Canopy Growth Corporation anuncia expansão para o Brasil

Foto de divulgação da coletiva de imprensa da Spectrum Therapeutics no Brasil mostra Jaime Ozi, gerente nacional da empresa no Brasil, o Dr. Mark Ware, diretor médico da Canopy Growth Corporation, e o Dr. Wellington Briques, diretor de Medical Affairs Latam e Caribe da Canopy Growth Corporation. Crédito: Divulgação | Spectrum Therapeutics

Em evento para a imprensa em hotel da capital paulista, na manhã desta quarta-feira (12), o diretor médico global da Canopy Growth Corporation, Dr. Mark Ware, anunciou a abertura de um escritório da Spectrum Therapeutics no Brasil. A empresa é uma divisão internacional de cannabis medicinal da canadense Canopy Growth, líder mundial em produção e desenvolvimento de produtos à base de cannabis – e anúncio coincide com reunião da Anvisa, que aprovou, ontem, consulta pública sobre uma proposta de regulamentação do cultivo e a liberação de remédios à base da planta e seus derivados no país

A Canopy Growth Corporation anunciou hoje (12), em coletiva de imprensa em São Paulo (SP), que passa a operar no Brasil através da filial da Spectrum Therapeutics, sua divisão internacional de cannabis medicinal. A filial brasileira, segundo a empresa, “segue um processo de expansão estratégica” na América Latina, que inclui a presença em outros países, como Colômbia, Chile e Peru, que também avançam na discussão sobre cannabis medicinal.

“Isso está acontecendo não apenas no Brasil, mas em toda a América Latina, e ao redor do mundo, estamos tendo essas conversas (sobre cannabis medicinal) com cientistas e formuladores de políticas, e do início ao final da história, é sempre sobre o paciente. Tudo isso é sobre ajudar pacientes a terem acesso a algo que pode ajudá-los, onde outras coisas falharam”, disse o Dr. Mark Ware.

Além de apresentar brevemente o conceito de cannabis medicinal e seu histórico, que data de milhares de anos, e as potencialidades da planta como alternativa de tratamento a diversas condições clínicas, a apresentação passou por evidências médicas e políticas globais sobre a cannabis medicinal, em países como Estados Unidos, Canadá, Uruguai, e falou ainda sobre o potencial de pacientes na região, que não possuem suas necessidades atendidas. “Para vocês terem ideia da importância do mercado do Brasil dentro da América Latina, nós estimamos cerca de 1,7 milhão de pacientes, sendo que são 4 milhões a nível de Latam”, explica o Dr. Wellington Briques, médico e diretor de Medical Affairs Latam da Canopy Growth Corporation.

Com investimento inicial previsto de RS$ 60 milhões no país, e enquanto não há regulamentação aprovada sobre o assunto, a Spectrum Therapeutics no Brasil se concentrará na promoção de atividades educacionais para capacitar médicos e pacientes sobre a cannabis medicinal, além de construir evidências científicas sobre a eficácia da planta no tratamento de diversas condições – porém, de acordo com o que for aprovado e regulamentado pela Anvisa, a empresa afirma que pode começar a atuar, de fato, a partir do início do ano que vem em solo brasileiro. “Tudo depende do que vai acontecer agora a partir dessa consulta pública”, afirma Jaime Ozi, Country Manager da Spectrum Therapeutics no Brasil.

E, claro, como não poderia deixar de ser, a proposta de consulta pública aprovada ontem pela Anvisa foi pauta da conversa – ainda que o anúncio da novidade hoje, segundo a empresa, está relacionado à agenda do Dr. Ware, e não à reunião da agência reguladora nacional.

“Nós tivemos recentemente a notícia de que a Anvisa está se movimentando para colocar em discussão pública um novo sistema regulatório de cannabis, tanto o uso de medicamentos como o plantio. Essa iniciativa é importante para o Brasil, outros países já avançaram nessa legislação e o Brasil estava muito atrasado. A legislação criada em 2015 tratava principalmente da importação paciente a paciente. Então, estamos dando um passo importante”, afirma Jaime Ozi. “O fato de ser uma consulta pública é um processo democrático, onde nós entendemos que toda a sociedade vai poder contribuir para que, depois, a Anvisa possa consolidar tudo isso em um sistema regulatório que atenda boa parte do mercado brasileiro e dos pacientes que têm essas necessidades”, completa. A empresa afirma, ainda, que já tem feito aproximações com as associações brasileiras de cannabis medicinal, inclusive para entender as necessidades específicas dos pacientes que, segundo Ozi, são o foco da empresa.

A Smoke Buddies quis saber o que a empresa achava do caráter restritivo da proposta da Anvisa, aprovada para consulta pública, no que diz respeito às condições para prescrição – o que, em consequência, diminuiria o potencial milionário de pacientes na região. “Hoje, a iniciativa regulatória da Anvisa como foi enviada é extremamente restritiva, mas, nós acreditamos que a Anvisa está propondo em consulta pública algo que se sinta confortável enquanto agência, diante até do contexto geral que existe de discussão de cannabis no Brasil”, explica Ozi. “Uma expectativa que a gente tem é que o trabalho de construção de um sistema regulatório, contando com a participação da sociedade brasileira, consiga elevar o nível de atendimento, dando acesso ao maior número de pacientes que necessitam, de fato, do medicamento”, completa.

“Vinte anos atrás, havia apenas duas condições para as quais canabinoides seriam usados: náusea e apetite. Hoje, há epilepsia, dor crônica, dor neuropática… a razão pelo aumento do número de condições é simples: é porque há evidências que suportam elas. E a razão pela qual agências reguladoras e associações médicas têm dificuldade para decidir em quais condições a cannabis pode ser usada é porque há falta de dados – e a única maneira de expandir a lista de condições tratáveis é fazendo os teste clínicos que provem que a substância é eficaz nessas condições. Há centenas de condições para as quais os pacientes estão usando cannabis, e é claro que não há condição de realizar testes clínicos para todas, mas à medida que os resultados aparecem, médicos, reguladores e associações ficarão mais confortáveis com a ideia de que a cannabis possui propriedades medicinais. É um processo que vai levar tempo”, conclui o Dr. Mark Ware.

#PraCegoVer: Foto de divulgação da coletiva de imprensa da Spectrum Therapeutics no Brasil mostra Jaime Ozi, gerente nacional da empresa no Brasil, o Dr. Mark Ware, diretor médico da Canopy Growth Corporation, e o Dr. Wellington Briques, diretor de Medical Affairs Latam e Caribe da Canopy Growth Corporation. Crédito: Divulgação | Spectrum Therapeutics.

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Sobre Thaís Ritli

Thaís Ritli é jornalista especializada em cannabis e editora-chefe na Smoke Buddies, onde também escreve perfis, crônicas e outras brisas.
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