Califórnia brasileira: Paraíba tem plantio de maconha para 2.500 pacientes

Fotografia mostra várias plantas de cannabis em período vegetativo que estão sob um sistema de iluminação que vai até o fundo, desfocado, onde pode-se ver um grande cultivo em ambiente interno.

Única do país com aval judicial para cultivar e produzir óleo medicinal a partir da maconha, a associação de pacientes de João Pessoa tem meta de fornecer medicamentos à base da planta a 10 mil pacientes até 2022. As informações são da Folha de S.Paulo

Muros altos, cercas elétricas, câmeras de vigilância, identificação por biometria. Quem circula pelo bairro dos Ipês, zona norte de João Pessoa (PB), não imagina que por ali são outras as flores que levaram a cidade a assumir um protagonismo impensável no país.

Em um sobrado branco, 2.458 plantas de maconha crescem em estufas e depois suas flores se transformam em óleos, sprays e pomadas à base de dois tipos de canabinoides: o THC (tetrahidrocanabinol) e o CBD (Canabidiol).

O ambiente é controlado pela Abrace Esperança, a única associação de pacientes do país que tem autorização judicial para cultivo da maconha para fins medicinais. Os produtos são dispensados sob prescrição de 210 médicos no país.

Em dois anos e meio, a associação viu o número de pacientes passar de 155 para 2.500. Eles pagam anuidades de R$ 350 e valores que variam de R$ 150 a R$ 200 pelo óleo —10% do valor dos importados.

A produção é contínua, mas não dá mais conta da crescente demanda. Há ao menos mil pessoas na fila de espera.

Leia: Única associação que pode cultivar maconha no país atende mais de 750 pacientes

Segundo Cassiano Teixeira, diretor e fundador da Abrace, a meta é fornecer produtos à base de Cannabis para 10 mil pacientes até 2022, quando uma segunda unidade da associação, em Campina Grande, estiver funcionando.

A história da Abrace começou em 2014, a partir de uma demanda pessoal de Teixeira. A mãe dele, dona Zezé, 83, tem bronquiectasia, doença pulmonar que causa falta de ar e acúmulo de secreção.

Após uma internação em que ela “saiu pior do que entrou”, segundo Teixeira, ele resolveu tentar um tratamento alternativo: óleo de Cannabis.

Teixeira começou a fabricar ilegalmente o produto na cozinha de casa, depois de ler sobre o assunto na internet. “Comprei a planta do tráfico e fiz o óleo. Uma hora depois de dar, minha mãe já estava melhor, voltou a ter vida.”

Pelas redes sociais, conheceu um grupo de mães de crianças com epilepsia que lutavam para a importação do óleo de Cannabis e soube que também poderia ajudar o irmão, Ascendino, 55, que sofre das mesmas crises.

O preço do produto importado, porém, era proibitivo, e ele seguiu no cultivo ilegal, fornecendo o óleo também para um grupo de pacientes.

Em 2017, já constituída juridicamente e com 155 pacientes, a Abrace obteve liminar da Justiça Federal na Paraíba para o cultivo.

O processo tramita no Tribunal Regional Federal da 5ª Região, em Pernambuco, após a Anvisa ter entrado com recurso contra a liminar.

Em paralelo à Abrace, outra associação de pacientes de Paraíba, a Liga Canábica, obteve também em 2014, por via judicial, outro feito inédito: o direito de importar coletivamente o óleo de Cannabis sem autorização da Anvisa. “Não tínhamos sequer receita ou médico disposto a prescrever”, lembra Sheila Geriz, uma das fundadoras da Liga e mãe de Pedro, 10.

O menino começou a usar o óleo aos quatro anos para reduzir as 40 crises epiléticas diárias que tinha apesar de usar 16 medicamentos por dia.

Hoje, usando apenas o óleo de Cannabis, as crises se resumem a três ou quatro por mês, afirma Sheila. Aos oito anos, ele começou a andar. “É uma criança que passou a ter condições de viver com mais plenitude a infância dele.”

Fotografia em vista superior que mostra uma flor seca e uma folha de maconha e um frasco redondo contendo óleo, sobre uma superfície metálica.

#PraCegoVer: fotografia em vista superior que mostra uma flor seca e uma folha de maconha e um frasco redondo contendo óleo, sobre uma superfície metálica. Créditos: Adriano Vizoni | Folhapress.

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