Nova abordagem sobre o “barato do corredor”: estudo explora como a maconha afeta os treinos

Fotografia mostra Laurel Gibson de máscara branca e fazendo anotações nas folhas de uma prancheta, próximo a Heather Mashhoodi, que corre em uma esteira utilizando um cinto de segurança na cintura, e um biombo japonês branco com desenhos de plantas em preto fechando a composição, ao fundo. Foto: Patrick Campbell / CU Boulder.

Um estudo inédito na Universidade do Colorado em Boulder pretende descobrir como a cannabis de fato influencia a atividade física — se atrapalha ou melhora o desempenho — e irá recrutar mais de 50 voluntários adultos pagos que já misturam maconha e exercícios. Saiba mais com as informações traduzidas pela Smoke Buddies, a seguir

Como uma ultramaratonista que cobre até 160 quilômetros por semana durante o treinamento de pico, Heather Mashhoodi precisa ser criativa para fazer os quilômetros passarem mais rápido.

Ela ouve podcasts e livros de áudio e absorve a beleza natural. E quando seu entusiasmo começa a diminuir no meio da corrida, ela coloca metade de uma goma com infusão de maconha na boca.

“Quando eu corro por muito tempo, essa coisa naturalmente entra em ação e torna as cores mais brilhantes e meus pensamentos mais claros e me deixa mais emocionalmente afinada”, diz Mashhoodi, 31 anos. “Quando eu uso cannabis e corro, eu consigo sentir isso com uma quilometragem um pouco menos intensa.”

Mashhoodi está entre um número crescente de atletas que misturam maconha com exercícios, seja para estimular a motivação, facilitar a recuperação ou encontrar mais prazer nos exercícios.

Leia também: Uso terapêutico da maconha poderia beneficiar mais de 800 mil atletas

Com a falta de pesquisas, os cientistas não têm certeza de como o tetraidrocanabinol (THC) e o canabidiol (CBD) — os dois principais ingredientes ativos da maconha — influenciam a atividade física. Mas, na esteira da suspensão olímpica da velocista Sha’Carri Richardson por testar positivo para maconha (uma substância proibida pelas regras da Agência Mundial Antidoping), a questão se tornou um assunto de muito debate científico: a cannabis melhora ou atrapalha o desempenho? Ou ambos? E se sim, como?

Um estudo inédito na Universidade do Colorado em Boulder visa lançar luz.

“Até o momento, não há estudos em humanos sobre os efeitos da cannabis do mercado legal sobre a experiência do exercício”, disse Laurel Gibson, estudante de doutorado no Departamento de Psicologia e Neurociência e investigadora principal do estudo. “É aí que entramos.”

Running in SPACE (correndo no espaço)

O estudo SPACE (Estudo sobre Atividade Física e Efeitos da Cannabis) irá recrutar mais de 50 voluntários adultos pagos que já misturam cannabis e exercícios para um estudo envolvendo três sessões. Na primeira, os pesquisadores medem a frequência cardíaca, fazem os participantes responderem a um questionário e fazem algumas medições de condicionamento físico. Em seguida, os participantes são designados a ir a um dispensário local e obter uma variedade de maconha dominante em CBD ou dominante em THC.

Em uma visita de acompanhamento, eles voltam, sóbrios, para correr na esteira por 30 minutos, respondendo a perguntas a cada 10 minutos para avaliar coisas como sua percepção da passagem do tempo, quão difícil é o treino, no que estão pensando, e quanta dor eles estão sentindo. Em outra visita, eles fazem o mesmo, só que ficam chapados antes de ir.

A lei federal proíbe o porte ou distribuição de maconha em campus universitários, então os sujeitos a usam em casa, antes que um pesquisador os pegue em um laboratório móvel — uma van Dodge Sprinter branca às vezes chamada de “cannavan” — e os leve em segurança para o laboratório. Outra medida de precaução: o corredor usa um cinto de segurança preto na cintura na esteira.

