Estudantes gaúchas extraem canabidiol da arruda para tratamento de Parkinson

Fotografia de uma flor de arruda, com pétalas e estames amarelos, e três pequenos botões em sua base, além de algumas folhas da planta que se vê mais abaixo, em fundo marrom-escuro. Crédito: Jee & Rani Nature Photography | Wikimedia Commons.

As duas alunas da cidade de Carlos Barbosa participam da final da 19ª edição da Feira Brasileira de Ciências e Engenharia. As informações são do Pioneiro / GZH

Entre os 345 projetos finalistas na maior feira pré-universitária de Ciências e Engenharia do país, quatro são de estudantes da Serra Gaúcha. Cinco alunas de Caxias do Sul, sendo quatro do Centro Tecnológico Universidade de Caxias do Sul (CETEC UCS) e uma do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS), além de duas da Escola Estadual de Ensino Médio Elisa Tramontina, de Carlos Barbosa, participam da final da 19ª edição da Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace).

Neste ano, o evento científico ocorre de forma on-line, desde o dia 15 de março, e segue até a próxima sexta-feira (26). Os projetos finalistas serão julgados e premiados pela criatividade e rigor científico, em evento a ser transmitido pelo Youtube no próximo sábado (27). Ao todo, o Rio Grande do Sul está com 31 projetos na final da Febrace.

Para Camila Mendonça de Freitas, 19 anos, que está finalizando o curso técnico em Química no IFRS, chegar com destaque na feira é a realização de um desejo. O seu projeto, denominado “Casca de pinhão (Araucaria angustifolia) como agente redutor e estabilizante para obtenção de nanopartículas de prata de maneira ambientalmente sustentável”, contou com a orientação do professor Josimar Vargas.

— Quando eu iniciei com o projeto, em 2017, eu nem imaginava que participaria de uma feira tão grande como a Febrace. Tanto que era um sonho de consumo fazer parte dela como finalista. Você apresentar seu trabalho para o Brasil inteiro e dividir ideias e experiências com avaliadores e participantes é algo que nos motiva a continuar no ramo científico e explorar ainda mais esse mundo — revela Camila.

Leia mais: Pacientes com Parkinson relatam melhoras com o uso de produtos de cannabis

A pesquisa da estudante procurou se utilizar de um resíduo muito comum na Serra, a casca de pinhão, de forma sustentável e barata para combater a proliferação de bactérias.

— Utilizamos algo que seria descartado, no lugar de outras substâncias químicas mais agressivas e que prejudicam o meio ambiente. Afinal, os resíduos vegetais realizam a mesma função que essas substâncias e são mais viáveis economicamente. Como estamos bem adiantados já, conseguimos comprovar que a casca do pinhão produz as nanopartículas, o que é superpositivo para nós e facilita a nossa aplicação — explica.

O CETEC UCS chegou à Febrace com dois projetos finalistas. As alunas Jennifer Pereira Moreira e Nicole Peyrot da Silva, ambas com 17 anos, desenvolveram um trabalho motivadas por um problema que está se tornando cada vez mais comum: a resistência que as bactérias vêm adquirindo frente aos antibióticos já existentes.

A pesquisa, elaborada dentro do Laboratório de Enzimas e Biomassas da Universidade de Caxias do Sul (UCS), recebeu o nome de “Avaliação da atividade antimicrobiana do óleo essencial de gengibre frente a cepas de Staphylococcus aureus resistentes à amoxicilina”. Credenciado na Febrace após destaque na 8ª Mostra Científica e Tecnológica da escola, o projeto tem orientação dos professores Dáfiner Pergher e Willian Daniel Hahn Schneider.

Leia mais: Cannabis melhora qualidade de vida de pacientes idosos com Alzheimer e Parkinson

— Ele foi um estudo avaliativo da ação do óleo essencial de gengibre frente a essa bactéria, que é uma das que mais causam infecções hospitalares. Nele, a gente concluiu que a bactéria demonstrou uma sensibilidade bem significativa quando em contato com esse óleo, comprovando assim que o uso de medicamentos naturais pode ser uma opção para complementar a ação dos antibióticos ou, futuramente, até para a substituição deles — conta Nicole, também mencionando a colaboração dos coordenadores do laboratório, Aldo José Pinheiro Dillon e Marli Camassola, além da técnica do laboratório Roseli Claudete Fontana.

O outro projeto do CETEC UCS é o “Indicador de Líquidos para Pessoas com Deficiência Visual”. Além da orientação das professoras Andréia Michelon Gobbi e Glenda Lisa Stimamiglio, as estudantes Júlia Manfro dos Santos e Luiza Ramos Simionato, ambas com 17 anos, tiveram colaboração dos professores, técnicos e usuários do Instituto da Audiovisão de Caxias do Sul (Inav) para a realização de testes.

