Empresários norte-americanos apostam no mercado de Cannabis de luxo

A cannabis caiu no gosto dos consumidores da alta classe. Com ex-executivos(as) de marcas como Dolce & Gabana, agora no mercado canábico, a maconha de luxo chega para ficar de vez nas prateleiras de boutiques como a High End, em Beverly Hills, talvez a loja de artigos canábicos mais sofisticada do mundo. Saiba mais no artigo da Forbes

No quinto andar da Barneys, em Beverly Hills, depois das prateleiras de sandálias Burberry de US$ 390 e de tênis pontudos Christian Louboutin de US$ 1.995, há uma lojinha chamada High End. Talvez seja a loja de artigos para fumo mais sofisticada do mundo.

Os visitantes são recebidos por uma variedade de produtos de maconha expostos sobre uma placa de quartzo e pó de mármore, todos fabricados pela marca de Cannabis de luxo Beboe, lançada há dois anos. Há uma caixa com sete baseados pré-enrolados por US$ 60, uma lata de pastilhas de sativa de US$ 25 e um vaporizador Barneys edição especial preto e prateado com uma carga de 120 tragadas de THC. Não quer ficar chapado? Há também frascos de sérum e máscaras faciais com infusão de canabidiol.

“Todos os nossos produtos são para um jantar ou coquetel — e depois para se recuperar daquilo”, diz Clement Kwan, ex-executivo da Dolce & Gabbana que fundou a Beboe com o tatuador Scott Campbell, de Los Angeles, cujos intricados desenhos adornam os produtos deles. “Nós pegamos essa criatividade e a colocamos no mundo, porque, no fim das contas, isso é como um cavalo de Troia… As pessoas que compram na Barneys dizem: ‘Eu não fumo maconha há um bom tempo, mas me conte mais sobre isso’”.

Com a legalização da Cannabis nos EUA — 11 estados adotaram leis que permitem o uso recreativo, enquanto 22 outros só permitem a maconha medicinal —, ela está finalmente se tornando o negócio em expansão que seus proponentes há muito imaginavam. No ano passado, o setor de maconha legal gerou um faturamento superior a US$ 10 bilhões — e cerca de 250 mil empregos —, sendo que alguns estudos indicam que pode atingir US$ 26 bilhões nos próximos seis anos.

E é aí que o posicionamento da Beboe se mostra perfeito. Na boutique High End, por exemplo, um concierge pega o seu pedido e um serviço de delivery o entrega em qualquer parte do condado de Los Angeles. (A lei ainda proíbe os clientes de saírem com a compra.) A Beboe também vende seus artigos em lojas que vão desde os populares dispensários MedMen até a Neiman Marcus.

Com o crescimento da Beboe, grandes empresas do setor ficaram atentas — em particular a Green Thumb Industries, empresa de Cannabis de capital aberto com valor de mercado de US$ 2 bilhões. Este ano, a GTI adquiriu a Beboe em um acordo de compra de ações fechado em fevereiro. Os termos não foram divulgados, mas fontes do setor situam o preço de venda em cerca de US$ 80 milhões, com receitas anuais de uns poucos milhões; agora os produtos da Beboe estão disponíveis em 125 lojas na Califórnia e no Colorado, mas, com a força da GTI, a marca se expandirá para outros estados este ano.

“Para vencer, é necessário ser dono da bebida, e não do bar”, diz o fundador e CEO da GTI, Ben Kovler. “A Beboe é um exemplo de um desses bens de consumo de marca que desenvolvem uma relação honesta com o consumidor”.

Os fundadores da Beboe também viram mais do que o simples aspecto luxuoso da corrida verde da Cannabis. Campbell, que é casado com a atriz Lake Bell, começou em um estúdio de tatuagem que vendia drogas nos fundos e chegou a tatuar personalidades como Robert Downey Jr. e Jennifer Aniston. Por sua vez, Kwan, de 42 anos, conseguiu cursar a Universidade da Califórnia em Berkeley cultivando — e vendendo — a erva, antes de fazer uma transição profissional para o ramo da moda, na Diesel e Net-a-Porter.

Campbell e Kwan se conheceram em um avião em 2014 e conversaram sobre abrir uma fazenda de Cannabis. Mas logo perceberam que o caminho para o lucro tinha a ver com a marca. Eles deram à sua startup o nome da avó materna de Campbell, Bernice Boe, que preparava brownies de erva para aliviar a dor da mãe dele durante a luta dela contra o câncer. A dupla arrecadou US$ 1,7 milhão com amigos e familiares, mas, quando lançou seus produtos, em 2017 — com uma estética que lembra mais as sacolas da Hermès do que os pacotes de drogas —, os operadores de dispensários não entenderam. Campbell e Kwan reagiram dando amostras grátis aos céticos. Estes voltavam para pedir mais, com um refrão comum: “Minha mulher adora esse negócio”. A Beboe havia estabelecido uma base de clientes elitista — cerca de 70% a 75% feminina. A equipe sênior da Beboe é composta por mulheres (como a CFO Carol Koh Evans, ex-Microsoft), o que ajuda a empresa a entender melhor suas clientes. “Elas têm um gosto exigente e são preocupadas com a saúde e com um design lindo”, diz a vice-presidente de marketing, Kiana Anvaripour.

