre no Brasil. Sob o pretexto de combater as drogas, chamando até mesmo de “guerra” contra elas, o estado brasileiro se utiliza das instituições policiais e da justiça, com o encarceramento, para promover mais um braço da necropolítica. Essa gestão necropolítica está essencialmente ligada a opressões estruturais de raça, classe e gênero e se apropria de ferramentas públicas para se efetivar.

No Brasil, a gestão de segurança pública segue sob comando de mãos violentas e racistas e, como consequência, temos o descaso total para com vidas negras. E, como se não bastasse, existe um direcionamento racista das instituições para se concretizar a gestão da vida e morte dessas populações.

A discussão sobre a descriminalização das drogas no país é sempre destaque quando entramos nesse assunto. Sem precisar praticar essa política de extermínio ao povo negro e periférico, Portugal é um modelo exemplo que possui um grande avanço nesse sentido. Há 20 anos o país descriminalizou o consumo de entorpecentes, o que reduziu o consumo de heroína e cocaína e diminuiu a incidência do HIV de forma muito mais efetiva do que o Brasil com sua mão violenta nessa “guerra”.

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Portugal não fez nada revolucionário, descriminalizou o consumo daqueles que portassem no máximo 10 doses de uma determinada substância ilícita. Não muito diferente do que acontece na Espanha, por exemplo. Porém o que fez a diferença foi a mudança de sensibilidade em relação aos viciados: deixaram de ser tratados como criminosos, receberam programas de cuidados, de substituição de heroína por metadona, foram incluídos no sistema de saúde para tratar suas doenças. Os resultados não demoraram a chegar, apesar de o consumo global de drogas não ter diminuído, o de heroína e cocaína, duas das mais problemáticas, passou de afetar 1% da população portuguesa para 0,3%.

O importante a se observar em tudo isso é que a “Guerra” às Drogas falhou e enquanto o estado brasileiro não assumir essa falha, continuaremos prejudicando a população. O moralismo preconceituoso mesclado ao senso comum criam pessoas que acreditam cegamente que um dia o uso de drogas terá fim através da violência. O problema é que esse moralismo não se preocupa com os efeitos dessa guerra, que gera morte de inocente, corrupções policiais e o aumento da criminalidade.

O que tem que ser claro é que a proibição desses entorpecentes torna o tráfico em uma violência extremamente lucrativa. O esquema subsidia e multiplica Bancos e serviços financeiros; produtores de drogas e narcotraficantes; fabricantes e vendedores de armas; área da construção e administração de presídios; clubes de futebol. Políticos ligados a atividades genocidas e racistas são os que têm interesse em manter uma hierarquia sócio-racial.

Estamos em “guerra” contra o tráfico e o uso de drogas há mais de 40 anos e ainda não vemos nenhuma luz de redução do tráfico. O que vemos é cada vez mais uma “guerra” de fachada, com o principal intuito: promover a supremacia branca e classista através do assassinato do povo preto e periférico. Enquanto isso, outros países, com a descriminalização provaram que é possível reduzir os problemas com as drogas em mais da metade.

Reflita.

Você acredita que o Brasil falhou nessa “guerra”? Deixe sua opinião nos comentários, queremos saber o que você pensa e discutir de um jeito saudável esse assunto delicado!

Curadoria por @levikaiquef.

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#PraCegoVer: a imagem de capa traz o recorte do retrato de um menino sorrindo, com uma máscara que cobre sua cabeça até o nariz, com furos nos olhos, além de colagens com o nome da série, “Dando a Letra”, o título do texto, “Guerra às drogas”, o crédito da curadoria, por Levi Kaique, e o logo da Bem Bolado Brasil. Crédito: Divulgação.

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