Como enfrentar os enjoos?

Partes de folhas de uma planta de maconha por onde escorrem gotas de água e a parte de cima de um frasco de cor âmbar que está sob um conta-gotas que tem uma gota de substância oleosa em sua ponta. Enjoo.

Estudo realizado por cientistas do Canadá revela que o canabidiol (CBD), substância ativa da maconha, é eficaz no tratamento contra o enjoo, que acomete, entre outras, gestantes e pacientes de quimioterapia. Saiba mais no artigo de Suzana Herculano-Houzel* para a Folha de S.Paulo.

Enjoo é uma sensação poderosa. Até hoje não como mais goiaba, desde que uma me deixou de cama, enjoada, por três dias quando ainda criança.

Os vestidos e casacos lindinhos que usei no começo da primeira gravidez (e olha que o enjoo foi até ligeiro, comparado com as histórias de terror das grávidas na família) eu tive que dar —não suportava nem olhar para eles no armário.

Até os livros que tentei ler na época eu nunca mais quis abrir. A lembrança que acompanhava a visão de goiaba, casaco ou livro era desagradável o suficiente para me manter longe.

Se o enjoo que acompanha a boa causa da gravidez desejada já é um desalento, imagine aquele que é efeito colateral garantido de um tratamento de quimioterapia, que já seria ruim por si só. Encarar um câncer e mais a náusea é sacanagem dupla do universo.

Para a felicidade futura de todos aqueles que um dia serão poupados de enjoos de outra forma inevitáveis, há neurocientistas que acham perfeitamente justificado provocar náusea em ratos de laboratório em busca de compreender de onde ela vem e como evitá-la. E para felicidade geral, há países que apoiam pesquisa com maconha e derivados.

Acontece que o canabidiol, a outra substância ativa da maconha que, ao contrário do THC, não dá barato, é sabidamente um tratamento eficiente contra o enjoo —e profilático, também.

Em artigo publicado recentemente na revista eNeuro, de acesso aberto, uma equipe de pesquisadores no Canadá descobriu que substâncias que dão enjoo em ratos fazem isso ao causar um pico de liberação de duas vezes a quantidade normal de serotonina no córtex da ínsula, que monitora as sensações fisiológicas do corpo. Sem esse pico, os ratos não tem engulhos.

Na versão roedora do meu cérebro condicionado na infância a associar goiaba com enjoo, ratos que aprenderam a associar um sabor doce a intoxicação com lítio passaram a mostrar o tal pico de serotonina na ínsula em resposta ao sabor, seguido de engulhos. Mas tudo vai embora se a provação é precedida de canabidiol.

Talvez isso ajude a desfazer o mito de que serotonina dá prazer; serotonina dá é enjoo, se liberada na ínsula. Aliás, essa é bem provavelmente a causa da náusea que algumas pessoas sentem como efeito colateral de antidepressivos, nos primeiros dias de tratamento. Mas agora que a causa é conhecida, a náusea do remédio pode ter jeito.

E também a náusea aprendida. Quem sabe um dia ainda como outra goiaba?

*Suzana Herculano-Houzel é bióloga e neurocientista da Universidade Vanderbilt (EUA).

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#PraCegoVer: fotografia (de capa) de partes de folhas de uma planta de maconha por onde escorrem gotas de água e a parte de cima de um frasco de cor âmbar que está sob um conta-gotas que tem uma gota de substância oleosa em sua ponta.

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