“Nada para nós sem nós”: federação une associações de cannabis no Brasil

Foto em vista superior que mostra buds secos de cannabis dispostos sobre uma superfície lisa de cor salmão, com luz indireta que incide do lado superior direito da imagem, sombreando cada bud. Imagem: THCamera Photo. Legalização empresas

Com lastro em valores como acolhimento, solidariedade e horizontalidade, a Federação das Associações de Cannabis Terapêutica, ou Fact, une dezenas de organizações com o intuito de propor uma nova política de drogas nacional

“Somos todos uma comunidade que se relaciona com a planta que, antes da proibição, era acessível e existia nos quintais”, explica Sheila Geriz, porta-voz da Fact, acrônimo da Federação das Associações de Cannabis Terapêutica, que nasce em 2021 com a proposta de transformar a política de drogas do Brasil a partir do uso terapêutico da maconha.

Em entrevista ao podcast ‘De Ponta a Ponta’, em que participou também o coordenador de comunicação da federação, Pedro Sabaciauskis, Sheila, que fundou em 2015 a primeira associação de cannabis com fins terapêuticos no país, a Liga Canábica, na Paraíba, explica o movimento de união de coletivos: “havia o desejo e a necessidade de se agrupar, de se organizar, de ter um corpo que dissesse para o Brasil o que a gente quer, quais são as nossas necessidades, que proposta de regulação a gente tem”, conta. “É um caminhar junto de todas as associações, desde as maiores até as que estão nascendo agora”.

Além de orientar e oferecer apoio às organizações sem fins lucrativos de cannabis, a federação acolhe e fomenta a criação de novas iniciativas. “A Fact tem um pré-requisito que é ter CNPJ”, explica Pedro. “E algumas associações estão começando agora, outras têm dificuldade documental, e a ideia é que o Núcleo Operacional de Acolhimento (NOA) seja para associações, pacientes ou entidades que queiram ajudar”.

Como uma espécie de “grupo de acesso”, o NOA oferece suporte às associações ainda não filiadas. Às que já são membros da Fact, os suportes científico, jurídico e burocrático dão segurança e respaldo para que as organizações cumpram seus papéis políticos.

“Nós temos pelo menos quatro perfis de associações: empreendedoras, como a Abrace, as de mães, as culturais, como a ACuCa, e as científicas que estão aparecendo”, conta Pedro.

Isso significa que o desafio da federação é unificar pautas singulares e regionais em um discurso coeso, que compreenda a complexidade da lei de drogas em várias nuances, não apenas no âmbito do uso terapêutico, e proponha ações para políticas públicas resolutivas dentro da questão. “Nessa propositura, tentar garantir o acesso da forma mais ampla possível, por isso que a gente defende o cultivo doméstico”, diz Sheila.

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“É pegar a batalha de cada um e mexer com elas juntos: jurídica, questão pública, política, são várias ações”, conta Pedro. Para isso, a federação, que opera em sociocracia, metodologia organizacional que é horizontal e leva em conta a construção coletiva a partir de opiniões individuais, criou os núcleos de Coordenação Geral, Administrativo-financeira, Institucional, Científica e de Comunicação, que devem se articular de acordo com as principais necessidades das associações — que, de acordo com Pedro, passam por “reconhecimento” e “fomento”.

“Nada para nós sem nós”, diz Sheila, que explica a importância de incluir as associações na construção das políticas públicas que regulamentam o cultivo da cannabis, como o PL 399, que não estipula regras claras nem considera o contexto das organizações, muitas pequenas e sem recursos, no modelo proposto. “A gente espera que haja adaptações no projeto de modo a considerar as associações como entidades sem fins lucrativos que acolhem e atendem os pacientes e por isso precisam cultivar”.

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Afinal, como as associações de pacientes querem a regulação da cannabis medicinal?

#PraCegoVer: foto em vista superior que mostra buds secos de cannabis dispostos sobre uma superfície lisa de cor salmão, com luz indireta que incide do lado superior direito da imagem, sombreando cada bud. Imagem: THCamera Cannabis Art.

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Sobre Thaís Ritli

Thaís Ritli é jornalista especializada em cannabis e editora-chefe na Smoke Buddies, onde também escreve perfis, crônicas e outras brisas.
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