Como estão os fundos de cannabis após o “boom” vivido em 2021?

Foto que mostra, em plano fechado, um pequeno ramo de cannabis (maconha) sobre um leque de notas de dólares. Imagem: Marco Verch | Flickr.

Os investimentos são aplicados em empresas com grande risco regulatório — crescimento do setor é dependente principalmente das regulamentações sobre o tema nos países em que as empresas atuam. Confira, a seguir, a análise da TradeMap

No início de 2021, os fundos de cannabis negociados no Brasil tiveram um “boom” histórico movido pela euforia com a eleição de Joe Biden como presidente dos Estados Unidos. As expectativas, porém, não foram correspondidas ao longo do mandato e as ações começaram a despencar.

Fundos brasileiros como Trend Cannabis, da corretora XP, e Vitreo Canabidiol, da fintech Vitreo, são alguns que investem no setor. Os dois são os mais antigos do país entre os que têm a maior parte do portfólio voltado para renda variável.

A alocação de investimentos desses fundos é feita, direta ou indiretamente, em ações de empresas relacionadas com o processo de cultivo legal, produção, marketing ou distribuição de cannabis para fins tanto medicinais quanto de uso adulto.

Há quase um ano e meio, no dia 10 de fevereiro de 2021, os dois atingiram a máxima histórica. O Trend Cannabis registrou uma alta de 84% desde o lançamento (13/12/2019), enquanto o Vitreo Canabidiol teve valorização de 156% desde o seu início (28/10/2019).

De lá para cá, ambos começaram a despencar. Até o dia 30 de junho de 2022, o fundo da XP registrava perda de 67,8% desde o lançamento, enquanto o da Vitreo tinha queda de 55,1% — a contar do pico de fevereiro de 2021, os dois caem cerca de 80%.

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Para que o leitor compreenda melhor, um fundo é organizado sob a forma de condomínio e o seu patrimônio é dividido em cotas. Estas cotas se valorizam ou se desvalorizam de acordo com os resultados dos investimentos feitos pelo gestor do fundo.

A desvalorização vista no momento para os dois fundos é motivada pela quebra de expectativas que havia em torno da eleição de Joe Biden, um presidente democrata, encarado como mais progressista em relação a este tema.

Os investidores esperavam a aprovação de alguns projetos que fossem acelerar o avanço da indústria de cannabis, mas estes não tiveram continuidade ao longo do governo.

O principal projeto é o Safe Banking Act, que permitiria que as instituições financeiras do país oferecessem serviços de crédito para a indústria de cannabis que opera de forma legal (sob as regulamentações dos Estados), sem que houvesse punições para as instituições.

Em fevereiro deste ano, o projeto foi aprovado pela Câmara dos Representantes dos EUA, mas não houve mais progresso desde então. Para que o projeto vire lei, ainda é necessário passar pelo Senado e, caso seja aprovado, deverá ainda passar pela sanção do presidente.

Com a paralisação dos projetos, as ações das companhias ligadas à indústria de cannabis tomaram outro rumo e derrubaram, junto com elas, os fundos que as têm em carteira. Mas o pior não é isso: a maioria dos investidores entrou bem depois do boom dos fundos e até então só viu seu patrimônio perder valor.

Durante o pico de alta, o fundo Trend Cannabis registrava cerca de 4,7 mil cotistas. Oito meses depois, no dia 22 de outubro de 2021, o fundo atingiu o patamar de 25,5 mil cotistas. O número já caiu desde então, mas segue bem maior que o do pico. Até 29 de junho de 2022, o fundo da XP contava com 20,6 mil cotistas.

Enquanto isso, o fundo da Vitreo, que também tinha 4,7 mil cotistas no pico, saltou para 8,6 mil após cinco meses e, até o dia 30 de julho de 2022, contava com 6,6 mil cotistas.

Para se ter ideia, um investidor que aplicou R$ 1 mil no fundo da XP na data em que o fundo mais teve cotistas teria R$ 410 hoje. O cotista que alocou R$ 1 mil no fundo da Vitreo na data em que o fundo atingiu pico de cotistas teria R$ 299,30 hoje.

Além disso, o cotista que entrou na onda da erva também se deu mal. Um investidor que aportou  R$ 1 mil em qualquer um dos fundos, bem no pico da alta, estaria hoje com cerca de R$ 175.

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Vale a pena investir na indústria de cannabis?

Ainda há um grande tabu entre as pessoas ao falar de cannabis, apesar de ser um produto versátil, que pode ser utilizado no setor de tecidos, cosméticos, alimentação, entre outros.

O extrato da planta pode ser utilizado, também, de forma medicinal tanto para tratamento terapêutico quanto para tratamento de doenças psiquiátricas e neurodegenerativas, como esquizofrenia, mal de Parkinson, epilepsia etc.

Portanto, se os projetos de lei avançassem, o produto entraria como um bem essencial para muitas pessoas que necessitam do uso para manter-se saudável. Este é um ponto positivo para o segmento, que teria um produto pouco elástico.

No termo econômico, um produto pouco elástico é aquele em que a variação no preço não afetaria a demanda de forma brusca, ou seja, a empresa conseguiria facilmente reajustar o preço sem que houvesse queda no consumo.

Por outro lado, a falta de acesso ao crédito é um dos maiores obstáculos para o setor. As instituições financeiras dos EUA se recusam a oferecer crédito para o setor por incerteza de leis que variam de estado para estado, além de leis federais divergentes.

Com isso, a maioria dos investimentos na indústria deve ser feito com dinheiro vivo, o que dificulta o avanço econômico deste setor.

Além disso, para investir no segmento é necessário ter “estômago”, uma vez que a oscilação desses investimentos é bem superior à média do mercado.

Os investimentos são aplicados em empresas com grande risco regulatório. Além disso, são empresas novas que ainda não se provaram no tempo, o que a torna um ativo mais volátil.

Para que o investidor veja o retorno, é necessário contar com o longo prazo. Pode não ser interessante, portanto, para aqueles que esperam dinheiro rápido, visto que o crescimento desse setor é dependente do avanço das pesquisas, mas principalmente das regulamentações sobre o tema nos países em que as empresas atuam.

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#PraTodosVerem: fotografia mostra um pequeno ramo de cannabis sobre um leque de notas de dólar. Imagem: Marco Verch.

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