Conheça a brasileira que pretende derrubar o preconceito sobre a cannabis no Brasil

Morando na Califórnia (EUA) há sete anos, a empreendedora enxerga oportunidades no mercado brasileiro de cannabis e bem-estar, mas também a necessidade de desmistificar o uso da planta no país. As informações são da Forbes Money

“Nós somos introduzidos à cannabis de forma muito preconceituosa”, diz a empreendedora Thainá Bak, que planeja oferecer um novo olhar sobre a utilidade da planta no Brasil. Seu recado é simples, mas ainda difícil de ser aceito em meio a tantos tabus. “Nós colocamos a cannabis em duas caixinhas: uso medicinal para doenças crônicas ou uso como entorpecente. Precisamos enxergar que não há apenas essas duas vertentes”. E é pensando nisso que a jovem decidiu abrir o seu próprio negócio para discutir o papel do CBD (canabidiol) na saúde mental e no mercado de bem-estar.

Aos 28 anos, Thainá fundou a Nowdays, marca que tem como propósito desmistificar o uso da planta no Brasil. E claro, com a aprovação da Anvisa, vender gummies de cannabis em solo nacional. No entanto, mais do que explorar seu país de nascença, a empreendedora também tem uma forte atuação nos Estados Unidos, mais especificamente na Califórnia, onde mora há sete anos. Inclusive, foi por conta do cenário de legalização do estado norte-americano que a jovem se aprofundou na temática. “Cheguei aqui em 2015 e vi essa transformação do mercado de camarote”, conta animada.

“Nessa época, a cannabis já estava estabelecida no bem-estar das pessoas da Califórnia, então não fazia sentido manter a burocracia. Em menos de um ano em que eu estava aqui, o uso se tornou recreativo (adulto)”, relembra. Para Thainá, que cresceu em uma geração que já enxerga o uso da planta com bons olhos, a movimentação em prol da normalização foi uma grata surpresa. Enquanto trabalhava de baby-sitter para se manter no país, começou a utilizar a planta para desestressar e dormir bem. Após um tempo, por coincidência do destino, conseguiu um emprego em uma distribuidora de cannabis. “Mais do que consumidora, comecei a conhecer o mercado por dentro”.

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Esse era apenas o começo de uma experiência que a deixou quase pronta para empreender no segmento. Mais do que o cargo na distribuidora, Thainá ainda ressalta a importância da sua atuação na Glossier, marca de beleza que tem uma relação com a geração Z, onde trabalhou por cerca de um ano e meio. “Me aproximei ainda mais da comunicação com as gerações mais jovens. Consegui entender o que elas esperam das marcas”. E foi com esse mix de aprendizados que a empreendedora começou o ano de 2020.

“Eu saí da Glossier e o mundo virou de ponta cabeça”, relembra. Primeiramente, passou por um processo seletivo com seis etapas na Apple Music, sendo desclassificada na última entrevista. “Meu mundo acabou, mas podia ficar pior: a pandemia chegou com tudo na Califórnia”. Dentro de casa, com medo dos acontecimentos, Thainá ainda relembra ter ficado extremamente abalada com os protestos do Black Lives Matter, que inundaram os Estados Unidos no primeiro semestre do ano passado. Vivendo em um mundo turbulento, sua solução para a ansiedade era o canabidiol — também conhecido como CBD, é uma das mais de 400 substâncias encontradas na cannabis.

Sem a presença do THC, uma das substâncias responsáveis pelos efeitos psicoativos da maconha, Thainá utilizava a planta para ficar tranquila e produtiva durante o dia. “Estava me fazendo muito bem, então comecei a conversar com meus amigos sobre o assunto. Mas, eles sempre perguntavam: ‘CBD não é para quem tem doença crônica?’. E, na realidade, a substância pode ser utilizada para diversos casos, tudo depende da dosagem”, explica a jovem. “Percebi que mesmo a nossa geração, que não fomenta tantos tabus, não entende os reais benefícios da cannabis”. E foi a partir dessa inquietação que a Nowdays nasceu.

