Enxugando gelo: apreensão de maconha em 2020 bate recorde sem afetar o tráfico de drogas

Foto de um policial do DOF, de costas e usando chapéu, abrindo um dos diversos fardos de tabletes de maconha que estão na carroceria de uma caminhão.

Nos últimos 25 anos, a quantidade de drogas apreendidas no país aumentou 5.708% e a própria Polícia Federal reconhece que isso não foi suficiente para enfraquecer o tráfico. Saiba mais sobre o tema no artigo do historiador e ativista Henrique Oliveira

As apreensões de maconha realizadas nos primeiros oito meses de 2020, segundo a Polícia Federal, já ultrapassam o montante apreendido em 2019 e 2018, sendo o segundo maior volume da série histórica iniciada em 1995. Até agosto, a Polícia Federal confiscou 286 toneladas de maconha, o estado brasileiro com maior registro foi o Mato Grosso do Sul, com 133 toneladas, seguido pelo Paraná, com 93 toneladas, e São Paulo, com 21 toneladas. Além da apreensão de toneladas de maconha, a Polícia Federal também contabilizou a destruição de 1,7 milhões pés de maconha e 259 mil mudas no país.

Nem mesmo a pandemia afetou o lucrativo mercado do tráfico de drogas, em abril, por exemplo, 555 quilos de cocaína, que tinham como destino a Costa do Marfim, na África, foram apreendidos no Porto de Paranaguá, no Paraná. Um relatório da Drug Enforcement Administration (DEA) dos EUA apontou que a pandemia criou dificuldades para transportar drogas aos fornecedores, fazendo com que o preço mais que dobrasse no varejo em algumas cidades. Porém, alguns narcotraficantes latino-americanos se anteciparam à redução do trânsito de pessoas, com suspensão de voos e viagens de navios, e ampliaram os seus estoques enviando uma quantidade maior de drogas.

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Na Alemanha, por exemplo, as autoridades dizem que durante a pandemia houve um aumento no consumo de drogas ilegais, uma tendência que vem se afirmando há 9 anos no país. De acordo com Departamento Federal de Investigação (BKA, na sigla em alemão), as apreensões de cocaína aumentaram 12% e, mesmo com as restrições impostas para impedir a disseminação da Covid-19, não faltou drogas nas ruas. Os traficantes se adaptaram às necessidades realizando distribuição através de pedidos pela internet e enviando pelos correios.

O Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência divulgou seu relatório anual, demonstrando que durante a pandemia o consumo de drogas como cocaína e MDMA foi reduzido, e que a droga mais consumida foi a maconha. O que demonstra a capacidade organizativa do tráfico de drogas em escala global. Aqui no Brasil, a Polícia Federal vem aumentando a cada ano a quantidade de drogas apreendidas. Nos últimos 25 anos, a quantidade de drogas apreendidas aumentou 5.708% e a própria Polícia Federal reconhece que isso não foi suficiente para enfraquecer o tráfico de drogas e nem reduzir o consumo. A cada ano a polícia bate um novo recorde na apreensão de drogas, sem nenhum benefício social, pois enxugar gelo se tornou uma política pública graças à guerra às drogas.

 

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#PraCegoVer: a imagem de capa traz a foto de um policial do DOF, de costas e usando chapéu, abrindo um dos diversos fardos de tabletes de maconha que estão na carroceria de uma caminhão.

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