Efeito duradouro e consumo excessivo: os riscos dos alimentos com cannabis

Estudo realizado por pesquisadores canadenses aponta os riscos dos comestíveis feitos com cannabis, como a demora para surgirem os efeitos e o consumo por crianças. As informações são do UOL VivaBem

O uso de cannabis — para fins médicos ou não — já é legal ou está em processo de legalização em diferentes partes do mundo. No Canadá, alguns alimentos que contêm a substância se tornaram permitidos em outubro de 2019. No Brasil, os petiscos ainda não são vendidos legalmente.

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De acordo com alguns consumidores, as comidas com infusões ou pedaços da planta não são usadas apenas para fins recreativos, mas também para ajudá-los a lidar com distúrbios de ansiedade e sono.

No entanto, segundo um novo estudo publicado no Canadian Medical Association Journal os alimentos podem apresentar riscos à saúde não só de quem consome, mas também de seus familiares e coabitantes, principalmente crianças e animais de estimação.

De acordo com Renato Filev, doutor em Neurologia-Neurociências pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e pesquisador do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas, a ingestão oral é uma maneira notória de se consumir cannabis e até preferível em alguns tipos de tratamento. “Para amenizar os sintomas do Parkinson, por exemplo, é normal que a indicação seja o consumo via oral, já que o efeito será prolongado. No entanto, todos que fizerem o uso precisam estar bem conscientes dos efeitos”, aponta.

Riscos apontados pela pesquisa

Alimentos demoram mais para produzir efeito

De acordo com a pesquisa, consumir comestíveis pode levar muito mais tempo — até quatro horas — para produzir efeitos. “Quando o indivíduo faz o uso por via pulmonar, vaporizado ou inalando a fumaça, a oferta das moléculas oriundas do vapor causa efeito quase imediato. A partir da sensação de euforia ou relaxamento, é possível dosar a quantidade”, aponta Filey.

A demora pode levar algumas pessoas, especialmente aquelas que não estão acostumadas com a substância, a aumentar sua porção, resultando em consumo excessivo. Exagerar na dose pode levar à paranoia, mania de perseguição, alucinação que parece não passar, ansiedade e vômitos.

Efeitos também duram mais

Os autores apontam que o efeito da cannabis em alimentos comestíveis pode durar oito horas ou mais, ou seja, mais tempo com o julgamento e coordenação prejudicados, o que pode ser particularmente perigoso para quem precisa cuidar de crianças, dirigir ou realizar qualquer outra tarefa que exija atenção e coloque a vida em risco.

Efeitos podem ser mais fortes

Os pesquisadores também alertam que mesmo a dose presente em produtos comestíveis regulamentados pode causar efeitos diferentes em indivíduos diferentes, já que alguns podem ser mais sensíveis à droga do que outros. “Mesmo as pessoas que já estão acostumadas a consumir de outra maneira podem sofrer desconfortos ou ter efeitos mais intensos”, explica o pesquisador.

Crianças podem consumir por engano

Outro ponto é que os alimentos geralmente são vendidos em forma de guloseimas, como doces ou biscoitos, e podem atrair crianças e animais domésticos. Segundo dados apontados pelos responsáveis pela análise, após a legalização dos produtos comestíveis com cannabis no estado do Colorado, nos EUA, o centro estadual de controle de intoxicações registrou um aumento de 70% nos chamados de exposição acidental a crianças de 2013 a 2017.

Os efeitos em crianças, de acordo com Filey, podem ser os mesmos apresentados em adultos: euforia, maior apetite, possível ansiedade, crises de pânico e menos comumente, vômitos. “É uma substância segura de modo geral e não há mortes associadas à ingestão acidental documentadas. No entanto, como a criança não sabe o que está acontecendo em seu corpo, é necessário uma atenção maior e assistência imediata”. Já em animais como cachorros, o pesquisador aponta efeitos colaterais como dificuldade de equilíbrio e movimento, mas afirma que não há risco de vida e o animal deve voltar ao normal no dia seguinte.

Filey aponta, ainda, que associar os produtos com cannabis a alimentos comumente consumidos por crianças é um risco desnecessário. “Existem outras formas da ingestão via oral e acredito que deveriam existir limitações para evitar a ingestão acidental”, esclarece.

Pesquisadores pedem que médicos falem sobre riscos

Os cientistas aconselham os profissionais de saúde a explicarem para seus pacientes sobre os riscos associados aos produtos comestíveis, assim como prevenir os perigos.

De acordo com eles, os médicos devem questionar rotineiramente os pacientes que perguntam sobre cannabis sobre seu uso ou uso pretendido de produtos comestíveis com a substância, para que possam aconselhar essas pessoas.

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#PraCegoVer: fotografia (em destaque) em plano fechado de uma pilha de cinco biscoitos de massa clara com gotas de chocolate, juntos a um bud seco de maconha com pistilos marrons, sobre uma superfície de madeira, e um fundo de cor rosa. Foto: Margo Amala | Unsplash.

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