Fórum Delta9 pauta maconha medicinal no Nordeste
Abordando questões que envolvem a regulação da maconha para fins medicinais, fórum Delta9 mostrou que a causa no Nordeste é existente, mas ainda carece de prescritores e de decisões judiciais favoráveis ao cultivo pessoal e associativo
À beira da praia de Ponta Negra, em Natal, capital do Rio Grande do Norte, o Praia Mar Hotel & Convention recebeu, entre os dias 10 e 11 de agosto, cerca de 350 pessoas para a 4ª edição do maior evento sobre cannabis no Nordeste, o Fórum Delta9 (10), e a segunda do Festival (11), com programação cultural e exposição de marcas apoiadoras, como a Bem Bolado Brasil.
Cada vez mais estudos, realizados em vários países, comprovam os benefícios do uso medicinal da maconha em processos de recuperação e de tratamento de doenças, tanto fisiológicas quanto psicológicas. E um dos objetivos do IV Fórum Delta9 foi discutir a regulamentação, as implicações e os benefícios do uso da cannabis no tratamento de variadas doenças, em animais e humanos.
Cânhamo na nutrição
A cannabis é um alimento funcional – que são definidos como alimentos ou ingredientes naturais que oferecem benefícios à saúde além de suas funções básicas clinicamente comprovadas e documentadas para a prevenção, redução ou tratamento de doenças crônicas degenerativa, como câncer e diabetes, entre outras. Do hemp, ou cânhamo, que são as plantas com baixo teor de THC, sementes ricas em fibras e nutrientes podem ser consumidas cruas, levemente torradas ou germinadas, e são versáteis na produção de cosméticos e produtos voltados à nutrição.
Os benefícios e aplicações funcionais das sementes de cânhamo foi o tema abordado pelas nutricionistas Dr.ª Brenda Sá e Dr.ª Paula Maia, que abriram o Fórum Delta9. “A proteína do cânhamo é de fácil digestão, ou seja, o organismo consegue digerir e absorver a proteína, por que 65% desta é composta de edestina -a proteína de mais fácil ingestão do reino vegetal, e os outros 35% de albumina. A digestividade da proteína de cânhamo é interessante, já que ela não possui na semente inibidores de tripsina – uma enzima que quebra a proteína no nosso organismo”, explica Dr.ª Paula Maia.
Segundo as nutricionistas, a proteína da semente de cânhamo possui variados benefícios, como o alto teor proteico, fonte de fibras, é imunomoduladora e proporciona melhora na saúde óssea. Com sabor agradável, de nozes, diferentes de outras proteínas vegetais que nem sempre possuem um paladar agradável, “com ausência de THC (-0,3%)”, a proteína do cânhamo é uma excelente opção para dietas baseadas em plantas, possuindo 20 aminoácidos (sendo 9 essenciais) e ácidos graxos essenciais, completa Dr.ª Brenda Sá, que apresentou algumas usabilidades das proteínas, sementes e óleo de cânhamo, além de uma receita caseira de Leite Cânhamo, que você confere abaixo:
– Receita de leite de cânhamo caseiro
Rendimento: 4 copos
Ingredientes:
- 4 xícaras de água filtrada
- 1\2 xícara de sementes de cânhamo já descascadas
- 4 Tâmaras
- Canela em pó
Modo de Preparo:
Bata todos os ingredientes em um liquidificador até que as sementes de cânhamo sejam completamente quebradas. Coe antes de consumir.
Uso Veterinário
No Brasil, o uso da medicina canabinoide é muito mais comum em humanos que em animais, porém é algo que começa a mudar devido a conduta compassiva de profissionais como Dr. Tarcísio Barreto, o médico veterinário que emocionou toda platéia no Delta9. Com o público secando lágrimas, Dr. Tarcísio ilustrou por fotos e vídeos vários casos de animais com doenças e condições debilitantes, que devido ao uso dos canabinoides proporcionam bem-estar, qualidade, e em muitos casos prolongamento do tempo de vida dos animais, renovando as esperanças de seus donos.
Inicialmente, o uso do canabidiol (CBD) era utilizado somente em tratamentos para doenças como epilepsia, em alguns casos veterinários, mas à medida que as pesquisas foram se aprofundando, descobriu-se uma vasta aplicabilidade, na qualidade de vida e no tratamento de animais. O mesmo sistema endocanabinoide encontrado em humanos também é achado em cães, gatos, macacos, entre outros animais; regulando e promovendo o equilíbrio do sistema nervoso central, atuando como ansiolítico, neuroprotetor, imunomodulador e analgésico.
