Empresas de maconha da Califórnia (EUA) lutam para contratar trabalhadores em meio à escassez de mão de obra

Fotografia que as mostra as mãos com luvas pretas de uma pessoa que apara um bud de cannabis, sobre uma bandeja preta com mais infrutescências da planta. Imagem: GreenForce Staffing | Unsplash.

A mudança revolucionária em curso no mercado de trabalho impulsionada pela pandemia de Covid-19 se reflete nos desafios de contratação enfrentados pelas operadoras de cannabis californianas. Saiba mais na reportagem do MJBizDaily, traduzida pela Smoke Buddies

As empresas de maconha na Califórnia (EUA) estão lutando para recrutar e manter trabalhadores qualificados, desde budtenders voltados para o consumidor e motoristas de entregas até especialistas em operações e empacotadores.

Os desafios de contratação refletem os principais problemas do varejo e a mudança revolucionária em curso no mercado de trabalho impulsionada pela pandemia de Covid-19, um impulso para trabalho remoto e flexibilidade e a Grande Resignação em que os funcionários estão voluntariamente deixando seus empregos em massa.

É um cenário que sem dúvida está ocorrendo em outros mercados de cannabis legais pelo estado em todo o país, além da Califórnia.

Leia também: Vendas de maconha no Arizona (EUA) batem recorde de quase US$ 58 mi em outubro

“No varejo de cannabis nos últimos seis ou sete meses, nunca vi esse tipo de movimento”, disse Jerred Kiloh, dono da loja de cannabis de Los Angeles The Higher Path.

“Algumas pessoas estão um pouco desencantadas com o que o futuro da cannabis da Califórnia realmente se parece.”

 

 

 

Kiloh, que lançou o dispensário há oito anos em Sherman Oaks, disse que não pode pagar “salários enormes” enquanto sua loja luta para competir contra um próspero mercado ilícito, onde “oitavos” (3,5 gramas) de flores são vendidos por apenas US$ 15.

“Todos estão começando a valorizar seu trabalho mais do que estou disposto a pagar”, acrescentou.

“Eles acham que vão voltar ao mercado geral e encontrar mais dinheiro, mas acho que vão ficar rudemente surpresos com o fato de que a maioria dos varejistas está diminuindo, reduzindo seu trabalho e tentando sobreviver”.

A 4Front Ventures, sediada em Phoenix, está tentando formar uma equipe completa para sua fábrica de cultivo e processamento de 15.000 metros quadrados recém-inaugurada na cidade de Commerce, que faz fronteira com LA.

A falta de candidatos de qualidade e taxas de resposta “chocantemente baixas” levaram a operadora multiestadual a reavaliar os salários iniciais e aumentar a remuneração, disse Josh Krane, vice-presidente de operações da 4Front na Califórnia.

Os salários por hora começam acima de US$ 17. Os operadores de máquinas ganham bem mais de US$ 20 por hora, com base na experiência.

Mas a empresa, que contratou cerca de 65 trabalhadores para lidar com a produção em um único turno, ainda tem mais de uma dúzia de vagas, incluindo trabalhos de maquinista, embalagem e logística.

“Tenho contratado pessoas há 20 e poucos anos e nunca foi tão difícil”, disse Krane. “Certamente nunca foi tão difícil com a cannabis.”

Um golpe duplo

O alto custo de vida da Califórnia — especialmente perto da costa — é uma consideração importante para quem procura emprego, que agora tem muitas opções e poder de barganha.

As marcas de cannabis na Califórnia devem oferecer taxas horárias na faixa de US$ 18 a US$ 20 para atrair os melhores candidatos, disse Melita Balestieri, vice-presidente de marketing e desenvolvimento de negócios da Higher Growth, uma agência de recrutamento de cannabis com sede em Sonoma.

“Estamos competindo contra as Best Buys do mundo, as Amazons do mundo, que pagarão mais por trabalhadores iniciantes”, disse Balestieri.

“É um ambiente muito competitivo.”

Várias marcas de cannabis disseram ao MJBizDaily que os candidatos a empregos hoje em dia são mais seletivos do que nunca e acreditam que seu valor é determinado mais por sua produção real do que por seu nível de experiência ou nível salarial anterior.

Alguns sugeriram que a escassez de mão de obra é uma consequência dos cheques de estímulo federais relacionados ao coronavírus distribuídos em 2020 e no início deste ano, bem como programas de benefícios de desemprego da era da pandemia, que terminaram em setembro.

Apesar dos subsídios, indústria de cannabis canadense sofre perdas significativas de empregos

Os programas canalizaram bilhões de dólares para os bolsos dos empregados e desempregados, dando a muitos uma proteção financeira e permitindo que alguns fossem mais exigentes com relação aos empregos e retorno ao trabalho.

“A cannabis não está imune à Grande Resignação ou à rede de bem-estar social que o governo deu em razão da Covid”, disse David Belsky, fundador e CEO da agência de recrutamento e pessoal de cannabis de Manhattan Beach, FlowerHire.

