Dez anos da Smoke Buddies: a história da brisa à ideia

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Em uma session de alguns amigos de fumaça, registrada por uma selfie na Lagoa Rodrigo de Freitas — cartão postal do Rio de Janeiro —, é que brotou a ideia de um espaço antiproibicionista e secreto onde as pessoas pudessem postar fotos e textos, curtir, comentar e interagir com outras pessoas que tinham algo em comum: a maconha

Criada por Maurício de Martino em 25 de janeiro de 2011, a Smoke Buddies nasceu como um grupo secreto no Facebook, inicialmente formado por ele e os cinco amigos presentes na session da lagoa. Entretanto, como sempre digo, um buddie sempre tem ao menos mais cinco amigos para fechar a roda.

E como, há uma década, os aplicativos de mensagem instantânea não estavam tão em voga e avançados como hoje, aquele formato inovador de expor os hábitos de consumo, debates e diferentes formas de interação e aproximação com outras pessoas que curtiam maconha popularizou o grupo em proporções inimagináveis.

Naquela época, estava em alta a perseguição às Marchas da Maconha (BH, SP e RJ) e as pessoas que defendiam, debatiam ou simplesmente usavam roupas com folhas de maconha podiam ser enquadradas no crime de apologia às drogas. Logo, o espaço antiproibicionista proporcionado pela criação do grupo começou a reunir uma pequena população.

Curiosidade: 

Mesmo sendo um grupo de internet, desde a sua criação, a administração do grupo estabeleceu regras básicas para uma boa convivência entre os membros, mantendo fiscalização intensa para coibir o comércio ilegal de substâncias e discriminação em geral. 

Para coibir postagens que não fossem autorais, a #Sb era uma exigência nas fotos.

Semeando informação

Mesmo antes dos primeiros 420 membros do grupo, detectamos a necessidade de semear informações claras, precisas e verídicas sobre maconha e seus usos adulto, terapêutico, industrial e religioso, além de toda movimentação global que já apontava a tendência de regulamentação em vários cantos do mundo, e, é claro, sobre a política de drogas no Brasil.

Curiosidade:

Em 2011, pouco era usado o nome cannabis, e sim maconha. Muitas pessoas achavam que o que se fumava eram as folhas e não as flores. Notícias como divulgação de pesquisas, os avanços legais e econômicos e os benefícios terapêuticos da planta raramente apareciam nas mídias tradicionais, tanto impressas como virtuais. O foco era noticiar repressão aos usuários, apreensões e a guerra às drogas, que desde sempre faz muito mais vítimas que o uso em si da maconha. Poucos eram os blogs e fóruns especializados no tema e os que existiam tinham foco nos usuários apenas.

Com a propagação de informação e gerando debates entre os membros do grupo, que em poucos meses já possuía cerca de 50 mil participantes, o próximo passo era informar aos membros do grupo que os avanços sobre a maconha existiam, mas não eram evidenciados pelos tradicionais veículos de notícias. Foram criadas, assim, as mídias abertas da Smoke Buddies, como Fanpage, Instagram, Twitter e LinkedIn, com informação como munição para os membros levarem o debate ao seus meios sociais, físicos ou virtuais.

Megafone da militância

Desde o surgimento do grupo, os administradores e membros da Smoke Buddies estão envolvidos com a militância canábica. Com as marchas sendo reprimidas desde 2010, o grupo virou espaço de divulgação e articulação para muitas movimentações sociais.

Curiosidade:

Em 15 de junho de 2011, membros e administradores da Smoke Buddies se reuniram para celebrar a ADPF 187, que determina que não é crime de apologia defender, noticiar e incentivar o debate e alterações legais sobre maconha e outras drogas.

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#PraCegoVer: fotografia de Dr. André Barros, advogado da Marcha da Maconha, dos maconheiros, e o primeiro colunista da Smoke Buddies em discurso durante a Marcha da Maconha de Niterói, em 2012. Foto: Smoke Buddies.

De campanhas com intuito de desmistificar a imagem da pessoa consumidora de maconha, como a ação “Maconheiro é Sangue Bom”, que incentivando as pessoas a abdicarem o consumo da erva por 12 horas para doação de sangue, a campanhas do agasalho e a “Ceia dos Excluídos”, que levou por anos conforto físico e psicológico, assim como alimentação e higiene pessoal, a moradores de rua em várias cidades pelo Brasil, desde sempre participamos da divulgação e até da articulação de movimentos que hoje perpetuam nas principais capitais brasileiras, como as Marchas da Maconha e o Dia Nacional da Cannabis Medicinal.

Literalmente dando o sangue pela causa em 2011. Foto: Dave Coutinho.

 

Ceia dos Excluídos realizada em sua 6ª edição em 2016 no centro do Rio de Janeiro. Foto: Smoke Buddies.

Curiosidade:

Alguns famosos militantes acreditavam que os grupos da Smoke Buddies eram um “desserviço” à causa, e que postar foto de um baseado não ajudava em nada. Puro engano, já que pessoas que começaram só postando fotos de seus becks foram motivadas pelas explanações de outras ações e militantes e resolveram fazer o mesmo em suas regiões. Em 2012, foram mais de 40 Marchas da Maconha e atos espalhados no Brasil.

