No circo da maconha, o palhaço é você

Fotografia, em P&B e visão aérea, da folhagem de uma planta de cannabis (maconha) em período vegetativo de crescimento. Foto: 2H Media | Unsplash. palhaço

Considerada ao mesmo tempo droga e remédio, a canábis ainda é uma incógnita no Brasil

O Brasil é um país imenso, que se cobrir com tenda vira circo. A atual situação da maconha por aqui não deixa dúvida de que os palhaços somos nós. Se no noticiário da manhã a gente festeja novas autorizações de cultivo de canábis para pacientes, à noite muita gente comemora a execução de cultivadores de maconha durante batida da polícia em algum rincão brasileiro.

Ah, mas cultivar maconha recreativa é crime, né?! Canábis medicinal é outra história, diria o sabichão que não consegue ligar lé com cré. Ora, grosso modo a planta é a mesma, ainda que existam cepas com concentrações diferentes de canabinoides. Assim como dá na mesma plantar alface lisa, roxa ou americana. Lançando mão de metáfora, a justiça brasileira já protege o cidadão que come salada verde por indicação do nutricionista, mas ainda castiga com cadeia o outro que coloca por conta própria a alface no burgão. Bom senso manda lembranças.

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Isso porque o cultivo, o consumo e o comércio de canábis in natura são considerados crimes, que têm como vítima a saúde pública. Oi? Mas as substâncias presentes na planta já não são consideradas medicinais pela Anvisa? Correto, são consideradas terapêuticas, boas para a saúde, mas apenas se o paciente comprar da indústria farmacêutica ao custo de um rim. Se o infeliz plantar o próprio remédio, aquilo supostamente será destrutivo para seu organismo ou de terceiro, e portanto ele deve ser criminalizado e punido. É como se te permitissem comprar e consumir massa de tomate, mas te ferrassem feio se você cultivasse o tomate e produzisse o próprio extrato. Black Mirror feelings

Num país em que a ministra dos direitos humanos afirma que a gravidez precoce “está muito atrelada” ao uso do TikTok, nada mais normal do que um bando de autoridades caquéticas acreditar, em 2022, que a canábis frita neurônios e promove a vagabundice. O que vale para esses espíritos desgastados não é o método científico ou os fatos jogados na mesa. Para essas mentes obsoletas e desnecessárias, o que importa é a convicção pessoal, formada geralmente na infância e juventude, e que se cristaliza e se prolonga no tempo, conduzindo a ignorância através das gerações.

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A canábis já é uma realidade no Brasil, seja para uso medicinal ou social. Empresas se estapeiam para vender o canabidiol, tabacaria virou head shop, bancos de semente pipocam por aí. Quem sempre atacou a maconha, agora troca o Rivotril por oleozinho CBD. Vovó e vovô andam mais felizes e dispostos, inclusive.

O obstáculo à liberdade da planta sempre é aquele tiozão, que pode estar no zap, no Judiciário ou no Congresso. É ele que ferra tudo. Descolado da realidade, durante o dia defende um mundo livre das drogas e à noite brinda a sua virtude com talagadas generosas de vinho ou whisky. No alto de sua estultice e no fim de sua carreira, imagina ser uma pessoa atualizada, mas nunca fez um pix na vida. Apesar disso, é o dono do espetáculo.

O Brasil é um circo em que o palhaço é a própria plateia.

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#PraTodosVerem: fotografia, em P&B e visão aérea, da folhagem de uma planta de cannabis em período vegetativo de crescimento. Foto: 2H Media | Unsplash.

Sobre Leonardo Padilha

Leonardo Padilha é advogado canabista, jornalista e especialista em educação. leonardopadilha.advogado@gmail.com
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