Ao comparar sessões sóbrias com sessões incluindo cannabis, Gibson e seus colegas esperam dar sentido a uma contradição desconcertante na pesquisa sobre a cannabis.

“A cannabis é frequentemente associada a uma diminuição da motivação — aquele estereótipo de preso ao sofá e preguiça”, disse Gibson. “Mas, ao mesmo tempo, estamos vendo um número crescente de relatos anedóticos de pessoas que a usam em combinação com tudo, desde golfe e yoga a snowboard e corrida.”

Saiba mais: Mito do maconheiro preguiçoso é destruído pela ciência

Um estudo da CU Boulder descobriu que 80% dos usuários de cannabis misturam maconha e malhação, com 70% dizendo que aumenta o prazer, 78% dizendo que aumenta a recuperação e 52% dizendo que os motiva. Curiosamente, outro estudo com adultos mais velhos descobriu que quem usava maconha fazia mais exercícios do que quem não usava.

“À medida que envelhecemos, os exercícios começam a doer, e esse é um dos motivos pelos quais os adultos mais velhos não se exercitam tanto”, disse Angela Bryan, professora de psicologia e neurociência e orientadora do corpo docente de Gibson no estudo SPACE, observando que os canabinoides têm propriedades anti-inflamatórias e analgésicas. “Se a cannabis pudesse aliviar a dor e a inflamação, ajudando os adultos mais velhos a serem mais ativos, isso poderia ser um benefício real.”

Nova abordagem sobre o “barato do corredor”

Ainda mais intrigante, alguns estudos sugerem que não são as endorfinas as responsáveis ​​pelo famoso “barato do corredor”, mas os canabinoides endógenos, substâncias químicas cerebrais semelhantes aos canabinoides produzidos naturalmente que entram em ação após um período de exercício, ligando-se a receptores no cérebro para nos deixar eufóricos e alertas. Ao ingerir CBD ou THC, que se ligam a esses mesmos receptores, os atletas podem, como Mashhoodi descreve, melhorar ou obter uma vantagem sobre essa sensação boa.

Veja também: Ficar chapado antes do exercício é o segredo para seguir uma rotina fitness

“É possível que canabinoides exógenos como THC ou CBD possam ativar o sistema endocanabinoide de uma forma que imite o barato do corredor”, disse Gibson.

Os pesquisadores são rápidos em notar que a cannabis também está associada a efeitos negativos, incluindo paranoia, confusão e ansiedade. Eles também procurarão esses efeitos.

Em última análise, eles esperam que suas descobertas possam ajudar a informar as discussões em todos os lugares, desde os consultórios médicos até os órgãos reguladores do esporte, que em breve estarão reavaliando se a maconha deve permanecer listada como uma “substância proibida” em parte por causa de seu potencial para melhorar o desempenho.

Mashhoodi, uma das primeiras a se inscrever no estudo, disse que não acredita que a cannabis ofereça qualquer benefício de desempenho. Ela disse que não corre mais rápido ou mais longe quando está chapada. Mas ela sente menos dores nas articulações e, psicologicamente, os benefícios são claros.

Ela está ansiosa para ver o que o estudo revela.

“Para mim, é emocionante participar”, disse Mashhoodi. “Sabemos tão pouco e há muito que precisamos aprender.”

Leia mais:

“Maconha interior”: saiba o que é e como ela regula da memória ao apetite

#PraTodosVerem: fotografia mostra Laurel Gibson de máscara branca e fazendo anotações nas folhas de uma prancheta, próximo a Heather Mashhoodi, que corre em uma esteira utilizando um cinto de segurança na cintura — os participantes do estudo estão isentos da exigência de máscara enquanto estiverem na esteira —, e um biombo japonês branco com desenhos de plantas em preto fechando a composição, ao fundo. Foto: Patrick Campbell / CU Boulder.

Deixe seu comentário
Assine a nossa newsletter e receba as melhores matérias diretamente no seu email!