Ator Jim Belushi promove indústria da maconha medicinal

Fazendeiro licenciado pelo estado americano do Oregon, com uma plantação destinada à indústria de medicamentos, Jim Belushi virou um dos maiores influenciadores do setor no Instagram. As informações são da Folha de S.Paulo.

O ator, comediante e músico Jim Belushi, 64, vem se dedicando, na vida real, ao inédito papel de promotor da indústria da Cannabis. Fazendeiro licenciado pelo estado americano do Oregon, com uma plantação destinada à indústria de medicamentos, ele virou um dos maiores influenciadores do setor no Instagram. Tem 31,3 milhões de seguidores. Segundo ele, “a regulamentação é a forma de combater a epidemia de opioides, que assola os EUA”.

Na semana passada, Belushi foi o astro da Expo CannaBiz —primeira conferência de negócios da Colômbia e da América do Sul— realizada de 9 a 11 de maio em Cartagena, na Colômbia.

Usou de todos os recursos que o transformaram em ator de sucesso para falar sobre os benefícios medicinais da planta para a saúde, participou das festividades de abertura do evento em um barco, onde promoveu um pocket show dançante e descontraído, confraternizou com todos os convidados, flertou com belas jovens convidadas —e, por isso, causou mal estar entre casais.

No dia seguinte subiu ao palco, sério, para um bate-papo com o host e jornalista Michael Miller, aberto ao público de investidores, empresários e entusiastas. “Se em 1970 soubéssemos o que sei hoje sobre a Cannabis, muita gente ainda estaria viva, inclusive meu irmão”, disse à plateia.

O irmão mais velho de Belushi, John, morreu de overdose em 1982, no auge da carreira. Dois anos antes, havia estrelado, ao lado e Dan Aykroyd, no filme “Os Irmãos Cara de Pau”. “Minha família ficou dilacerada. Muitas famílias passam por isso agora.”

Nos estados de Illinois, Nova York, Georgia e Pensilvânia, que permitem o uso da maconha medicinal, os médicos a prescrevem como alternativa ao uso de analgésicos oriundos de opioides, que aliviam as dores, mas produzem euforia viciante.

Em 2017, 72 mil pessoas morreram por overdose. Segundo o CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças nos Estados Unidos), dois em cada três casos, em média, eram de vítimas de opioides —que matam mais do que arma de fogo e acidentes de trânsito no país.

“A Cannabis também é ferramenta importante para o combate ao tráfico de cocaína. Existe uma glamorização dos chefões do tráfico, que precisa acabar. Pablo Escobar virou filme e série. Ele matou muita gente. Meu irmão foi vítima do tráfico, não matou ninguém”, disse Belushi . “A maconha tem benefícios medicinais comprovados, ao contrário da cocaína.” Ele se refere aos remédios à base de Cannabis, já desenvolvidos para o tratamento de Alzheimer, epilepsia, câncer, autismo e dores crônicas.

Nos EUA, estão agendados pelo menos 25 grandes eventos de Cannabis neste ano —sem contar os summits e pequenas rodas de negócios. O evento de Cartagena teve um público de 2.000 visitantes e 50 expositores, a maioria formada por americanos, canadenses, colombianos e visitantes de outras partes da América Latina.

Apesar de um Instagram tímido (2.265 seguidores), o ex-presidente do México Vicente Fox (2000-2006) foi eleito em março a segunda figura mais influente dos eventos relacionados à Cannabis pela revista High Times, especializada no setor. Belushi era a primeira.

Desde 2006, o México entrou em uma escalada crescente de violência, causada pela multiplicação dos cartéis de drogas e pelo endurecimento das leis do governo para detê-los. Resultado: hoje, o país abriga as três cidades mais violentas do mundo —Tijuana, Acapulco e Caracas—, segundo o ranking produzido pelo Conselho Cidadão para a Segurança Pública e a Justiça Penal do México.

Fox ocupa hoje o cargo de assessor estratégico e embaixador da empresa canadense Cannabis Khiron, que tem ações na bolsa e opera globalmente. Hoje, o objetivo do governo mexicano é substituir o plantio e a distribuição de coca pela Cannabis regulamentada. Fox apoia a estratégia

“Não há notícia de morte pelo consumo de maconha, mas, sim, pelo uso do cigarro. A política que proíbe e criminaliza a maconha tem impedido que aproveitemos os muitos benefícios que o negócio pode ter”, disse em sua palestra em Cartagena. Acreditava-se, no passado, que a planta fosse a entrada para outras drogas. Essa teoria tem cada vez menos adeptos.”

