Canabidiol em combinação com antibiótico pode ser eficaz contra superbactérias

Segundo um estudo recente publicado na Scientific Reports, que revela a poderosa atividade antibacteriana do canabinoide

A combinação do canabidiol (CBD), um dos compostos encontrados na maconha, com o antibiótico polimixina B demonstrou ser uma terapia eficaz contra superbactérias, de acordo com um novo estudo publicado em abril na Scientific Reports.

Os pesquisadores também observaram que o CBD sozinho apresentou atividade antibacteriana contra bactérias como Staphylococcus, que pode causar de faringite a endocardite, Enterococcus, que pode afetar o aparelho digestivo e urinário, Streptococcus, que pode provocar faringite, escarlatina, febre reumática e até pneumonia e meningite, Micrococcus, que afeta o equilíbrio da microbiota da pele, Rhodococcus sp., relacionado com infecções respiratórias, e Mycobacterium sp., Neisseria sp. e Moraxella sp., que podem causar infecções nas vias aéreas.

“Nossos achados demonstraram que a combinação do CBD ultrapuro com o antibiótico polimixina B teve atividade antibacteriana contra superbactérias, como Klebsiella pneumoniae extremamente resistente a antibióticos; bactéria que pode causar infecções graves em pessoas no hospital, como pneumonia, infecções no sangue e meningite. E, de modo surpreendente, os resultados foram promissores contra bactérias que também eram resistentes à polimixina B, ou seja, para aquelas que o antibiótico sozinho não tem atividade”, explica Leonardo Neves de Andrade, professor da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da Universidade de São Paulo (USP), biomédico e coordenador do estudo.

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Além da FCFRP, participaram do estudo pesquisadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, da UNESP de Araraquara e do Instituto Ramón y Cajal de Investigación Sanitaria (IRYCIS) da Espanha.

Andrade explica que diferentes metodologias utilizadas contribuíram para o entendimento de conceitos microbiológicos sobre a atividade antibacteriana da combinação do CBD com a polimixina B. “Sugerimos que os canabinoides sejam mais explorados pela ciência por meio de novas formulações farmacêuticas, ensaios pré-clínicos e testes clínicos em seres humanos, visando o reposicionamento do CBD como novo antibiótico”, destaca o professor em nota oficial sobre o estudo.

“O CBD já tem sido associado a múltiplas e potenciais atividades biológicas, especialmente ansiolítica, antipsicótica, anti-inflamatória, analgésica e neuroprotetora em casos de epilepsia, transtornos de ansiedade, distúrbios do sono, Parkinson e esquizofrenia”, explica José Alexandre Crippa, professor da FMRP, médico psiquiatra e um dos autores do estudo.

 

 

 

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a resistência bacteriana é caracterizada pela capacidade das bactérias em resistir à ação dos medicamentos antibióticos. O resultado é o aumento da dificuldade em tratar doenças infecciosas já conhecidas, causando um prolongamento da infeção, necessidade de cuidados mais intensivos, invalidez e até morte.

“Considerando as implicações sanitárias, sociais e econômicas da crescente resistência bacteriana, a OMS chama a atenção para a pesquisa, descoberta e desenvolvimento de novos antibióticos”, explica Fernando Bellissimo Rodrigues, professor da FMRP, médico infectologista e um dos autores do estudo.

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Ainda de acordo com o especialista, existem infecções hospitalares causadas por bactérias resistentes a praticamente todas as opções terapêuticas disponíveis atualmente. “Dessa forma, o CBD surge como uma promessa, pois já tem uso licenciado e já demonstrou ser seguro para outras indicações clínicas. Os próximos passos envolvem os testes pré-clínicos e clínicos futuros em seres humanos, para avaliar se os resultados obtidos ‘in vitro’ serão confirmados”, explica Bellissimo Rodrigues.

Um estudo separado conduzido por pesquisadores da Universidade de Queensland (UQ), na Austrália, demonstrou que o canabidiol é capaz de matar as bactérias responsáveis ​​pela gonorreia, meningite e doença do legionário.

“Essas bactérias têm uma membrana externa extra, uma linha adicional de defesa que torna mais difícil a penetração dos antibióticos”, disse Mark Blaskovich, professor associado do Instituto de Biociência Molecular da UQ.

O estudo australiano também mostrou que o CBD foi amplamente eficaz contra um grande número de bactérias gram-positivas, incluindo patógenos resistentes a antibióticos, como MRSA (Staphylococcus aureus resistente à meticilina) ou “estafilococo dourado”.

“O canabidiol mostrou uma baixa tendência de causar resistência em bactérias, mesmo quando aceleramos o desenvolvimento potencial aumentando as concentrações do antibiótico durante o ‘tratamento’”, disse Blaskovich sobre testes feitos em modelos de laboratório para ver o quão rápido a bactéria sofreu mutação para tentar superar o poder antibacteriano do CBD.

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