Exposição pré-natal ao CBD ou THC afeta capacidade de resposta à fluoxetina
Estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Indiana com camundongos observou que a exposição materna aos canabinoides resultou em impacto duradouro na prole adulta, prejudicando sua capacidade de responder à droga
Cientistas da Universidade de Indiana (IU), nos EUA, descobriram que quantidades significativas dos dois principais componentes da cannabis, THC e CBD, entram no cérebro embrionário de camundongos no útero e prejudicam a capacidade dos roedores, quando adultos, de responder à fluoxetina, uma droga comumente usada para tratar ansiedade e depressão e conhecida pela marca Prozac.
O estudo sugere que, quando o cérebro em desenvolvimento é exposto ao THC ou CBD, as interações normais entre os endocanabinoides e a sinalização da serotonina podem diminuir à medida que se torna adulto.
“O CBD derivado do cânhamo é uma substância legal nos EUA e estamos em um momento de crescente legalização da cannabis em nível estadual. Portanto, o uso de componentes da cannabis aumentou na maioria dos níveis da sociedade, inclusive entre mulheres grávidas”, disse Hui-Chen Lu, autora do estudo, diretora do Linda and Jack Gill Center e professora do Departamento de Ciências Psicológicas e do Cérebro da Faculdade de Artes e Ciências da IU Bloomington. “O estudo marca o início de um esforço para compreender os efeitos do THC e do CBD no sistema canabinoide endógeno no cérebro e corpo em desenvolvimento.”
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O estudo foi publicado na Cannabis and Cannabinoid Research e fará parte do próximo Gill Symposium, que será realizado em setembro deste ano e se concentrará exclusivamente no tópico da cannabis.
Os pesquisadores estudaram quatro grupos de camundongas grávidas. Algumas receberam doses moderadas diárias de THC, CBD ou uma combinação de partes iguais de THC e CBD; um grupo de controle recebeu injeções de placebo durante a gravidez. Usando espectrometria de massa, a professora de ciências psicológicas e cerebrais da IU, Heather Bradshaw, testou embriões e descobriu que o CBD e o THC podiam atingir o cérebro embrionário, determinando que a droga estava passando pela placenta.
“A parte surpreendente é que a exposição materna apenas ao CBD — uma droga frequentemente considerada segura e inofensiva e uma terapia ‘natural’ popular para os enjoos matinais — resultou em um impacto duradouro na prole de camundongos adultos”, disse Lu. “A exposição pré-natal tanto ao THC quanto ao CBD prejudicou a capacidade do adulto de responder à fluoxetina. Os resultados sugerem uma abordagem cautelosa ao uso do CBD durante a gravidez”.
Existem algumas evidências da eficácia do CBD no tratamento da dor crônica e da ansiedade, embora a única indicação aprovada pela FDA (agência sanitária dos EUA) para o CBD até o momento seja o tratamento de distúrbios convulsivos graves.
“Ainda sabemos muito pouco sobre os efeitos do CBD no cérebro em desenvolvimento”, disse Lu.
O novo artigo é um dos primeiros estudos a observar o potencial impacto negativo do CBD no cérebro em desenvolvimento e em comportamentos posteriores.
O coautor do estudo Ken Mackie, Presidente Gill de Neurociência na IU Bloomington, disse que os pesquisadores sabem que a exposição pré-natal à cannabis pode aumentar o risco de ansiedade e depressão, por isso é importante avaliar a resposta a uma classe de droga usada para tratar ansiedade e depressão.
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Enquanto muitos dos testes refletiram o comportamento normal do camundongo, um teste — para determinar sua resposta ao estresse — se destacou fortemente como atípico. Os camundongos em todos os grupos responderam normalmente a uma situação estressante. Como esperado, a fluoxetina aumentou a resiliência ao estresse em camundongos cujas mães receberam o placebo. No entanto, a droga foi ineficaz em camundongos cujas mães receberam THC, CBD ou sua combinação.
A fluoxetina atua aumentando a quantidade de serotonina disponível nas sinapses cerebrais, um efeito conhecido por requerer o sistema endocanabinoide. Este sistema interno de receptores, enzimas e moléculas medeia os efeitos da cannabis e desempenha um papel na regulação de vários sistemas corporais, como apetite, humor, estresse e dor crônica.
Para testar se a exposição materna ao THC e/ou CBD prejudicou a sinalização de endocanabinoides na prole adulta, os pesquisadores testaram se administrar uma droga para impulsionar o sistema endocanabinoide restauraria a eficácia da fluoxetina. Eles descobriram que o estímulo do sistema endocanabinoide restaurou as respostas normais à fluoxetina em camundongos que receberam THC ou CBD enquanto seus cérebros estavam se desenvolvendo.
Outros autores do estudo são Izaque de Sousa Maciel, Gabriel de Abreu, Clare Johnson e Rida Bonday, todos do Gill Center e do Departamento de Ciências Psicológicas e do Cérebro da IU.
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#PraTodosVerem: fotografia mostra uma fila de cápsulas de cor azul e branca, em pé, no meio de duas miniaturas de pessoas com uniforme azul, em uma superfície azul-claro que se mistura ao fundo da imagem. Crédito: Marco Verch | Flickr.
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