#PraCegoVer: Em destaque, fotografia mostra uma multidão de pessoas e a sua frente uma faixa branca com o lema "Para o povo vivo e livre legalize".  Após a faixa um homem carrega um sinalizador de fumaça aceso na cor verde. Foto: Dave Coutinho | Smoke Buddies marcha da maconha legalize

#PraCegoVer: fotografia que mostra uma multidão de pessoas e a sua frente uma faixa branca com o lema “Para o povo vivo e livre legalize”.  Após a faixa um homem carrega um sinalizador de fumaça aceso na cor verde. Fotografia feita durante a Marcha da Maconha SP que reuniu mas de 150 mil pessoas. Foto: Dave Coutinho | Smoke Buddies.

Explanamos na casa de Zuck

Em meados de 2012, explanamos mais as movimentações acerca da erva, com eventos culturais e notícias, e chegamos atingir a marca de 500 mil membros reunidos em um único grupo dentro do Facebook. Imaginou a loucura? Nós vivemos!

Mas Mark não curtiu

Pouco amigável às explanações públicas e privadas, tio Mark e seus bots limaram o até então único grupo sobre cannabis no Facebook. Com consciência de que a resiliência era necessária, de pronto criamos um segundo grupo, que, em 12 horas e com mais de 100 mil membros, foi novamente deletado. Valeu, valeu Zuck!

Mas, se ele pensava que tinha se livrado dos maconheiros de sua rede, ainda que careta, sua iniciativa gerou, por fim, mais de 60 grupos, em todos os estados do Brasil, e com mais de um grupo regional em alguns lugares.

Curiosidade:

Regionais como os Grupos do Rio de Janeiro e de São Paulo reúnem, em 2021, mais de 500 mil membros. Estimamos cerca de
1 milhão de pessoas reunidas em todos os grupos oficiais da Smoke Buddies.

Errando, aprendendo, ensinando e evoluindo

A Smoke Buddies sempre foi tida por mim, a pessoa que vos conta a história, como um ser vivo. Que erra, aprende, ensina e, principalmente, segue evoluindo.

De 2013 em diante, optamos por dar alguns passos. Ironicamente, o primeiro foi por segurança: gerar nossa própria base de dados e informações fora do Facebook. Realizamos uma convocatória nos grupos e redes sociais em busca de profissionais para a criação de um portal, com notícias diárias sobre maconha — alguns dos quais seguem na caminhada conosco até hoje.

Curiosidade:

A aceitação foi imensa, por meses os acessos ao site beiram os 500 mil usuários únicos. Aproveitando a grande repercussão que a página da Smoke Buddies fornecia a toda a sociedade, ajudamos a levar às esferas do governo o debate da maconha, como a
SUG 8, em 2014, inclusive com nossa participação no debate, no Senado Federal, e outras propostas nos anos subsequentes.

Depois de mais de 8h de audiência pública, militantes celebram o fim do debate sobre a SUG8 que ocorreu às 4h20, em 2014.

Participantes da última audiência pública da SUG 8 no Senado Federal em 2014

Mostramos à sociedade que é possível fornecer informações sobre maconha com qualidade e veracidade, que é possível cobrir e propagar os eventos canábicos de variados enfoques, do uso adulto ao medicinal, sem grandes empecilhos, e seguimos incentivando e apoiando o surgimento de novas propostas e formas de propagar notícias sobre cannabis.

Curiosidade:

Muitos acham que a Smoke Buddies é um coletivo antiproibicionista, mas somos uma empresa com CNPJ e geradora de empregos.

Nem tudo são flores

Como em qualquer sociedade, na canábica também há intempéries. De casos graves, como ter o domínio do site e todo o conteúdo subtraído, a outras desavenças, felizmente mínimas, obstáculos também fazem parte da nossa trajetória. Afinal, para tudo isso acontecer, dependemos de seres humanos e racionais que, em alguns momentos, acabam colocando a emoção no lugar da razão. 

Mas, como o que não mata ensina e fortalece, seguimos fazendo o nosso trabalho, porque a prioridade é informar, e isso demanda tempo e mão-de-obra. Afinal, são vários artigos diários sobre maconha publicados religiosamente na Smoke Buddies, desde o lançamento do site. 

SMOKE BUDDIES®

Acreditamos que a economia canábica pode e deve ser usada como um propulsor de mudanças legislativas, afinal, é mais do que sabido que a economia e a geração de empregos nos lugares regulamentados vão bem e obrigado. Visando isso, e para incentivar mais marcas e empresas a se legalizarem, a Smoke Buddies, desde 2015, é uma marca registrada no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI).

Nesta década, celebramos o surgimento de novas empresas, marcas e serviços, além da consolidação no mercado nacional de outras que nasceram na mesma época da Sb. 