De acordo com o Departamento do Trabalho dos EUA, mais de 4,4 milhões de trabalhadores nos EUA deixaram seus empregos em setembro, o quarto recorde mensal consecutivo.

Os trabalhadores da Califórnia estão liderando o êxodo, empurrando a maior taxa de desemprego do país em outubro para 7,3%, empatada com Nevada. A média nacional foi de 4,6%.

Novembro fechou com mais de 10 milhões de vagas em todo o país, de acordo com a Secretaria de Estatísticas Trabalhistas dos EUA.

O governo federal não rastreia empregos relacionados com a cannabis, mas uma pesquisa sobre o fato resultou em mais de 2.400 vagas na Califórnia, variando de trabalhos por hora em budtending e atendimento ao cliente a salários de seis dígitos na produção de eventos e cultivo.

De acordo com o site de cannabis Leafly, com sede em Seattle, a Califórnia tinha quase 58.000 empregos relacionados com a maconha até janeiro de 2021, um aumento de 69% desde 2019, ou cerca de 23.700 empregos.

Embora morar perto do trabalho não seja mais um requisito para muitos empregos, as operações de cannabis são locais por natureza, considerando que a maioria dos empregos está no varejo, processamento, manufatura e cultivo.

Leia mais: Indústria da maconha suporta 321.000 empregos em tempo integral nos EUA

Transportadores procurados

Os motoristas, em particular, estão em demanda.

“As maiores lacunas que vi na contratação de mão de obra por hora para empresas de cannabis na Califórnia são os motoristas”, disse Belsky.

A Tradecraft Farms recebeu sua licença de entrega no verão de 2020 para seu dispensário em Vista, cerca de 65 quilômetros ao norte de San Diego. Demorou mais de um ano para contratar quatro motoristas.

Dois foram contratados há alguns meses.

“Não tivemos problemas em manter os motoristas, tivemos problemas em encontrá-los”, disse Christina Tinoco, gerente regional de varejo da Tradecraft.

“Tivemos até que limitar nossas horas para ter um sistema de entrega.”

A competição por motoristas é feroz na Califórnia, visto que o estado é o lar do Uber, Lyft e Instacart, bem como dezenas de fornecedores de entrega de cannabis, incluindo os gigantes Eaze e Caliva.

O Uber e o Lyft, de acordo com observadores da indústria e relatórios de notícias, estão enfrentando uma escassez de motoristas por causa de preocupações relacionadas ao coronavírus.

As empresas têm oferecido bônus generosos para ajudar a preencher suas posições, proporcionando maior concorrência às empresas de cannabis que lutam para contratar motoristas.

A crise é tão severa que a Divisão de Veículos Motorizados da Califórnia anunciou planos no mês passado para dobrar a capacidade de testes de direção comercial para quase 10.000 por mês e aumentar o horário aos sábados.

Leia também: Universidade do Arizona (EUA) lança programas de certificação em cannabis

Novas estratégias e táticas

Para combater a escassez de mão de obra, os operadores de cannabis da Califórnia estão se tornando mais criativos e flexíveis no recrutamento e retenção.

A Tradecraft agora treina novos contratados para cada função em suas lojas em Vista e Port Hueneme, no condado de Ventura, não apenas para evitar monotonia e esgotamento, mas também turbulência na rotatividade.

“Algumas pessoas saíram de uma vez, e isso deixou nossa loja em ruínas”, disse Tinoco.

A empresa também começou a fornecer comissões aos budtenders, que podem ganhar facilmente US$ 1.000 adicionais por mês, acrescentou ela.

A Beyond Hello, que opera dispensários em Santa Bárbara e Palm Springs, desenvolveu um sistema de rastreamento de candidatos que envia as postagens para mais de 150 locais de trabalho.

“Utilizar a tecnologia tem sido muito importante porque torna tudo muito visível na hora”, disse Clifton Lambert, diretor de recursos humanos de varejo da Jushi Holdings, sediada na Flórida, proprietária da Beyond Hello.

Por meio de uma mistura de locais de trabalho, recursos da cidade e agências de emprego locais, feiras de contratação e anúncios de jornal, 4Front obteve sucesso moderado recrutando funcionários descontentes de embaladores e fabricantes de alimentos próximos, bem como trabalhadores que recentemente foram demitidos ou perderam empregos em outras indústrias.

A 4Front chegou até a colocar panfletos procurando trabalhadores em carros estacionados em fábricas de processamento e praças de alimentação nas proximidades.

“Talvez eles estejam esgotados em seu trabalho ou foram rejeitados para aquela promoção”, disse Krane. “Muito poucas pessoas estão vindo até nós de outros operadores de cannabis”.

Leia mais:

Ativistas pró-maconha de Ohio (EUA) enviam assinaturas para forçar legislatura a considerar a legalização

#PraTodosVerem: fotografia que mostra as mãos com luvas pretas de uma pessoa que apara um bud de cannabis, sobre uma bandeja preta com mais inflorescências da planta. Imagem: GreenForce Staffing | Unsplash.

Deixe seu comentário
Assine a nossa newsletter e receba as melhores matérias diretamente no seu email!