Cannabis medicinal: como a planta é relacionada à medicina ayurveda?

A sommelière de chás Raquel Magalhães comenta a origem, história, aspectos culturais, a relação e as similaridades da cannabis com os temas chá, ayurveda e yoga, em sua coluna na revista Casa e Jardim
Há registros de cultivo da cannabis já em 8.000 a.C., e o primeiro relato de seu uso medicinal foi feito pelo imperador e herborista chinês Shen Nong em 2717 a.C. Mesmo período que lendas e relatos também o apontam como descobridor do chá. Já o ayurveda, a medicina indiana, tem mais de 5.000 anos, e conta com a cannabis no preparo de uma bebida sagrada chamada Bhang, que proporciona coragem aos guerreiros.
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Documentos como Dravya Gunas, livro-chave da farmacologia do ayurveda, dividem a cannabis em três partes (ramos, flor e resina) e seus benefícios descritos são para os sistemas circulatório, nervoso, digestivo, respiratório, urinário, reprodutor, para a pele, insônia, tida como afrodisíaca, analgésica, entre muitos outros.
A cannabis também era usada em rituais na cultura indiana desde 2.000 a.C., conforme descrito no Atharva Veda (texto clássico do ayurveda) como uma erva sagrada, relacionada a Shiva, que a considerava como um presente divino. Shiva é um dos deuses supremos do hinduísmo, conhecido como “o destruidor e regenerador da energia vital” ou como aquele que faz o bem. É considerado o criador do yoga (ciência irmã do ayurveda), devido ao seu poder de gerar transformações físicas e emocionais aos praticantes desta atividade.
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Para o ayurveda e a medicina atual, a dosagem da cannabis variará de pessoa para pessoa, dependendo do organismo e da finalidade do tratamento.
Os benefícios da cannabis medicinal podem ser encontrados em óleos e extratos, cápsulas e comprimidos, cremes e loções, adesivos transdérmicos, vaporizadores, sprays nasal e oral, supositórios, forma fumada…
Quais as principais indicações da cannabis medicinal atualmente? Acne, psoríase e dermatites; anorexia; ansiedade, medo, pânico e depressão; artrite reumatoide; artrose; autismo; câncer; doenças autoimunes e degenerativas, como Parkinson e Alzheimer; dependência química; dores crônicas; diabetes; endometriose; epilepsia e convulsões; esclerose múltipla; esquizofrenia e psicose; fibromialgia; glaucoma; HIV; problemas gastrointestinais; entre outras.
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Com todo o conhecimento ancestral, é difícil encarar toda a proibição, o preconceito e a falta de informação que ainda impera em boa parte da sociedade atualmente. Mesmo esta planta sendo amplamente estudada e alguns de seus benefícios já bem estabelecidos.
O uso da cannabis é aprovado em boa parte da Europa e em alguns países da América Latina. Colômbia, Chile, Uruguai e recentemente o Brasil retiraram o canabidiol da lista de substâncias proibidas e avançam rumo à regulamentação para a possibilidade de uso medicinal.
Espero que possamos em breve usufruir de todos os benefícios da cannabis medicinal, ajudando milhares de pessoas a encontrar conforto e tratamento para seus desequilíbrios.
Lembre-se sempre que você não deve se automedicar. O acompanhamento médico e profissional é de extrema importância. Há riscos de interações medicamentosas e, assim, evita maiores complicações no seu estado geral de saúde.
Raquel Magalhães (@raquelmagalhaes) é sommelière de chá e terapeuta ayurveda.
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#PraTodosVerem: fotografia mostra a inflorescência de uma planta de maconha, onde pistilos laranjas se destacam entre cálices e folhas rajados de preto e repletos de tricomas, além de outras partes do cultivo, à direita, e um fundo escuro à esquerda. Foto: Unsplash / spencer gray.

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