Cientista da UFRN fala sobre a eficácia da cannabis no tratamento da epilepsia

Flores de maconha alocadas nos compartimentos de uma bandeja de laboratório branca. Fibromialgia.

Em entrevista à Tribuna do Norte, o professor e cientista Cláudio Queiroz fala sobre a eficácia da cannabis no tratamento da epilepsia e outras doenças e como têm avançado os estudos conduzidos por ele no Instituto do Cérebro da UFRN sobre o uso medicinal dos canabinoides.

A Cannabis pode ser usada no tratamento de diversas doenças, como tem comprovado estudos científicos mundiais. A epilepsia é um dos casos que podem ter tratamento com o extrato da planta?

Apesar do paciente tomar um ou dois remédios, eles não são suficientes para fazer com que no dia-a-dia ele fique livre de crises. Além disso quando junta em um mesmo paciente várias drogas epiléticas, essas substâncias tem efeitos colaterais. Muitas vezes, o clínico tem dificuldade com as limitações impostas pelos efeitos colaterais, que muitas vezes são graves.

#PraCegoVer: fotografia do professor Cláudio Queiroz sentado à frente de uma bancada com equipamentos e materiais de laboratório.

Qual a importância desses estudos com a cannabis?

Buscar novos agentes antiepiléticos é uma questão fundamental, considerando que a epilepsia tem uma incidência de 1% da população mundial e a gente acredita que no Brasil isso pode chegar a 2%.  O estudo é um processo caro, lento e que muitas vezes várias substâncias ficam pelo caminho, ou seja, apresentam viabilidade em modelos animais, mas em ensaios clínicos isso se perde. Todos os procedimentos científicos foram ultrapassados pela vivência que as pessoas têm. Começou pela Califórnia, em que as pessoas começaram a usar maconha para tratar os mais diversos males.

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Como os estudos se mostram eficazes?

No Brasil isso começa com uma família de Brasília que consegue o direito de importar dos Estados Unidos o óleo da cannabis, que a gente chama de extrato, que é rico em CBD, mas contém outros canabinoides. De lá cara cá, as pessoas começaram a buscar o uso desses óleos, em um primeiro momento importado. Entretanto, por questões financeiras, a importação ficou restrita a famílias que tem com adquirir. A sociedade civil se organizou e conseguiu criar associações dedicadas ao plantio e extração do óleo, isso teoricamente é ilegal. Essas associações entraram na justiça mostrando a situação de pessoas que não tem como pagar. Essas pessoas conseguiram autorizações na justiça. Essas associações tratam diversas coisas envolvidas. Aqui no RN temos o caso de uma autorização para tratamento de  Parkinson.

Quais estudos estão sendo feitos no Instituto do Cérebro?

A hipótese que o meu laboratório trabalha é de que esses canabinoides dados em conjunto teriam um efeito terapêutico maior do que a administração de doses controladas de um canabinoide puro. Essa teoria a respeito dos efeitos fito canabinoides ou de que duas substâncias tem uma resposta terapêutico maior do que quando tratados isoladamente. No laboratório estamos testando se o efeito ‘comitiva’ é benéfico para as epilepsias experimentais. O efeito comitiva é o produzido por duas drogas, que quando dadas conjuntamente, tem um efeito multiplicativo. Queremos testar se esse efeito existe para as epilepsias e se a resposta for positiva, queremos saber qual é a combinação de canabinoides que possui o maior efeito antiepiléptico com o menor efeito adverso.

Quais avanços vocês observaram desde o início dos estudos?

Os primeiros estudos foram muito promissores. Vimos uma redução de eventos epiléticos em modelos animais. Fizemos os estudos em camundongos e vimos que o THC puro tinha efeito antiepilético, e isso chamou a nossa atenção porque o que se via era que quem tinha esse efeito era o CBD. Todos os dias os estudos avançam.

Como vocês fazem para conseguir os canabinoides para pesquisar? O Instituto do Cérebro pensa em pedir liberação?

Teoricamente não existe nenhuma lei proibindo pesquisadores de estudar com canabinoides, o que não pode é adquirir a substância no mercado internacional. O que estamos fazendo hoje é estudar o extrato produzido pelo Yogi Pacheco. Tínhamos acesso ao óleo da Abrace, mas a cada lote o óleo vem diferente porque o conteúdo muda de acordo com a maneira que é cultivado.

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#PraCegoVer: fotografia (de capa) em ângulo diagonal de flores de maconha alocadas nos compartimentos de uma bandeja de laboratório branca.

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