— A ação de colocar líquidos em recipientes que, para nós que enxergamos, é feita automaticamente, para essas pessoas é um desafio. A partir desse problema, pensamos em criar um instrumento que fosse prático e de baixo custo, que os ajudasse nessa atividade, proporcionando maior autonomia e independência. Decidimos criar um protótipo que funciona por meio da flutuação, indicando o nível do líquido — enaltece Luiza.

Para a confecção dos protótipos, foi utilizada a impressora 3D do Laboratório de Metrologia e Prototipagem Rápida da UCS. Segundo Luiza, com a finalização e a definição do formato ideal, a ideia é de produzir o indicador em larga escala, com o objetivo de auxiliar o maior número possível de pessoas com deficiência visual.

Leia: Um quarto dos pacientes com Parkinson usou maconha nos últimos seis meses

— Estamos muito felizes em participar dessa feira tão importante no Brasil. Quando fizemos a primeira apresentação do projeto, ouvimos as pesquisas dos participantes de vários estados, tivemos a avaliação da banca de professores e pudemos sentir realmente a grandiosidade desse evento — expressa a estudante.

Não é só Caxias do Sul que está com finalistas na maior feira científica do Brasil. A cidade de Carlos Barbosa também ganhou destaque com o trabalho de estudantes da EEEM Elisa Tramontina. Brenda Victoria Facchini Bonatto, 17, e Sabrina Machado Zaro, 18, desenvolveram o “Estudo da viabilidade da extração de canabinoides da Ruta graveolens para possível controle dos tremores do Parkinson”.

— Todos que têm um familiar com Parkinson sabem a dor que é. Os tratamentos para a doença têm muitos problemas, mas o canabidiol é uma alternativa comprovada, melhor que muitos remédios. Ele só é extraído da Cannabis sativa, que é proibida, e exportar esse remédio é muito caro e burocrático. Depois de encontrar leves indícios de que a arruda possui esse canabidiol, produzimos um extrato dela na esperança de ele poder ser usado como alternativa para o tratamento do Parkinson — esclarece Brenda.

Arquivo pessoal / Divulgação

#PraCegoVer: fotografia que mostra Brenda fazendo anotações em um caderno e Sabrina cortando folhas de arruda que caem em um béquer, uma de cada lado de uma bancada de mármore com materiais de laboratório. Foto: acervo pessoal / divulgação.

A constatação final das estudantes foi de que o extrato produzido por elas possui a substância. Brenda acredita que a missão foi cumprida ao atingir três objetivos: encontrar uma planta de fácil acesso que tivesse o canabidiol, formular o extrato e comprovar que o produto final possui a substância. A estudante ressalta que o extrato não possui nenhum efeito alucinógeno e é o primeiro passo em direção a um tratamento viável para as pessoas que sofrem com o mal de Parkinson.

A professora Sandra Seleri, orientadora do projeto de Brenda e Sabrina, revela que, em sua sexta participação na Febrace, a primeira de forma virtual, está orgulhosa da pesquisa que foi destaque também em outras mostras e feiras científicas, como a Mostraseg, que garantiu o primeiro lugar da categoria geral. O projeto possui como coorientadora a professora Marina Paim Gonçalves.

— Ouço muito dos alunos finalistas que participar de projeto de pesquisa mudou a perspectiva que eles tinham do futuro, a perspectiva que tinham de si mesmos, porque às vezes os alunos só precisam que alguém acredite neles, acredite que eles podem, que são capazes. É esse acreditar o estímulo do sucesso, o maior combustível para a dedicação, o esforço e os resultados que muitos obtêm — conta, orgulhosa, a docente que recebeu o prêmio de professor destaque na Febrace de 2017.

Com votação popular

Além da avaliação feita pela comissão avaliadora da Febrace, o público pode votar nos projetos dos estudantes finalistas. As votações são realizadas via Facebook, em que a pessoa acessa o site da Febrace Virtual e clica em curtir no seu projeto favorito. A participação vai até às 14h da segunda-feira (29). O mais votado levará o Prêmio Votação Popular.

Leia também:

Empresa japonesa descobre presença de CBD em cascas de laranja

#PraCegoVer: em destaque, fotografia de uma flor de arruda, com pétalas e estames amarelos, e três pequenos botões em sua base, além de algumas folhas da planta que se vê mais abaixo, em fundo marrom-escuro. Crédito: Jee & Rani Nature Photography | Wikimedia Commons.

Deixe seu comentário
Assine a nossa newsletter e receba as melhores matérias diretamente no seu email!