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Nasce uma empresa

“Na Califórnia, profissionais renomados usam a cannabis para o bem-estar em suas rotinas. Falta essa visão no Brasil, onde o mercado de wellness está muito limitado a skincare e vegetarianismo”, destaca Thainá. “Eu vi que havia um mercado a ser explorado no Brasil e tinha meu background em comunicação com pessoas mais jovens. Decidi arriscar”.

Com US$ 20 mil que tinha poupado em seu último emprego, começou a reunir amigos designers e jornalistas para estruturar a Nowdays. A estratégia pensada inicialmente se mantém: a empreendedora quer conversar com o mercado brasileiro antes de começar a vender. “Não faz sentido começarmos com produto em uma sociedade que não sabe direito do que se trata”, explica. “Queremos alimentar a plataforma de conteúdo por, pelo menos, seis meses para depois abrir o e-commerce”.

Embora a venda ainda esteja em espera, os produtos já estão passando pela aprovação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Com uma dosagem inferior a 1.500 mg de CBD, estão distantes de um uso medicinal para doenças crônicas graves, que necessitam de mais de 4.000 mg. “Nosso foco é ansiedade, insônia e falta de atenção. Esse é o local da Nowdays. Teremos um produto para o dia e outro para a noite”, ressalta a empreendedora. “No Brasil, ainda estamos dependentes de tarja preta. Meu papel é apresentar esse método de bem-estar e lutar efetivamente para que as pessoas entendam a importância do assunto”.

Para ela, a maior dificuldade é passar pelas burocracias no mercado brasileiro. Mesmo após a aprovação da Anvisa, o paciente que pretende comprar o CBD precisa de uma receita médica e uma autorização da Anvisa para importar o produto, o que eleva os valores do processo. “Nós fizemos uma parceria com uma fazenda orgânica na Califórnia, a Golden State Hemp, em Fresco. Eles vão ser nossos fornecedores. No entanto, o que realmente sai mais caro é a importação”. No mais, a empreendedora acredita que os produtos — em formato de gummies ou óleos — serão vendidos em uma média de US$ 20 a US$ 30.

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A economia do mundo canábico

Tudo melhorou na Califórnia quando eles aprovaram o uso da cannabis de forma recreativa, inclusive na produtividade do trabalho”, destaca a jovem. Em termos práticos, pode-se dizer que a economia do estado norte-americano realmente foi movimentada pela mudança. Em 2020, a Califórnia arrecadou cerca de US$ 1 bilhão em impostos sobre vendas da planta na indústria local.

É um mercado lucrativo e atrativo para investidores, e Thainá sabe bem disso. Após trabalhar sozinha por cerca de 10 meses na estruturação da Nowdays, a empreendedora conseguiu o investimento do PGP Capital, banco de Los Angeles que possui um núcleo exclusivo para o mercado canábico nos EUA e no Canadá. “No momento, eles têm mais de quatro empresas do segmento aqui na Califórnia. Uma delas, inclusive, acabou de fazer um IPO”, conta animada.

Mais do que um apoio financeiro, a empreendedora enxerga a aproximação do PGP Capital como um sinal de que as coisas estão no rumo certo. “Eles adoraram a empresa e acreditam no Brasil como um mercado do futuro. Para eles, é perfeito ter uma brasileira para conversar com esse público”, revela. “Nossa relação foi tão boa que um dos parceiros do banco decidiu se tornar nosso CFO”.

Otimista sobre os próximos passos, Thainá espera lutar duramente contra a desinformação. “Nem tudo que é relacionado a cannabis deixa chapado. Meu objetivo primordial é explicar que qualquer um pode usufruir da substância para seu próprio bem-estar. De médicos a engenheiros”, finaliza.

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#PraCegoVer: fotografia que mostra Thainá Bak, de roupa branca e verde, sentada em uma poltrona bege, em uma sala de estar com tons desta mesma cor. Imagem: Divulgação.

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