Segundo Dr. Barreto, o canabidiol passou a ser usado nos tratamentos veterinário no controle de convulsões, síndromes cognitiva, cinomose, poliradiculoneurite (Síndrome de Guillain-Barré). Atualmente há centenas de milhares de animais no mundo utilizando o CBD no tratamento de doenças degenerativas, dores crônicas, tratamentos oftalmológicos, além de auxiliar no tratamento do câncer. Países como Canadá, EUA, França, Uruguai e Brasil já possuem legislações para uso medicinal veterinário.
Tarcísio Barreto, acredita que através do uso da maconha em casos veterinário ajudará a desmistificar toda a imagem negativa da planta. Quando a sociedade ver os benefícios da medicina canabinoides nos animais, verá o quão benéfica é a cannabis. Segundo Dr. Barreto, todo médico veterinário pode prescrever canabinoides desde que se registrem no Ministério da Agricultura.
Não espere precisar para apoiar
Ainda pela manhã, a empreendedora Viviane Sedola apresentou a plataforma Dr. Cannabis, mostrando as funcionalidades de unir paciente a médicos prescritores, e fez um convite à sociedade médica potiguar para que se inscreva na plataforma, já que uma das dificuldades da região são profissionais que receitem cannabis. Sedola apresentou também o novo marketplace da plataforma, com três marcas de produtos, com comercialização no Brasil.
Pela tarde, o palco do Delta9 recebeu o médico acupunturista Pedro Mello, que abordou o uso da cannabis como uma alternativa mais segura que opioides no tratamento da dor. Na sequência, o neurocientista, professor e diretor do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Sidarta Ribeiro falou sobre a história e os usos da maconha, além de ressaltar os avanços nos estudos e pesquisas tanto no Brasil como no mundo.
“A maconha está para a medicina do século 21 como os antibióticos estiveram para a medicina do século 20: uma revolução”, exclamou Sidarta Ribeiro.
Para o especialista, os possíveis nomes a receber o Prêmio Nobel de Medicina seriam Raphael Mecchoulan e Elisaldo Carlini, ambos pioneiros nas descobertas do sistema endocanabinoide e dos benefícios dos canabinoides.
Para encerrar o IV Festival Delta9, Felipe Farias – organizador do evento e presidente da ONG Reconstruir Cannabis (RN) – abordou a evolução de acontecimentos e eventos da cannabis medicinal no Brasil, como a consulta pública na ANVISA, Salvo Condutos concedidos a pessoas como Marcia Pacheco, a primeira paciente de cannabis medicinal com permissão para cultivar a planta para tratar o Mal de Parkinson.
Na visão dele, o público desta edição do Fórum Delta9 foi abrangente, com pacientes e empresários interessados nos assuntos discutidos. Sob o tema desta edição Cannabis Medicinal: não espere precisar para apoiar, Farias crê que a proposta do Delta9 é proporcionar ao público cada vez mais palestras que propaguem os diversos benefícios da planta.
Apesar da ONG Reconstruir possuir 106 associados e uma fila de espera de 200 pacientes, teve no ano passado negado na Justiça o direito para cultivar, produzir e fornecer extratos e óleos à base de cannabis a seus pacientes, como a Abrace Esperança, na Paraíba. Atualmente, as maiores dificuldades da região Nordeste são de encontrar profissionais prescritores e suporte aos pacientes que necessitam do medicamento.
Festival Delta9
No domingo, dia 11, o Festival Delta9 realizou sua segunda edição em um Castelo em plena Natal, com um workshop de cultivo medicinal e uma ampla programação de atrações musicais. O público pôde conferir ainda produtos e serviços de marcas apoiadoras do Festival, como a Bem Bolado Brasil.
Confira, a seguir, as fotos do evento pela lente da fotógrafa Alícia Patriota. Um salve especial a todxs nordestinxs que receberam a Smoke Buddies com imenso carinho. ?
IV Fórum Delta9:
II Festival Delta9:
#PraCegoVer: Imagem em destaque, mostra várias pessoas ao redor, observando e fotografando um pé de cannabis, exposto na 4ª Ed. do Fórum Delta9. Foto: Alícia Patriota.
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