Ciência derruba mais uma vez a teoria da síndrome amotivacional da cannabis

Novo estudo mostra que na verdade “o uso de cannabis está associado a uma maior probabilidade de selecionar tarefas de alto esforço”

A ciência derrubou mais uma vez a teoria da síndrome amotivacional induzida pela cannabis. Um novo estudo publicado na revista Experimental and Clinical Psychopharmacology não encontrou nenhuma evidência para apoiar o mito propagado por proibicionistas de que o consumo de maconha torna as pessoas preguiçosas.

Condicente com estudos anteriores, a pesquisa descobriu que estudantes universitários que consomem maconha regularmente são mais propensos a escolher tarefas que exigem mais esforço em comparação com não usuários.

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Os pesquisadores do novo estudo observaram 47 estudantes universitários. Mais da metade do grupo de entrevistados (25) eram consumidores regulares de cannabis — 68% atendendo aos critérios de “transtorno por uso de cannabis” — e os 22 restantes compuseram o grupo de controle sem uso de cannabis. (O transtorno por uso de cannabis é definido como “um padrão problemático de uso de cannabis que leva a prejuízo ou sofrimento clinicamente significativo”.)

Os participantes foram solicitados a completar o teste Effort Expenditure for Rewards Task (EEfRT), um programa que mede a motivação ou anedonia através da tomada de decisão por despender esforços para uma recompensa, e os resultados foram estudados e analisados pelos pesquisadores.

Em vez de encontrar problemas significativos, a equipe notou melhorias nos sintomas de transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) e outras condições que podem desencadear atrasos no comportamento direcionado a objetivos.

“Nossos resultados não apoiam a hipótese amotivacional, mas, em vez disso, que o uso de cannabis está associado a uma maior probabilidade de selecionar tarefas de alto esforço”, escreveram os pesquisadores do estudo.

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Segundo o artigo, “em modelos de equações de estimativa generalizada, a magnitude da recompensa, a probabilidade da recompensa e o valor esperado previram maior probabilidade de selecionar um teste de alto esforço”.

Os dias de uso de cannabis no mês anterior e os sintomas de transtorno por uso de cannabis previram a probabilidade de selecionar uma tarefa de alto esforço, de modo que níveis maiores de dias e sintomas de uso de cannabis foram associados a uma probabilidade aumentada após o controle de sintomas de transtorno de déficit de atenção com hiperatividade (TDAH), tolerância ao sofrimento, rendimento e desconto de atraso”, explicaram os autores.

Os resultados fornecem evidências preliminares sugerindo que os estudantes universitários que usam cannabis são mais propensos a despender esforços para obter recompensas, mesmo depois de controlar a magnitude da recompensa e a probabilidade de recebimento da recompensa. Assim, esses resultados não apoiam a hipótese da síndrome amotivacional”, concluíram os pesquisadores, dizendo que  “pesquisas futuras com uma amostra maior são necessárias para avaliar possíveis associações entre o uso de cannabis e os padrões de comportamento de esforço do mundo real ao longo do tempo”.

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Os resultados deste estudo são consistentes com outro estudo que refuta as alegações de que o uso de maconha diminui a motivação.

Esse estudo, realizado por pesquisadores afiliados à Universidade Internacional da Flórida, avaliou a associação entre o uso de cannabis e a motivação em uma coorte de 401 adolescentes (com idades entre 14 e 17) ao longo de dois anos.

Os autores relataram que o uso de cannabis pelos adolescentes não foi associado a nenhuma mudança significativa na motivação, apatia ou envolvimento após os pesquisadores controlarem o uso de álcool e tabaco pelos participantes, entre outros fatores de confusão em potencial (como idade, sexo e depressão).

“Apesar dos aumentos significativos nos níveis de uso de cannabis em nossa amostra, a mudança no uso de cannabis não previu mudanças na motivação, o que sugere que o uso de cannabis pode não levar a reduções na motivação ao longo do tempo”, relataram os pesquisadores.

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#PraTodosVerem: fotografia, em primeiro plano e perfil, de uma mulher que acende um pipe de vidro tipo spoon de corpo azul e bowl amarelo enquanto o segura à boca, e um fundo com árvores desfocado. Foto: Lindzi Vagary / Unsplash.

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