Estava cansado de ficar de ressaca, diz criador do vinho de maconha
Sem álcool e com infusão da planta, primeira bebida do gênero no mundo é vendida apenas na Califórnia, onde produtos comestíveis à base de maconha são a maior tendência desde a legalização. As informações são da Folha de S. Paulo.
O americano Chip Forsythe faz vinhos desde 2004, quando entrou para a faculdade de viticultura na Califórnia. Anos depois, abriu sua própria vinícola com amigos, a Rebel Coast, e passou a vender cabernets e chardonnays para vários supermercados dos EUA. Até que ele resolveu diversificar: fez um sauvignon blanc de maconha.
O vinho sem álcool e com infusão de 20 miligramas de maconha é o primeiro a ser vendido legalmente no mundo. Por enquanto, só pode ser comercializado na Califórnia, onde a droga é legalizada para maiores de 21 anos. A lei proíbe produtos que misturem álcool com cânabis. O governo federal ainda considera a planta ilegal, classificada na mesma categoria que heroína.
“Estava cansado de ficar de ressaca o tempo inteiro”, disse à Folha Forsythe, dono de um bigode portentoso que estampa a garrafa de seu tinto tradicional Reckless Love. “O vinho de maconha não é para ficar chapadaço. É para dar uma brisa, um barato de leve. Dá para tomar e ficar comunicável, conversar num jantar.”
Produtos comestíveis são a maior tendência do mercado desde a legalização. Chocolates, pastilhas e bebidas tomam conta das prateleiras das 358 lojas de maconha do estado. Há refrigerantes, chás, água gaseificada e até cervejas não-alcoólicas repletas de THC, a substância da planta responsável pelos efeitos psicoativos —o tal do barato.
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Até a Coca-Cola anda interessada na ideia, embora negocie com empresas canadenses para bebidas com infusão de CBD, a substância não-psicoativa da maconha usada para fins medicinais. Em 2017, a Constellation Brands, uma das maiores gigantes do setor de bebidas e dona da Corona, investiu US$ 4 bilhões (R$ 16,2 bilhões) na canadense Canopy Growth para ter drinques canábicos.
O primeiro lote de 5 mil garrafas de vinho de maconha da Rebel Coast foi lançado em janeiro e esgotou rapidamente. No próximo mês, chegam mais 30 mil ao mercado, cada garrafa a US$ 60 (R$ 250). A produção é feita numa nova instalação na capital californiana de Sacramento, que está sendo expandida no momento para ter capacidade de até 25 mil garrafas por semana.
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“Foi um processo bem complicado. Já é difícil fazer um vinho bom, então imagina um vinho assim. Tivemos que fazer uma pesquisa enorme para conseguir transformar o óleo do THC em algo solúvel”, disse Forsythe, 33 anos.
As uvas vêm de Sonoma, região ao norte da Califórnia ao lado de Napa Valley. O vinho é feito por lá, na vinícola da Rebel Coast, e passa pelo processo de remoção do álcool antes de ser enviado à Sacramento.
Em parceria com uma firma do Colorado chamada Ebbu, deram um jeito de fazer a mistura e o engarrafamento de forma segura. É necessário esperar 30 dias para inspeção do governo.
Pelas leis da legalização, lojas, restaurantes e qualquer negócio relacionado a álcool não podem negociar maconha, e vice-versa.
“O mais difícil de tudo foi mesmo a parte legal. A Califórnia não tem ideia do que está fazendo, tudo está atrasado, ninguém sabe ao certo as regras, e elas mudam o tempo todo”, diz Forsythe, que vendeu a Rebel Coast para amigos e agora só se dedica ao vinho canábico, com ajuda de seis funcionários e investidores.
Forsythe se mudou para a Califórnia vindo Texas com uma bolsa de estudos graças aos seus dotes na luta greco-romana. Num tour por vinícolas, se apaixonou. Passou cinco anos trabalhando em vinhedos e vinícolas. Formado pela Universidade Estadual Politécnica da Califórnia, em San Luis Obispo, já foi chamado por antigos professores para dar aulas sobre sua criação.
A escolha pelo sauvignon blanc veio pela similaridade com aromas da maconha. Nos primeiros testes, o gosto e o cheiro da planta se sobressaiam, e quem degustava pedia mais gosto e cheiro de vinho.
O produto final traz zero aroma de maconha, apesar do leve cheiro quando se abre a garrafa. O gosto é de suco de uva, já que não há álcool. Outra consequência da falta de álcool é a baixa caloria, apenas 35 por taça. Versões rosé e cabernet devem sair em 2019.
“Por ser rico em ácidos, recomendo com pratos leves, uma massa ao pesto ou frango à parmegiana”, disse. “Na real, vai bem com tudo. Com música, hambúrguer, até sorvete.”
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#PraCegoVer: fotografia (de capa) em close de uma taça para vinho com buds de maconha dentro, e um fundo branco com um pouco de sombra.
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