Em 2016, a Colômbia foi o primeiro país da América Latina a regulamentar e legalizar a Cannabis para fins médicos e científicos. A partir de 18 anos de idade, todos os cidadãos com doenças terminais ou crônicas podem possuir até 20 gramas ou ter uma horta com no máximo 20 plantas.

Muitos interesses econômicos alinhavaram os discursos. O organizador do evento, Julián Tobar, por exemplo, é um dos fundadores da Ethnothecarium Botica Natural, empresa de plantas medicinais de Cannabis, aberta 2017. Até então ele estava apenas no ramo de seguro de automóveis.

Desde que o mercado colombiano foi regularizado, entraram 420 pedidos de autorização de licença para fabricar medicamentos à base de Cannabis. “A Colômbia detém 40% de toda a exportação de maconha do mundo”, diz Tobar, que deve realizar o Expo CannaBiz ainda esse ano no Brasil.

Apesar da Cannabis ser ilegal em solo brasileiro, o aquecimento dos negócios mundiais já atraem empresários paulistas. Ex-presidente da Bombril, José Bacellar, de 54 anos, vem ganhando voz e se transformando em um influenciador natural do mercado. Há pouco mais de um ano, ele fundou a Verdemed, empresa farmacêutica especializada em produtos derivados de Cannabis .

Aqui é permitido apenas o uso do canabidiol (CBD), substância extraída do óleo da Cannabis e usada no tratamento de doenças como a epilepsia. Há apenas um medicamento registrado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), o Mevatyl, mais conhecido como Sativex no mercado internacional.

A Verdemed espera a mudança das leis para atuar justamente nesse mercado nacional, ainda com demanda reprimida. Enquanto isso, opera em outras praças. Na Colômbia, adquiriu parte da Greenfarma, depois de alavancar US$ 12, 7 milhões entre investidores paulistas no início do ano. Trata-se de uma produtora de Cannabis e extratora de óleo da planta, com licença para produzir medicamentos, em Cali.

A sede da Verdemed fica no Canadá, onde o fundador mora há uma década com a família. Ali serão fabricados os medicamentos com o óleo colombiano e, futuramente, exportado para outro laboratório da empresa no Brasil.

Para estruturar os negócios, Bacellar atravessa o continente americano ao menos três vezes por mês para participar dos principais eventos e negociar novos contatos. Faz palestras em espanhol, em inglês e, como Belushi, recorre a piadinhas e gestuais espalhafatosos para ganhar a plateia. Geralmente dá certo.

Em Cartagena, subiu três vezes ao palco com uma camiseta com o símbolo da Verdemed bordada no lado direito do peito e da Greenfarma no esquerdo. Em uma das vezes, olhou para o sócio colombiano na plateia, colocou a mão sobre o logo da Greenfarma e soltou: “Aqui mora o meu coração colombiano.” A plateia reagiu com palmas e gritinhos. Entre os brasileiros, é uma das figuras mais presentes.

“A cifra da indústria legal da Cannabis é bilionária”, diz ele. De acordo com o relatório realizado pela Energias Market Research, o mercado de medicamentos de Cannabis deve aumentar de US$ 8,28 bilhões (quase R$ 34 bilhões), em 2017, para US$ 28,07 bilhões (R$ 114 bilhões), em 2024.

O cálculo se baseia na expectativa do aumento do reconhecimento nos benefícios da planta para a saúde. “A regulamentação gerou novos postos de trabalho e mais dinheiro para o governo, que agora lucra com os impostos da atividade”, diz Bacellar. “Nos estados americanos onde isso aconteceu, houve uma redução de 40% do mal uso dos opioides.”

Belushi resumiu o espírito do congresso desta maneira: “Eu acredito na medicina da Cannabis. Vocês vão fazer algo importante para a saúde da comunidade [tirar os opioides das ruas] e ganhar dinheiro com isso.”

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#PraCegoVer: Fotografia mostra o ator Jim Belushi, usando um chapéu de Cowboy, blusa xadrez e camiseta preta analisando pantas de cannabis.

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