Spliff: o uso cultural de maconha, haxixe e tabaco

Spliff

Estrelas do spliff, a maconha, o haxixe e o tabaco são usados em conjunto em diferentes contextos. A coluna Girls in Green fala mais sobre esse mix, como fazê-lo e reduzir seus danos

Seja para fazer o corre render ou por gosto pessoal: os spliffs, famosos tabecks, são uma das formas mais populares de consumo de maconha ou haxixe. Quando perguntamos lá no Instagram, há algum tempo, quantos usavam as substâncias em conjunto, 60% dos seguidores contaram que faz parte de sua realidade. Mas essa tradição não é uma novidade!

A gente já falou sobre essa dupla e seus efeitos em conjunto. E que tanto o tabaco quanto a maconha são considerados plantas de poder — uma nativa do Ocidente, e outra nativa do Oriente. Não existe um registro único de como elas se uniram; entretanto, suas culturas estão bastante entrelaçadas. 

Hoje, vamos contar um pouco mais sobre o uso cultural de maconha, haxixe e tabaco, além de trazer dicas para enrolar seu spliff e reduzir danos ao usar a mistura!

Vem com a gente.

O que é um spliff?

O spliff (termo em inglês para o nosso abrasileirado tabeck) não é um baseado comum. Entretanto, é feito de forma similar! O método de enrolar é o mesmo, o que muda é que o recheio do spliff tem tabaco e cannabis (ou haxixe) misturados.

A proporção de cannabis e tabaco varia de acordo com a preferência do bolador — muita cannabis com um pouco de tabaco, muito tabaco com um pouco de cannabis ou algo intermediário. Quando o haxixe é usado ao invés das flores, mistura-se tabaco suficiente para carburar bem!

E blunts, meninas?

Blunts são outro tipo de apetrecho para enrolar becks — mas, ao invés de serem um papel comum, são feitos de tabaco. Normalmente, eles são maiores do que becks e spliffs normais e duram muito mais.

De onde vem a cultura de unir tabaco e maconha?

Não é fácil dizer onde tudo começou, mas existem suspeitas de que essa mistura tenha nascido lá pela Ásia Central. O tabaco já crescia em solos americanos desde aproximadamente 6.000 a.C, e era usado por populações nativas em ritos e contextos sagrados. Foram os europeus, a partir de sua vinda para cá, que passaram a espalhar a planta pelo mundo — até que ela chegou na Índia, por volta de 1.600.

A Índia é considerada um dos possíveis berços da cannabis. Muito da história do país e de suas tradições está intimamente ligado à planta. Nos Vedas, livros sagrados do hinduísmo, a descrevem como libertadora de ansiedades, fonte de prazer e alegria. Por conta disso, ela é considerada uma das cinco plantas sagradas!

Por lá, o charas nasceu: uma extração de tricomas totalmente artesanal, feita apenas com as mãos e plantas de maconha. No país, ele normalmente é vendido em pequenas bolinhas ou bastões, e tradicionalmente é fumado no chillum — uma espécie de cachimbo utilizado pelos monges hindus, ou sadhus. Nesse pipe, mistura-se o haxixe e um pouco de tabaco.

Essa prática de misturar o haxixe com o tabaco também é bem comum no Marrocos, maior exportador de resina da atualidade. Como o jornalista Guilherme Russo conta na Revista Piauí, “o ritual é sempre o mesmo: o freguês quebra um cigarro industrializado perto da base, separa o filtro e mescla o haxixe ao fumo. Depois enrola a mistura em papel de seda king-size, e gruda o filtro a uma das pontas”.

Mas a popularização do tabaco nos países trouxe problemas. Com índices galopantes de tabagismo e mortes causadas por ele, tanto a Índia quanto o Marrocos buscam formas de restringir seu uso.

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Na Europa, o mix ganhou espaço

Existe uma diferença nas culturas maconhistas da Europa e da América do Norte, por exemplo. Enquanto na segunda o uso de flores é muito mais comum, os europeus são grandes adeptos do combo haxixe e tabaco.

Isso por que, durante o renascimento da cannabis entre os anos 1960 e 1970, o haxixe centro-asiático era muito mais fácil de se encontrar. Além disso, há o fato de que o uso de cigarros de tabaco ainda era bem aceito, e pouco (ou praticamente nada) se falava sobre seus riscos. Por outro lado, estadunidenses e canadenses tinham acesso mais fácil a flores secas, usadas para enrolar becks puros.

Para você ter uma ideia: cientistas até identificaram a quantidade média de maconha em um baseado americano, que ficou em 0,32 grama. Na Alemanha, Holanda ou Dinamarca, essa quantidade de cannabis é normalmente misturada com outro grama ou mais de tabaco, dependendo da preferência pessoal.

Quais os efeitos dos spliffs?

