Brexit interrompe o fornecimento de cannabis medicinal a pacientes no Reino Unido

Foto que mostra parte de uma mão, no canto inferior direito, segurando uma folha de maconha com cinco pontas serrilhadas e um fundo desfocado em tons de verde. Imagem: Pikrepo.

A saída do estado britânico da União Europeia impede a importação de medicamentos à base de cannabis de países membros do bloco. Saiba mais, a seguir

O Reino Unido deixou definitivamente a União Europeia a partir de 1º de janeiro. E um novo acordo comercial passou a vigorar entre as duas partes, garantindo que as transações de mercadorias entre elas continuem isentas de tarifas. Entretanto, fardos como outras restrições e mais controle nas fronteiras ainda pesarão sobre as relações comerciais e os reflexos negativos do Brexit (“British exit”) já estão atingindo a cannabis medicinal.

A BBC News relatou nesta semana as histórias de angústia de pacientes britânicos que tiveram o fornecimento de seus medicamentos à base de cannabis interrompido em razão do Brexit.

Sophia Gibson, de Newtownards, Irlanda, tem a síndrome de Dravet.

Em 2018, ela se tornou a primeira pessoa a receber uma licença de longo prazo para o uso de cannabis medicinal no Reino Unido.

No entanto, o Departamento de Saúde do Reino Unido confirmou que o medicamento Bedrocan não está mais disponível no Reino Unido.

Isso por que, desde 1º de janeiro, as prescrições emitidas no Reino Unido não podem ser legalmente dispensadas por um estado-membro da União Europeia e o medicamento em questão era importado dos Países Baixos.

Um porta-voz do governo britânico disse que estava “trabalhando urgentemente com o governo holandês para encontrar uma solução”, segundo a reportagem da BBC.

Em um comunicado, o Belfast Health Trust (serviço de saúde irlandês) disse que estava “buscando medicamentos alternativos em conjunto com consultores especializados e em discussão com a família de Sophia”.

No entanto, a mãe de Sophia, Danielle Davis, disse que o medicamento à base de cannabis estava funcionando bem para a filha e que eles estavam preocupados com o que aconteceria quando acabasse.

Sophia não está no hospital com convulsões desde julho de 2018. Antes disso, disse Davis, a família precisava chamar uma ambulância a cada dois dias.

A família disse que ainda tem um suprimento de remédio para nove semanas. “Estou simplesmente arrasada”, disse Davis à BBC.

O Departamento de Saúde da Irlanda do Norte disse que escreveu para fundos de saúde para “destacar esta questão e solicitar que sejam feitos arranjos para revisar o tratamento dos pacientes afetados”.

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O drama se repete na Inglaterra

O outro paciente afetado pelo Brexit reside na cidade de Preston, na Inglaterra.

Joanne Griffiths disse à BBC que os óleos das marcas Bedrolite e Bedica, que tratam a epilepsia severa de seu filho Ben, são dispensados ​​nos Países Baixos e, devido ao Brexit, o país não poderia mais fornecê-los.

A Sra. Griffith disse que seu filho tem danos cerebrais, paralisia cerebral e autismo e pode ter até 300 convulsões por dia, com algumas durando até uma hora.

Ela disse que ele vinha usando os óleos nos últimos dois anos e que eles lhe deram “os primeiros dias de sua vida sem convulsões”.

“Sem esse remédio, meu filho vai morrer”, segundo a Sra. Griffith que disse ter medicamentos para mais seis semanas. “Ele vai começar a ter centenas de convulsões novamente, e a realidade é que, infelizmente, ele não vai sobreviver”.

Ela acrescentou que foi informada pelo governo de que uma série de medicamentos alternativos à base de cannabis estava disponível para os pacientes do Reino Unido, mas disse que os produtos neerlandeses funcionam melhor para seu filho.

Enquanto isso, no condado de Warwickshire, Alfie Dingley, de nove anos, também corre perigo com a interrupção do tratamento que vem fazendo com o medicamento Bedrolite.

O garoto sofre de uma forma rara de epilepsia que o levou a ter 150 convulsões por semana, controladas somente com o remédio fabricado nos Países Baixos.

A luta de Alfie, sua mãe, Hannah Deacon, e seu neurologista, Mike Barnes, ajudou a legalizar o uso medicinal da cannabis no Reino Unido, em 2018. Hannah ganhou as manchetes britânicas quando pediu diretamente à primeira-ministra Theresa May a permissão para ter acesso à cannabis medicinal para seu filho.

A Sra. Deacon disse à BBC que 42 crianças, incluindo seu filho, agora estão em grande risco. “Se ele for forçado a mudar para um produto diferente, isso colocará sua vida em risco”, alertou.

O Departamento de Saúde e Assistência Social do Reino Unido escreveu aos fornecedores de farmácias em 15 de dezembro, pedindo-lhes que tomassem “medidas imediatas para trabalhar com prescritores e clínicas para garantir o fornecimento das prescrições atuais e identificar produtos alternativos que possam ser adequados para seus pacientes”.

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#PraCegoVer: em destaque, foto que mostra parte de uma mão, no canto inferior direito, segurando uma folha de maconha com cinco pontas serrilhadas e um fundo desfocado em tons de verde. Imagem: Pikrepo.

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