Estudo relaciona tolerância ao efeito da maconha a uso contínuo

Fotografia que mostra as mãos de um homem bolando um cigarro de maconha no papel de seda e, ao fundo, fora de foco, pode-se ver parte de sua camiseta com estampa de uma figura indígena com a área dos olhos pintada em vermelho. Maconheiro

Uma pesquisa publicada na revista científica Addiction Biology mostra que a tolerância à cannabis não é um estado final permanente, alcançado após o uso crônico, mas sim um estado temporário de sensibilidade reduzida em consequência da exposição à maconha. As informações são do PsyPost, com tradução pela Smoke Buddies

Uma nova pesquisa descobriu que a tolerância à cannabis está ligada a alterações neurometabólicas no circuito de recompensa do cérebro. As descobertas, publicadas na revista científica Addiction Biology, ajudam a explicar por que os efeitos da cannabis são menos proeminentes em usuários frequentes de maconha.

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“A cannabis é a droga ilícita mais comumente usada no mundo, com 4% da população global usando a substância. No entanto, devido a um panorama jurídico em mudança e ao crescente interesse na utilidade terapêutica, há uma tendência crescente no uso (a longo prazo)”, disse Natasha L. Mason, candidata a PhD na Universidade de Maastricht e a coautora do estudo.

“É importante ressaltar que um crescente corpo de evidências sugere que os efeitos agudos da cannabis são menos proeminentes em usuários regulares de cannabis, sugerindo desenvolvimento de tolerância aos efeitos recompensadores da droga”, diz. “Embora esse desenvolvimento de tolerância esteja bem estabelecido, os mecanismos neurobiológicos subjacentes a ele não são”.

“Esses mecanismos neurobiológicos são importantes para elucidar, tanto no contexto do uso terapêutico de medicamentos à base de cannabis (por exemplo, na decisão da dose no tratamento a longo prazo) quanto no contexto da saúde pública e segurança do uso de cannabis ao realizar operações diárias (por exemplo, no desenvolvimento de leis de trânsito)”, afirmou Mason.

No estudo duplo-cego, 12 usuários ocasionais e 12 frequentes de maconha consumiram a substância ou um placebo antes de realizar exames de imagem cerebral. Os participantes também fizeram medição de seus tempos de reação e lapsos de atenção, juntamente com uma avaliação de sua brisa.

Os pesquisadores observaram diferenças significativas entre os usuários ocasionais, que consumiram cannabis de 1 vez por mês a 3 vezes por semana, e os usuários frequentes, que consumiram a droga pelo menos 4 vezes por semana. Em particular, a cannabis resultou em alterações no circuito de recompensa do cérebro, incluindo a diminuição da conectividade funcional, em usuários ocasionais. Mas essas mudanças estavam ausentes em usuários crônicos.

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“Em usuários ocasionais, descobrimos que a cannabis alterou os circuitos do sistema de recompensa no cérebro, o que está associado às nossas medidas comportamentais (aumento da brisa e diminuição da atenção prolongada). Essas mudanças estavam ausentes nos usuários crônicos de maconha, que não mostraram alterações cerebrais ou comprometimento cognitivo”, disse Mason ao PsyPost.

“A descoberta de que a cannabis alterou os circuitos de recompensa e distorceu o comportamento em usuários ocasionais, mas não em usuários crônicos, sugere que a falta de resposta comportamental à intoxicação por cannabis em usuários crônicos ocorre devido a um embotamento da capacidade de resposta em seus circuitos de recompensa, identificando-se um mecanismo neurobiológico de tolerância. A tolerância à cannabis não é um estado final permanente que é alcançado após o uso crônico de cannabis, mas sim um estado temporário de sensibilidade reduzida à exposição à cannabis, que flutua dinamicamente através do espectro ‘total-a-nenhuma’ experiência dos efeitos da cannabis, dependendo do padrão de uso de cannabis”, acrescentou Mason.

“No entanto, pouco se sabe sobre os padrões e motivos de uso de cannabis subjacentes a esses padrões entre usuários médicos e recreativos, e o impacto das mudanças nos padrões de uso de cannabis não foi estudado em laboratório. Portanto, o conhecimento sobre a frequência, dose e duração do uso de cannabis necessários para alcançar, manter ou diminuir a tolerância é muito limitado, mas será de importância no contexto da terapêutica da cannabis e nos ajustamentos legais ao avaliar o impacto da exposição à cannabis no ser humano”.

O estudo “A capacidade de resposta reduzida do sistema de recompensa está associada à tolerância ao comprometimento da cannabis em usuários crônicos” é de autoria de Natasha L. Mason, Eef L. Theunissen, Nadia R.P.W. Hutten, Desmond H.Y. Tse, Stefan W. Toennes, Jacobus F.A. Jansen, Peter Stiers e Johannes G. Ramaekers.

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#PraCegoVer: em destaque, fotografia que mostra as mãos de um homem bolando um cigarro de maconha no papel de seda e, ao fundo, fora de foco, pode-se ver parte de sua camiseta com estampa de uma figura indígena com a área dos olhos pintada em vermelho. Foto: Luiz Michelini.

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