Muita gente relata que, ao fumar tabaco junto com a cannabis ou concentrados, o efeito é intensificado. Mas isso depende bastante do tipo de maconha que você está usando e do efeito que procura! Por exemplo, junto com mais THC, a nicotina pode exacerbar suas propriedades estimulantes.

Existem pesquisas bastante interessantes que ligam o uso combinado de tabaco e maconha a efeitos mais amenos na memória dos usuários, devido à forma como agem no hipocampo. Usuários das duas substâncias, embora também possam ter uma redução no hipocampo, não apresentam problemas na capacidade de reter memórias.

O problema dos spliffs

Bom, o problema dos spliffs é justamente o tabaco!

De acordo com um estudo publicado no Harm Reduction Journal, embora quimicamente muito semelhantes, existem diferenças fundamentais nas propriedades farmacológicas entre a cannabis e a fumaça do tabaco. A fumaça da cannabis contém canabinoides, enquanto a fumaça do tabaco contém nicotina.

Os dados científicos disponíveis, que examinam as propriedades cancerígenas da inalação de fumaça e suas consequências biológicas, sugerem razões pelas quais a fumaça do tabaco, mas não a fumaça da cannabis, pode resultar em câncer de pulmão.

Outras pesquisas ainda sugerem que utilizar o combo tabaco, maconha e haxixe pode gerar um risco aumentado de dependência. Os pesquisadores relataram que os usuários de cannabis e tabaco que misturavam os dois estavam menos motivados a parar de fumar e menos propensos a querer ajuda para reduzir o uso de tabaco e cannabis do que aqueles que usam cannabis e tabaco separadamente.

Sozinho, o tabaco está relacionado a problemas como:

  • Câncer;
  • Doença cardíaca;
  • Acidente vascular cerebral;
  • Doenças pulmonares;
  • Diabetes;
  • Doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), que inclui enfisema e bronquite crônica;
  • Risco aumentado de tuberculose, certas doenças oculares e problemas do sistema imunológico, incluindo artrite reumatoide.

Ou seja: fazer o corre durar mais pode ser um tiro no pé!

Como reduzir os danos ao usar tabaco e maconha

  • Use filtros ou jilters no seu spliff. Eles vão ajudar a filtrar as impurezas, sem tirar a onda. Sim: é um grande mito que os filtros reduzem a quantidade de THC da fumaça!
  • Use sedas de qualidade.
  • Bole com piteira longa, de papel ou vidro, para ajudar no resfriamento da fumaça.
  • Use pouco tabaco — só o necessário para carburar. Melhor um beck fino com pouco tabaco do que um dedo de gorila tabacado!
  • Use o tabaco natural, de preferência orgânico, ao invés do industrializado dos cigarros convencionais.
  • O próprio ritual de bolar o próprio tabaco muitas vezes diminui a quantidade de cigarros fumados, o que é uma boa forma de reduzir o hábito.
  • Vaporizar ao invés da carburar também reduz danos. Que tal experimentar?

Como bolar um spliff

Você vai precisar de:

  • Como falamos ali em cima, piteira longa, filtro e seda da sua escolha;
  • Flor ou haxixe;
  • Tabaco, de preferência orgânico;
  • Um bowl.

Como fazer:

  1. Faça a mistura: no bowl, misture sua flor ou concentrado com um pouquinho de tabaco. Use uma tesourinha para picotar o hash, se esse for o caso, e ter certeza de que ele vai combinar bem com a erva.
  2. Coloque sua mistura na seda: nessa hora, você deve encaixar a mistura no papelzinho e massagear. Pegue leve para não compactar demais — se a fumaça não tiver por onde passar, seu spliff vai ficar travado. Antes de fechar, não esqueça de adicionar o filtro e a piteira.
  3. Lamba a cola da seda, acenda e vá com fé em Jah!

Um bom spliff pode ser gostoso, mas vale prestar bastante atenção aos sinais do seu corpo. O ato de fumar qualquer erva que seja pode ser prejudicial aos seus pulmões! Se você sentir que está ficando com a respiração afetada ou tendo qualquer tipo de mal-estar, procure um médico e tente fazer o seu consumo por outras vias. A vaporização, os comestíveis e as tinturas podem ajudar.

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Até a próxima!

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#PraTodosVerem: fotografia de capa mostra vista aérea de uma mão que acomoda um spliff ainda aberto, onde se vê uma piteira longa, filtro e a mistura de cannabis e tabaco. Ao fundo, a imagem de uma deidade hindu. Foto: Girls in Green.

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Sobre Girls in Green

O Girls in Green é um projeto feito por mulheres canábicas, focado na produção e disseminação de conteúdo digital acessível, livre de julgamentos e tabus, abordando temas como maconha, uso de drogas, cultivo, haxixe e política - sempre sob a ótica da Redução de Danos. O principal objetivo do canal é combater o estigma e a desinformação resultantes da Guerra às Drogas.
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