Feira sobre maconha medicinal reuniu cientistas, médicos e investidores em Israel

As pesquisas em torno das aplicações terapêuticas da maconha concentram-se em apenas dois de seus 130 componentes e, ainda assim, o mercado da cannabis medicinal já é um negócio bilionário que atrai a atenção de profissionais de diversas áreas como pôde ser visto no CannaTech, uma das maiores feiras internacionais do segmento que aconteceu essa semana em Tel Aviv, Israel. As informações são d’O Globo.

Uma das maiores feiras internacionais do segmento da cannabis medicinal aconteceu esta semana no porto de Tel Aviv, em Israel. Na pauta do CannaTech, que reuniu mais de 800 visitantes de 40 países, incluindo o Brasil, estavam os avanços científicos e os desafios técnicos e mercadológicos da indústria, ao mesmo tempo promissora e estigmatizada. O público era formado por investidores, médicos, cientistas, empresários das áreas farmacêutica, tecnológica e agrícola.

— Há uma revolução a caminho, mas ela ainda precisa vencer diversas barreiras, quebradas aos poucos com a descriminalização da erva — afirmou Chris Walsh, editor da revista e do portal canadense “Marijuana Business Daily”, que conta com mais de 2 milhões de assinantes. — Um dado importante: muitas grandes indústrias de segmentos como agrícola e farmacêutico estão entrando no jogo. Veremos uma mudança interessante nos próximos tempos.

Mercado movimenta US$ 20 bilhões

A cannabis medicinal movimenta atualmente US$ 20 bilhões e a previsão é que alcance US$ 60 bilhões até 2020, segundo dados da incubadora israelense iCan que reúne, além da CannaTech, outras quatro start-ups dentro desse segmento. Hoje, os Estados Unidos detêm o maior mercado, tendo sido também o primeiro país a aprovar a legalização da cannabis com fins medicinais, em 1996, na Califórnia. Atualmente, 29 estados americanos têm um programa médico oficial, e oito descriminalizaram o consumo.

Poucos países, no entanto, já estabeleceram um programa médico nacional e os números ainda são pouco representativos. No Canadá, por exemplo, são atendidos 250 mil pacientes, enquanto em Israel são apenas 25 mil. É sabido, no entanto, que essa cifra crescerá no momento em que alguns grandes gargalos dessa indústria forem solucionados, a começar pela quebra de paradigmas dos profissionais de saúde.

— Em Israel, o tratamento com cannabis só é cogitado pelo médico depois que fracassam todas as alternativas clínicas. É preciso que o mercado aprenda a falar a língua desses profissionais para que eles enxerguem no produto uma forma eficaz de tratar seus pacientes — afirmou Yona Levy, CEO da Alvit LCS Pharma, indústria farmacêutica com atuação em Israel, Estados Unidos e Colômbia.

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Mais de 800 pessoas, entre investidores, médicos, cientistas e empresários, estiveram presentes no evento. Foto: Tal Pais – Photogenim.

Tabletes e biscoitos, no lugar do fumo

O tratamento atualmente está restrito a algumas doenças e a ampliação de sua aplicação depende da velocidade dos resultados de pesquisas científicas, ainda incipientes. A planta tem sido utilizada com resultados em pacientes com autismo e epilepsia — entre eles, um grande percentual de crianças —, doenças inflamatórias do sistema digestivo (a empresa israelense Tikun Olam, um das líderes mundiais, recentemente conseguiu remissão total em caso de Síndrome de Crohn), e para alívio de pacientes com câncer e Aids

— Nossos próximos produtos serão voltados ao tratamento de enxaqueca e demência — anunciaram os pesquisadores da Tikun Olam durante a feira.

A indústria da cannabis está focada na oferta de diferentes “mídias” para os canabinoides.

— Muitos dos novos pacientes nos Estados Unidos, por exemplo, têm mais de 55 anos, nunca fumaram nada antes e não querem começar agora— afirmou Matei Olau, editor do portal canadense Civilized.

Na CannaTech, era possível conhecer tabletes de cannabis com sabores que agradam o público infantil, nebulizadores de ambiente, estufas verticais para plantio doméstico, biscoitos, óleos e sprays.

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Processos mais lentos

Cientistas envolvidos nas pesquisas com a cannabis medicinal afirmam que ainda não se imagina a vastidão do horizonte de tratamentos possíveis. Segundo Ben Yellin, pesquisador do Instituto de Tecnologia Israelense – Technion, “hoje as pesquisas estão focadas em dois dos 130 componentes da cannabis, o THC (psicoativo) e o CBD (terapêutico), e ainda em estágio inicial. Como há muita política ao redor desse tema, todos os processos são muito mais lentos”.

Por ser um mercado novo, cada centro de pesquisas atua de forma independente, o que gera insegurança em investidores e usuários em potencial.

— Todo mundo está livre para divulgar seus próprios resultados e, mesmo que eles sejam errados, não há base científica para rebatê-los — destacou Yellin.

As pesquisas realizadas pela empresa BDS Analytics em 2017 mostram que o perfil atual do usuário de cannabis nos Estados Unidos está mudando. Já não são jovens, hippies e desocupados, como prega o antigo estereótipo. Um dos grupos mais marcante é o formado por mulheres de 25 a 44 anos que preferem a versão comestível do produto, como balas, bolos e cookies, já disponíveis em alguns mercados.

Questão de tempo para mercado se estabelecer

Mesmo frente aos grandes desafios – em especial o da regulamentação tanto de países exportadores como importadores –, para os defensores desse setor trata-se apenas de uma questão de tempo para que ele se estabeleça em todo o mundo. E já pensam adiante.

— A Cannabis está rapidamente se profissionalizando como um remédio eficiente — afirmou um dos papas do mercado, Steve DeAngelo, em sua apresentação na CannaTech. — Depois disso, naturalmente chegará a hora de explorar o seu potencial de ‘cura social’ e usá-la como uma resposta aos terríveis problemas sociais que enfrentamos. A cannabis certamente será parte da resposta para a redução da violência e do racismo, entre outros males.

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