Clever Leaves fecha acordo com empresas brasileiras e promete cannabis de alta qualidade

Fotografia de um vasto cultivo interno de maconha, com luminárias e teto brancos. Imagem: Clever Leaves / divulgação.

Colombiana aposta na certificação de boas práticas europeia; CEO Kyle Detwiler defende que nem todo mundo precisa cultivar cannabis. As informações são do Cannabiz / Veja

“A indústria farmacêutica não planta seus insumos”. Apoiado nessa premissa, o americano Kyle Detwiler, CEO da Clever Leaves, se apresenta como o agricultor preferencial para fornecer insumos extraídos da cannabis. “Trabalhamos por mais de quatro anos e investimos um quarto de bilhão de dólares para atingir esse padrão de cultivo e processamento. Isso nos coloca em uma posição privilegiada para negociar com as indústrias interessadas nas substâncias obtidas a partir da planta”, disse em entrevista exclusiva ao Cannabiz na semana passada. Detwiler se refere essencialmente à certificação concedida por autoridade da União Europeia em julho do ano passado e considerada referência no segmento farmacêutico. Com o documento na mão, a Clever Leaves pretende explorar as oportunidades abertas no Brasil pela RDC 327/2019 da Anvisa, que estabelece regras e critérios para a importação, fabricação e comercialização de produtos com cannabis.

Ao contrário das inúmeras empresas que atuam por aqui importando seus medicamentos com base na RDC 17/2015, que disciplina o uso compassivo, a multinacional colombiana aposta na frente farmacêutica para dominar o mercado brasileiro. “O Brasil encontrou um caminho interessante para regulamentar a cannabis. Ao privilegiar o padrão farmacêutico para o registro dos produtos, o país vai oferecer aos pacientes terapias de altíssima qualidade a preços bastante acessíveis”, afirma. Para produzir os IFAs (insumos farmacêuticos ativos) que pretende vender barato e em grandes volumes, a Clever Leaves mantém 177 mil metros quadrados de plantações de cannabis, na Colômbia e em Portugal. Em sua unidade de extração certificada pelos europeus, nas cercanias de Bogotá, a empresa tem capacidade para processar 104 toneladas de flores desidratadas por ano, com expectativa de expansão para 300 toneladas/ano no curto prazo, dependendo de pequeno investimento, segundo seu prospecto para investidores.

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Com tamanha oferta de biomassa, Detwiler minimiza as vantagens de uma eventual liberação do cultivo de cannabis no Brasil, ideia que tramita na Câmara dos Deputados no âmbito do PL 399/2015. “Nem todos os países precisam participar de todas as etapas da cadeia da cannabis medicinal. Acredito que as empresas brasileiras serão muito mais eficientes ao se concentrar em estratégias comerciais e de distribuição, para ampliar o acesso da população às terapias com a planta. Já há bastante matéria-prima disponível a preços acessíveis, nem todo mundo precisa cultivar”, defende. Para o executivo, a criação de uma agroindústria da cannabis no Brasil voltada à produção de insumos farmacêuticos certificados consumiria anos de trabalho e custaria milhões de dólares, deixando os pacientes desassistidos no período.

Agora, menos de três anos após o início de seu primeiro cultivo na Colômbia, em novembro de 2018, a Clever Leaves acredita estar pronta para conquistar mercados mundo afora como uma das pioneiras no fornecimento à indústria. “De fato, se você olha para o segmento compassivo, há uma certa saturação, com excesso de oferta. Quando, no entanto, você vê o lado dos insumos com grau farmacêutico de qualidade e certificado internacional de boas práticas, os números continuam bastante favoráveis”, defende Detwiler. Na prática, a Clever Leaves está se posicionando para vender, a preços reduzidos, as substâncias extraídas da planta para qualquer indústria que pretenda estabelecer uma marca de cannabis no Brasil ou em qualquer outro lugar do mundo. Nas metas para o biênio 2021/2022, Detwiler incluiu as primeiras exportações comerciais a partir de Portugal, vendas com marca própria na Alemanha e o lançamento do primeiro produto de CBD nos Estados Unidos. “Nosso objetivo sempre foi produzir e vender remédios baratos”, repete.

Entre as empresas brasileiras, Detwiler já fechou acordos com a GreenCare, a Verdemed e a Entourage Phytolab. As parcerias foram celebradas no modelo conhecido como “white label”, em que a Clever Leaves fornece os IFAs e os compradores finalizam a industrialização para comercializá-los com suas próprias marcas. No acordo com a GreenCare, por exemplo, recebeu US$ 2 milhões no ato e o compromisso de aquisição de outros US$ 4 milhões em produtos pelos próximos três anos. Com a Verdemed, além do Brasil, a Clever Leaves vai fornecer cannabis medicinal também para o Peru, mercado onde essa parceira tem presença relevante. A Entourage foi ainda mais ousada, com um contrato de US$ 11,4 milhões, também em três anos — aqui incluídas formulações prontas para uso compassivo, além dos IFAs.

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Detwiler vê espaço para uma expansão mais agressiva na região. “Somos os únicos produtores de cannabis na América Latina com padrão farmacêutico certificado por autoridade sanitária europeia. Essa é uma vantagem considerável, uma vez que nossos potenciais concorrentes levarão pelo menos o mesmo tempo e precisarão da mesma quantidade de capital para chegar aonde estamos hoje”, completa. Assim, se os fundamentos do negócio estiverem corretos, a entrada da cannabis medicinal da Clever Leaves no Brasil pode deteriorar as condições econômicas para o estabelecimento de cultivos legais competitivos por aqui. Para isso acontecer, no entanto, é preciso que os canabinoides da companhia cheguem a preços substancialmente mais baixos que os praticados pelas empresas que hoje têm rótulos registrados no país: GW Pharma e Prati-Donaduzzi. Teremos a resposta quando os produtos da GreenCare, da Verdemed e da Entourage chegarem às farmácias.

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#PraCegoVer: fotografia de um vasto cultivo interno de maconha, com luminárias e teto brancos. Imagem: Clever Leaves / divulgação.

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