Consumidores de maconha se exercitam mais, segundo estudo com idosos
Ensaio realizado pela Universidade do Colorado em Boulder, nos EUA, mostra que indivíduos com 60 anos ou mais que usam cannabis são mais dispostos para exercícios físicos do que os não usuários. As informações foram traduzidas pela Smoke Buddies do Marijuana Moment
A maconha arruína uma rotina de exercícios? Você pode se surpreender. Um novo estudo realizado com americanos idosos descobriu que os consumidores de cannabis tenderam a fazer mais exercícios formais e se envolver em mais atividades físicas do que os não consumidores durante o período de quatro meses do experimento.
Embora os autores alertem que as descobertas são preliminares, elas contribuem para um crescente corpo de evidências que desafia o estereótipo do ‘maconheiro preguiçoso’.
“Comparado aos idosos não usuários”, diz o estudo, da Universidade do Colorado (CU) em Boulder, “os idosos usuários de cannabis tinham um índice de massa corporal mais baixo no início do estudo de intervenção com exercício, envolveram-se em mais dias de exercício na semana durante a intervenção, e estavam engajados em mais atividades relacionadas ao exercício na conclusão da intervenção”.
Em outras palavras, não apenas os adultos acima de 60 anos que usam maconha geralmente estavam em melhor forma do que seus colegas não usuários de cannabis, como também foram mais receptivos a um “ensaio de intervenção com exercício” de quatro meses — basicamente um regime de atividade física prescrito por um clínico.
“Essas descobertas sugerem que pode ser mais fácil para os idosos que endossam o uso de cannabis aumentar e manter seu comportamento de exercício, potencialmente por que os usuários de cannabis têm menor peso corporal do que seus pares que não usam”, escreveram os autores do estudo, uma equipe do Departamento de Neurociência e Psicologia da CU. “No mínimo, as evidências sugerem que o uso de cannabis não prejudica a capacidade de idosos de se envolverem em atividades físicas, de participarem de um programa de exercícios supervisionados ou de aumentarem sua aptidão física como resultado da atividade física“.
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“Neste estudo, o uso atual de cannabis foi associado a um IMC mais baixo e a mais comportamentos de exercício em idosos saudáveis que desejam aumentar sua atividade física”.
Os pesquisadores disseram que a análise, publicada este mês, é especialmente importante porque cada vez mais americanos estão consumindo maconha para uso médico ou pessoal. “Os adultos com mais de 50 anos de idade”, observa o estudo, “são a população de mais rápido crescimento de consumidores de cannabis nos EUA, com taxas de prevalência nacionais estimadas em 9,1% em 2013”. Desse grupo, pessoas com 65 anos ou mais mostraram aumentos ainda maiores no uso.
Embora esses números possam ter vários anos, a tendência de aumento do uso de maconha entre os idosos continuou.
“Não vimos um grande aumento no consumo” na maioria das faixas etárias, disse o então governador do Colorado John Hickenlooper (D) à Rolling Stone em 2018. “O único aumento no consumo ocorre entre os idosos, que pensamos ser os Baby Boomers sentindo consequências de ações passadas ou artrite e as dores do envelhecimento — as pessoas acham que a maconha é melhor solução para dor do que os opioides ou outras coisas”.
No entanto, com tantos americanos idosos não alcançando os níveis de atividade diária recomendados, os pesquisadores do novo estudo queriam entender melhor como a cannabis pode afetar as rotinas de exercícios.
“Dada a pletora de consequências negativas à saúde associadas à inatividade e os fatores de proteção associados ao exercício”, eles escreveram, “devem ser feitos esforços para entender fatores, como o uso de cannabis, que podem afetar o envolvimento dos idosos no exercício”.
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O estudo analisou adultos americanos com 60 anos ou mais que os pesquisadores classificaram como sedentários, definidos como concluindo menos de 80 minutos de atividade física moderada por semana. Alguns foram designados para um programa de treinamento de atividade física moderada, enquanto outros foram colocados em um programa com exercícios de baixa intensidade. Um total de 164 participantes completou o estudo através do ponto de verificação de oito semanas, com 153 passando pelo ponto de tempo de 16 semanas.
Os pesquisadores mediram o índice de massa corporal (IMC) dos participantes e outros parâmetros de saúde no início, no meio e no final do período do estudo. Os participantes também relataram seu comportamento de exercícios em diários. Todos os programas de exercícios dos participantes incluíam treinamento supervisionado no centro de pesquisa três dias por semana, observa o artigo. “Assim, esperamos que ambos os grupos estejam se exercitando um mínimo de 3 dias por semana”.
“Esses dados preliminares sugerem que o status atual de uso de cannabis não está associado a um impacto negativo no condicionamento físico e nos esforços para aumentar o exercício em idosos sedentários”.
Os pesquisadores admitem que não sabem ao certo por que o uso da cannabis está associado a escores mais baixos de IMC ou por que as pessoas que consumiram maconha foram melhores em seguir suas agendas de treino. “Trabalhos futuros”, afirma o artigo, “devem empregar métodos que permitam uma exploração direcionada dos mecanismos pelos quais a cannabis pode estar associada ao exercício, seja através do menor peso corporal, aumento do prazer, diminuição da dor ou recuperação mais rápida”. Todos esses fatores em potencial, observou a equipe, foram sugeridos por pesquisas existentes.
Um estudo separado da Universidade do Colorado publicado no ano passado descobriu que a maioria dos consumidores de maconha relatou que o uso de cannabis antes ou depois do exercício melhora a experiência e ajuda na recuperação.
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O novo estudo destaca uma associação entre uso de cannabis e exercício, mas deixa muitas perguntas sem resposta. Os pesquisadores não perguntaram aos participantes, por exemplo, se eles usavam maconha antes, durante ou após o exercício. Os autores escreveram que a medida do uso de cannabis no estudo “foi grosseira e carece de detalhes”, como a frequência e a quantidade de maconha que cada participante consumia.
“Não consultamos qual forma de administração (isto é, fumada, vaporizada, comestível, tópica) ou conteúdo de canabinoides (ou seja, potência de THC e/ou CBD) foi usado”, diz o estudo. “Também não questionamos se as percepções dos usuários sobre qualquer relação entre o uso de cannabis e o exercício, como o aumento do prazer e/ou a recuperação do exercício ou a diminuição da percepção da dor, podem ter impulsionado a associação entre o grupo de cannabis e exercício”.
Os pesquisadores também não perguntaram aos participantes sobre quaisquer efeitos colaterais negativos do uso de maconha.
Limitações à parte, os pesquisadores argumentam que suas descobertas devem incentivar mais pesquisas sobre como a maconha e o exercício podem coexistir. “Pode ser que diferentes tipos de exercícios, como aqueles que exigem coordenação motora fina mínima ou apresentem baixo risco de lesões, possam estar mais positivamente associados ao uso de cannabis”, eles escrevem.
Talvez de maneira mais otimista, os autores sugerem que a cannabis possa até ser usada para incentivar os idosos a permanecerem ativos. “Embora os resultados sejam preliminares”, diz o estudo, “com pesquisas adicionais mais abrangentes e rigorosas necessárias, a descoberta de um papel da cannabis como potencial facilitador da atividade física entre idosos é uma promessa“.
O artigo começa na página 420 da edição de julho do American Journal on Health Behavior.
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#PraCegoVer: em destaque, fotografia em perfil de um senhor de cabelos e bigode brancos que acende um pipe de vidro, em um ambiente interno, onde pode-se ver decorações na parte superior de uma lareira. Foto: cortesia de Sonya Yruel (Drug Policy Alliance) para o Marijuana Moment.
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