Cannabis, moedas digitais e empresas sustentáveis na mira do investidor
Fundos de investimento inovadores, como ações de empresas de cannabis e criptomoedas, podem ser alternativa para quem busca ganho maior, diante de juros baixos. As informações são d’O Globo
As gestoras de investimentos estão apostando na criatividade para atrair quem quer fugir da baixa remuneração da renda fixa depois que a taxa básica de juros (Selic) atingiu 4,5% ao ano, sua mínima histórica. Com isso, já surgem fundos que aplicam em ações de empresas no exterior ligadas à cannabis (maconha) ou em companhias com práticas totalmente sustentáveis.
Já tem até fundo atrelado a índice de criptomoedas, como bitcoins, litecoins etc. Especialistas observam que, embora sejam opções para obter um retorno maior, é preciso observar o risco dessas novidades e se o investidor tem perfil para aplicações de alta volatilidade.
A proposta do fundo de criptomoedas da gestora Hashdex, por exemplo, é acompanhar um índice (o Hashdex Digital Assets Index, ou HDAI), distribuído pela Bolsa americana Nasdaq, que reflete o desempenho de 13 moedas digitais.
O índice foi criado pela própria gestora e, segundo Marcelo Sampaio, presidente da Hashdex, ele aumenta a exposição do investidor ao mercado de criptomoedas, mas reduz o risco em casos de alta volatilidade. De três em três meses, há um rebalanceamento do fundo e dos recursos nele aplicados.
— O conceito é simples: em vez de aplicar em uma só moeda digital, o investidor pode comprar cotas de fundos que aplicam no índice, que é uma cesta de criptomoedas — explica Sampaio, que é engenheiro e trabalhou em empresas de tecnologia, como Oracle e Microsoft.
A Hashdex oferece um fundo desse tipo, o Discovery, para o investidor de varejo, com 20% dos recursos aplicados no índice de criptomoedas e 80% em ativos de renda fixa, como títulos do Tesouro. O tíquete de entrada é de R$ 500, com taxa de administração de 1%.
Para os chamados investidores qualificados (com R$ 1 milhão em aplicações), há uma opção de maior risco: 40% no índice e 60% na renda fixa, com entrada de R$ 10 mil. Investidores profissionais podem aplicar 100% do recurso no índice.
Investir com princípios
Na gestora Vítreo, o fundo temático de ações de empresas do setor de maconha para fins medicinais quer aproveitar oportunidades de um mercado que começa a ser regulamentado em diversos países.
No Brasil, ainda não há empresas desse setor com ações negociadas em Bolsa, mas, em dezembro, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou a regularização dos produtos medicinais à base de cannabis, porém sem autorização para o plantio. As ações que integram o fundo estão listadas em Bolsas de Valores dos EUA e do Canadá.
— Não queremos fazer apologia do uso da cannabis e não investimos em ações de empresas com esse foco. Escolhemos as que fazem uso medicinal do produto. Trata-se de um mercado de alto crescimento, mas de risco elevado, por ser uma indústria nova. É um fundo com volatilidade maior do que o Ibovespa (o principal índice da Bolsa brasileira) — explica George Wachsmann, sócio-fundador da Vitreo.
O fundo Canabidiol Light, destinado ao investidor de varejo, tem tíquete de entrada de R$ 1 mil e taxa de administração de 0,05%. Em sua composição há 20% em ações de empresas do setor de cannabis, o máximo permitido pela lei, e 80% em um fundo de renda fixa, atrelado a títulos públicos.
Leia mais: Mais um fundo de maconha para pequenos investidores é lançado no Brasil
Já a gestora Warren tem um fundo com papéis de empresas com boas práticas sociais, o Warren Green. Na carteira, não há empresas que atuam no comércio de armas e de carnes, ou envolvidas em escândalos de corrupção.
O fundo é composto por 70% de ações de empresas brasileiras, como Klabin (papel e celulose), Natura (cosméticos) e WEG (motores, transformadores e componentes eletroeletrônicos). Vale e Petrobras, envolvidas em desastres ambientais e de corrupção, respectivamente, não podem entrar.