Sem dúvida, não há garantia de que o verde luxuoso se transformará em ouro: o fantasma da intervenção federal continua rondando. Mas Campbell e Kwan não acham que o setor vá virar fumaça. Ao receberem a participação na GTI, eles têm um incentivo de seguir na lida, à medida que a Cannabis é legalizada. “O bacana na desregulamentação da erva não é facilitar que os doidões fiquem doidões”, diz Campbell, “e sim trazer gente nova”.

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#PraCegoVer: fotografia em vista superior da latinha, redonda e de cores azul e branco, de pastilhas à base de cannabis da Beboe, sobre uma superfície formada por mirtilos, ao lado de uma flor. Foto: divulgação.

“Um mercado que veio para ficar”

No Brasil, o potencial de receita anual do setor canábico pode chegar a R$ 4,7 bilhões, beneficiando mais de 3,7 milhões de pacientes. “Temos o potencial para dominar o mercado global”, revela a CEO Viviane Sedola.

A palavra mais apropriada para descrever a situação atual da Cannabis no Brasil é mudança. A todo momento, o setor é bombardeado de novidades, tanto no âmbito regulatório quanto no financeiro. Diferentemente do que vem acontecendo nos Estados Unidos, o país ainda apresenta certa timidez quando se fala da erva, principalmente pelo tabu. “Enfrentamos duras barreiras com o tema, quem está por trás fica receoso”, explica a CEO da Dr. Cannabis, Viviane Sedola. Por aqui, a Cannabis foi legalizada apenas para fins medicinais de uso compassivo: para pacientes cujas condições sejam resistentes a todas as outras formas de tratamento.

A maioria dos produtos é importada. O único medicamento registrado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) é o Mevatyl, que contém substâncias extraídas da Cannabis, mas não a planta em si. Para conseguir um tratamento à base de CBD (canabidiol), é necessário submeter uma prescrição médica, que qualifica o uso compassivo, à Anvisa. As solicitações são analisadas caso a caso pelo órgão. Ao obter uma licença de importação, o paciente pode optar pelo produto de preferência entre as indicações médicas.

Uma garrafa de 20 ml da substância pode custar até US$ 250. São usadas de duas a três para o tratamento mensal. O número de autorizações concedidas anualmente pela agência saltou de 48 para 2.179 entre 2014 e 2017. Estima-se que o Brasil tenha a maior população de usuários de Cannabis da América Latina: são 4,2 milhões de pessoas, segundo relatório das empresas New Frontier Data e The Green Hub. Pesquisas afirmam que cerca de 6 mil pacientes foram autorizados a importar produtos medicinais de CBD desde 2015, ano em que a Anvisa legalizou o uso terapêutico.

“Toda essa movimentação que vemos atualmente no país se deve principalmente à luta das associações de pacientes locais que foram buscar o direito à saúde e qualidade de vida de seus familiares”, afirma o CEO da The Green Hub, Marcel Grecco. Segundo o executivo, foram realizados mais de 10 mil pedidos de autorização para compra de Cannabis medicinal desde 2015.

Diante da realidade dos números, o sistema regulatório está começando a manifestar uma abertura para os brasileiros. Nos meses de julho e agosto, a Anvisa realizou uma consulta pública sobre a fabricação de medicamentos e o plantio de Cannabis para uso pela indústria farmacêutica. A expectativa dos especialistas do ramo era que em outubro fosse anunciada a nova regulamentação com parecer favorável — mas no dia 15 a Anvisa adiou a decisão.

Como brincar disso, segundo Brooke de Boutray

Com US$ 3 bilhões sob gestão, a Zevenbergen Capital de Seattle vem superando o mercado há 30 anos, ao manter-se pacientemente fiel a ações como Amazon e Netflix. Quando as ações de maconha começaram a ganhar aceitação, a firma concluiu que era uma oportunidade de crescimento à qual ela não podia resistir. No entanto, o único investimento da Zevenbergen em ações de erva é a Tilray, de Toronto, uma fabricante de maconha medicinal em rápido crescimento que ela comprou quando a Tilray abriu o capital, há um ano. “Nós aceitamos a volatilidade, particularmente em um setor embrionário como o da maconha, mas adotamos uma visão de longo prazo”, diz Brooke de Boutray, gerente de portfólio da Zevenbergen. “Não é muito frequente aparecer esse tipo de oportunidade de crescimento, então fizemos uma sondagem com o que acreditamos ser o nome de qualidade nesse grupo”.

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#PraCegoVer: em destaque, fotografia dos cofundadores da Beboe, Clement Kwan e Scott Campbell, na High End, em Beverly Hills, expelindo fumaça de cigarros dourados que seguram, e um fundo escuro. Foto: divulgação.

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