Exame toxicológico já flagrou 170 mil motoristas usuários habituais de drogas

Fotografia que mostra um pequeno tubo de laboratório com tampa azul sendo segurado próximo da câmera e vários outros com tampas coloridas sobre uma superfície branca, ao fundo, desfocado. Imagem: Belova59 | Pixabay.

Dados fazem parte de estudo do programa SOS Estradas, voltado à redução de acidentes e segurança nas rodovias. As informações são do Estadão

Obrigatório desde 2016, o exame toxicológico para motoristas de ônibus, vans e caminhões já flagrou, desde então, em todo o Brasil, 170 mil condutores que eram usuários habituais de drogas. Quase metade deles dirigia veículos de transporte coletivo; a prevalência (67%, dois em cada três, nesses casos) foi por consumo de cocaína. Os dados fazem parte de estudo do programa SOS Estradas, voltado à redução de acidentes e aumento da segurança nas rodovias. A adoção da análise toxicológica gerou redução do número de motoristas das categorias C, D e E (habilitados a conduzir cargas, micro-ônibus, ônibus e reboques). Eles não renovaram habilitações por temer o resultado, afirmam especialistas.

As informações sobre o exame foram divulgadas antes do fim do prazo para o presidente Jair Bolsonaro sancionar ou vetar o PL do Trânsito aprovado pelo Congresso. A obrigatoriedade do teste consta do texto votado pelo Legislativo. O presidente propusera o fim da análise, alegando a necessidade de reduzir burocracia e custos. Responsáveis pelo SOS Estradas, porém, defendem que o dispositivo não seja vetado. Atualmente, a análise é feita na primeira habilitação de motoristas das categorias C, D e E e na admissão e demissão dos condutores por transportadoras ou empresas de ônibus.

Exames toxicológicos também são feitos, eventualmente, de forma aleatória. Além de multa, quem for flagrado tem a carteira imediatamente suspensa.

A análise, realizada a partir de um fio de cabelo ou de um fragmento de unha, é capaz de detectar se houve consumo de drogas nos 90 dias anteriores ao exame. Ela identifica não apenas o consumo eventual, mas principalmente aquele feito de forma corriqueira. Motoristas profissionais muitas vezes recorrem a drogas para se manterem alertas e conseguirem dirigir por muitas horas consecutivas. Não raro, atravessam dias sem dormir — um risco enorme para a segurança do trânsito.

Leia mais: Motoristas reclamam de erros em resultados de exames toxicológicos no RS

“É importante ressaltar que estamos falando de uma minoria, mas ainda assim uma minoria considerável”, alerta Rodolfo Rizzotto, que coordena o SOS Estradas. “A maioria dos motoristas é favorável ao exame. Além de afetar a segurança do trânsito, em geral quem recorre às drogas para poder dirigir por mais tempo oferece fretes a custo muito mais baixo, o que acaba influenciando na tabela de preços de todo mundo”.

Foi também um levantamento do SOS Estradas que apontou que, desde que o exame se tornou obrigatório, o número de habilitações nas três categorias caiu. Passou de um histórico de alta para queda — enquanto a frota de veículos pesados aumentou.

Em dezembro de 2015, último ano antes da obrigatoriedade do exame toxicológico, o país tinha 13,1 milhões de habilitados nas categorias C, D e E. A frota era de 2,35 milhões de veículos pesados. Em maio deste ano, nos primeiros meses da pandemia, o total de habilitados havia caído para 11,55 milhões. A estimativa de frota em dezembro passado, dado mais recente, era de 2,41 milhões de veículos pesados.

Para Rizzotto, a queda de habilitados está diretamente ligada ao medo dos motoristas serem flagrados.

“Quem consumiu drogas sabe que será pego e que ficará sem poder dirigir. Querer fazer ou renovar a habilitação nessas condições é como se você fosse parado numa blitz e, bêbado, pedisse para fazer o teste do etilômetro“, compara.

A Associação Brasileira de Caminhoneiros (Abcam), que reúne 54 afiliadas e representa 600 mil caminhoneiros, declara-se a favor da manutenção do exame toxicológico. Mantém essa posição mesmo que a exigência resulte em custos para empresas e, muitas vezes, para o próprio motorista.

Em carta aberta, a entidade ressalta que seus motoristas já enfrentam riscos inerentes à profissão, mas que podem ser “potencialmente aumentados pela agressiva competição do mercado que leva alguns profissionais ao uso de substâncias psicoativas”.

O texto diz ainda que, após o exame se tornar obrigatório, “muitos motoristas profissionais decidiram abandonar as drogas e com isso estão recuperando sua saúde, dignidade e convívio saudável com suas famílias e colegas”.

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