Comunidade médica precisa endossar a cannabis para uso medicinal, dizem especialistas

Foto que mostra parte do corpo de um médico, com jaleco branco e estetoscópio com detalhes em azul pendurado no pescoço, atrás de uma mesa branca, onde se vê dois potes transparentes contendo flores de cannabis (maconha), e escrevendo em um caderno. Imagem: Thrillist.

Pesquisadores britânicos descobriram que centenas de milhares de pacientes estavam se automedicando com produtos de cannabis ilegais como consequência da resistência dos profissionais médicos em prescrever medicamentos à base de maconha. As informações são do Diário da Saúde

As atitudes em relação aos produtos derivados da maconha (cannabis) para uso medicinal precisam mudar, viabilizando seu uso amplo para ajudar a aliviar a dor dos pacientes, sugerem pesquisadores.

David Nutt e seus colegas do Imperial College de Londres descobriram que centenas de milhares de pacientes apenas no Reino Unido, onde eles realizaram seu estudo, estavam se automedicando com produtos ilegais à base de cannabis para uso medicinal devido ao fato de que muitas das profissões médicas e farmacêuticas até agora não adotaram a prescrição de produtos legais baseados na maconha para seus pacientes.

Ou seja, não há meramente uma falta de legislação, mas de reconhecimento da legislação pelos profissionais de saúde.

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Em novembro de 2018, quando o Reino Unido tornou legais os produtos à base de cannabis para uso medicinal, a maioria das pessoas presumiu que eles seriam imediatamente disponibilizados aos pacientes, mas isso não aconteceu.

Consequentemente, alguns pais de crianças com epilepsia grave continuam a viajar para o exterior para que seus filhos tenham acesso ao único tratamento que se mostrou eficaz para sua condição — a medicação canabinoide.

Além disso, estima-se que a grande maioria dos estimados 1,4 milhão de usuários de cannabis medicinal no Reino Unido apele para o mercado ilegal, com seus problemas de ilegalidade e qualidade, conteúdo e proveniência desconhecidos.

E isto apesar do fato de que existem evidências substanciais de eficácia dos produtos de cannabis para uso medicinal em muitas doenças, conforme identificado na revisão da Academia Nacional de Ciências dos EUA em 2017.

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Resistência dos médicos

Os pesquisadores constataram que parece haver uma série de diferentes barreiras à prescrição de derivados da maconha que precisam ser superadas a fim de melhorar o acesso dos pacientes à cannabis medicinal.

Essas barreiras incluem preocupações da comunidade médica sobre as evidências científicas, embora os pesquisadores ressaltem que essas preocupações são equivocadas porque muitas abordagens centradas no paciente, incluindo resultados relatados pelo paciente, farmacoepidemiologia (estudo dos usos e efeitos dos medicamentos) e ensaios clínicos envolvendo um único paciente, podem ser aplicadas.

Evidências de bancos de dados internacionais sugerem que essa nova classe de medicamentos ofereceu um avanço significativo no tratamento de muitos pacientes para os quais os medicamentos tradicionais se mostraram ineficazes ou mal tolerados.

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Práticas injustificáveis

Os pesquisadores identificaram várias razões para explicar a resistência ao uso dessas drogas, como o fato de o uso de produtos de cannabis medicinal ser algo impulsionado pelos pacientes e não pelos médicos, o que pode causar ressentimento a este último grupo.

Além disso, a atual insistência do governo em que a cannabis medicinal seja considerada um produto “especial” representa desafios para quem os prescreve.

Por exemplo, os médicos enfrentam uma burocracia organizacional adicional e precisam se responsabilizar por qualquer dano não previsto causado pelo medicamento, ao contrário de qualquer outro produto farmacêutico, cuja responsabilidade é do fabricante.

Outra razão para a resistência à prescrição dos produtos derivados da maconha é que, por quase 50 anos, a profissão médica se concentrou nos riscos da cannabis, ressaltando seus malefícios, incluindo a esterilidade masculina, câncer de pulmão e esquizofrenia. Embora agora tenham sido amplamente desmentidos e geralmente sejam o resultado de um uso recreativo, em vez de um uso médico prescrito, muitos médicos parecem não saber disso.

“Esperamos que este documento ajude os formuladores de políticas e os prescritores a compreender os desafios da prescrição e, assim, ajudá-los a desenvolver abordagens para superar a atual situação altamente insatisfatória”, concluíram os pesquisadores.

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#PraCegoVer: em destaque, foto que mostra parte do corpo de um médico, com jaleco branco e estetoscópio com detalhes em azul pendurado no pescoço, atrás de uma mesa branca, onde se vê dois potes transparentes contendo flores de maconha, e escrevendo em um caderno. Imagem: Thrillist.

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