Fomos responsáveis por direcionar o público a negócios e produtos de amigos e parceiros da Sb, ajudando na construção de marcas que, hoje em dia, possuem mais de meia década de vida, o que é para ser celebrado, considerando que o tempo de vida de uma pequena empresa no Brasil é de menos de dois anos.

Curiosidade:

O grupo da Smoke Buddies já foi utilizado por marcas, como a Puff Life, para pesquisa de gosto e concepção de um produto que atenda às necessidades do consumidor de maconha.

Com um time de profissionais que mudou e cresceu ao longo do tempo, a Smoke Buddies foi evoluindo naturalmente, ao agregar cada vez mais colaboradores especializados, gerar conteúdo para manter o debate aceso e dar espaço à militância, além de promocionar, através de campanhas publicitárias de marcas parceiras, produtos, serviços e eventos canábicos, nacionais e internacionais.

Grandes marcas foram e são parceiras até hoje da Sb, como a Bem Bolado Brasil, Ultra420, Puff Life, Garden HighPro, Open Green, Clínica Gravital, Raiz Cultivo Indoor, Namaste Technologies, Ganjah, aLeda, Papelito, Keep Rolling, Smoke Tattoo Lounge, King Bong, entre outras.

Normalize

Descobrimos ao longo da jornada que nossa principal essência — o que condiz bem com o nosso trabalho — é a normalização da maconha e de seus consumidores. Desde 2014, a maconha passou a ter o status “medicinal” ou, como achamos adequado dizer, terapêutica. Mas ainda assim, em 2016 e 2017, a ampla sociedade ainda tinha uma visão arcaica e preconceituosa da pessoa que consumia cannabis, ou seja o(a) maconheiro(a). 

E para essa desconstrução ocorrer, abrimos novos formatos de comunicar com e para todo o público que nos segue, caretas ou não. Em uma série de apresentações, lançamos e demos visibilidade a artistas plásticos, atores e atrizes, autores literários, fotógrafos, juristas, historiadores, políticos, empresários e várias pessoas comuns, como eu e você, que diante das suas opiniões e trabalhos se tornaram influenciadores canábicos. 

Pessoas influenciadoras de uma nova política de drogas sempre existiram, mas sempre é bom ter novos rostos e mais gente somando no coro e aumentando o grito para desconstruir a imagem preconceituosa da maconha. Muita desconstrução foi feita, mas ainda há muito o que fazer, afinal a sociedade é liderada por um preconceituoso e desgovernado.

Pelos Buddies

Nestes dez anos, fomos nos moldando aos meios e fins. Numa tradução literal, o termo “Buddies” é uma gíria usada para dizer “amigos”, que também lembra o termo em inglês para a parte que mais amamos da cannabis: o bud.

Entre nossas missões, além de todo aquele discurso conhecido, está exatamente isso: proporcionar sempre o melhor e o que há de mais inovador sobre a cannabis para vocês, Buddies, como chamamos carinhosamente os nossos membros, seguidores e envolvidos na Sb. 

Chegamos a esta primeira década com a sensação de dever cumprido e com excelência, tanto ao nosso público quanto aos nossos clientes. 

Muita novidade está por vir e teremos todo o ano de 2021 para explanar novidades referentes a esta década vivida, como ações, promoções, novos produtos e serviços que ilustrarão a nossa trajetória dos dez anos de Sb e, quem sabe, ditarão uma nova década. E, para dar início às comemorações, lançamos uma ação que vai presentear dez buddies com dez kits que simbolizam nossa história. Para participar, preencha um rápido formulário AQUI.

Muita gente já passou e passará por aqui, e, para não deixar ninguém de fora, prefiro não citar nomes neste momento. Com cada um, tivemos experiências e momentos diferentes, o que sempre é enriquecedor. Dedico esta explanação da nossa história a todos e todas que foram ou são administradores dos grupos, a toda equipe de comunicação, colunistas, aos nossos Buddies e, em memória, aos que já partiram.

E que venham os próximos dez!

Fotografia que mostra a ponta de um baseado, ao centro e na vertical, onde vê-se a flor, em tons de laranja e roxo, transbordando a seda, e um fundo amarelo. Foto: thcameraphoto.

#PraCegoVer: fotografia que mostra a ponta de um baseado, ao centro e na vertical, onde vê-se o bud, em tons de laranja e roxo, transbordando a seda, e um fundo amarelo. Foto: THCamera Cannabis Art.

Conheça também: 

A maconha no Brasil: uma breve história do legal ao ilegal

Dicionário da maconha: termos, expressões e nomes do universo canábico

#PraCegoVer: em destaque, fotografia que mostra a parte de baixo de uma lâmpada bulbo, em pé, contendo uma porção de buds, em fundo amarelo liso. Imagem: THCamera Cannabis Art.

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Sobre Dave Coutinho

Carioca, Maconheiro, Ativista na Luta pela Legalização da Maconha e outras causas. CEO "faz-tudo" e Co-fundador da Smoke Buddies, um projeto que começou em 2011 e para o qual, desde então, tenho me dedicado exclusivamente.
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