O fundo tem ainda 20% de ações e Exchange Traded Funds (ETFs, ou Fundo de Índice) de empresas estrangeiras e 10% de Brazilian Depositary Receipts (BDRs), certificados de ações de empresas brasileiras emitidas no exterior. Entre as estrangeiras, há as americanas Tesla (de carros elétricos) e Beyond Meat (que faz substitutos de carne à base de plantas).
— É um tipo de investimento alinhado a valores como ética, que aplica em empresas com responsabilidade social, com critérios como governança corporativa, sustentabilidade empresarial e baixa emissão de carbono. Há uma geração mais preocupada com esses conceitos — diz Thomaz Fortes, gestor do fundo, lembrando que o conceito-chave não é o retorno ajustado ao risco, e sim à ética.
A busca por ações de empresas que prezam a ética vem crescendo no exterior. Nos EUA, por exemplo, estima-se que hoje, para cada US$ 4 investidos, US$ 1 seja destinado a papéis de companhias com esses princípios. Em 2012, a proporção era US$ 1 a cada US$ 9. A Warren não tem aplicação mínima: é possível investir a partir de R$ 1. A taxa de administração é de 0,5%.
O professor de Finanças do Insper, Michael Viriato, observa, porém, que, no caso de ativos como criptomoedas, cannabis e empresas sustentáveis, é preciso saber se o boom já não passou. Há o risco de o investidor entrar quando o fundo já se valorizou muito, o que pode reduzir o retorno futuro. As criptomoedas, ressalta ele, exigem atenção por ainda não serem regulamentadas e muitas vezes apresentarem problemas de segurança:
— As criptomoedas não têm lastro em nenhum ativo, como ouro. Trata-se de um ativo com valor atribuído, usado para transações. Portanto, mesmo num índice, o risco é elevado, e muitos investidores não têm esse perfil.
No caso de fundos de ações, a recomendação é conversar com especialistas e verificar as perspectivas para cada setor. Em relação à cannabis, Viriato lembra que o mercado é vasto, incluindo bebidas e cosméticos. Mas, nos EUA, muitas empresas desse setor já se valorizaram muito na Bolsa.
Veja o perfil das gestoras
Criptomoedas
Gestora: Hashdex
Onde aplica: No índice Hashdex Digital Assets Index (HDAI), negociado na Bolsa americana Nasdaq
Composição: 20% dos recursos no índice e 80% em ativos de renda fixa
Aplicação mínima: R$ 500
Taxa de administração: 1%
Características: O segmento de criptomoedas ainda não está regulamentado. A volatilidade do fundo é elevada
Empresas de cannabis
Gestora: Vítreo
Onde aplica: Ações de empresas dos EUA e do Canadá
Composição: 20% em ações de companhas do setor de cannabis e 80% em ativos de renda fixa
Aplicação mínima: R$ 1 mil
Taxa de administração: 0,05%
Características: O mercado de produtos medicinais à base de maconha é novo e não é regularizado em todos os países. Volatilidade superior à do Ibovespa
Companhias sustentáveis
Gestora: Warren
Onde aplica: Papéis de empresas com baixa emissão de carbono e boa governança corporativa
Composição: 70% de ações de empresas brasileiras, 20% de ações e ETFs de companhias estrangeiras e 10% de BDRs
Aplicação mínima: Não há
Taxa de administração: 0,5%
Características: Poucas empresas no Brasil são aprovadas em todos os critérios
Leia também:
#PraCegoVer: em destaque, fotografia em plano fechado que algumas moedas douradas gravadas com o símbolo do bitcoin, junto a flores de maconha, com pistilos marrons. Imagem: Shutterstock.
- Brasileiro conta como abriu seu coffee shop em Barcelona - 17 de abril de 2024
- O que muda com a aprovação da PEC das Drogas pelo Senado? - 17 de abril de 2024
- Flores de cannabis da marca de Mike Tyson são alvo de recall na Califórnia (EUA) - 16 de abril de 2024
- STF define que abordagem policial motivada pela cor da pele é ilegal - 15 de abril de 2024
- Ver de Perto: Luis Navarro produz série documental sobre maconha - 15 de abril de 2024
- Mercado legal de cannabis emprega mais de 440 mil pessoas nos Estados Unidos - 14 de abril de 2024