Ativistas fazem manifestação pela legalização da maconha em Berlim
Mais de mil pessoas se reuniram na capital alemã para marcar o 420, a celebração anual da cannabis, e exigir a legalização da planta
Na tarde dessa quarta-feira (20/4), pelo menos 1.400 manifestantes pró-legalização se reuniram em frente ao Portão de Brandemburgo, em Berlim, para instar o governo alemão a avançar com seus planos de legalizar a maconha.
Os participantes do ato marcharam até a sede do Partido Social-Democrata, que junto ao Partido Verde e o Partido Liberal Democrata forma a coalizão do novo governo alemão. O acordo estabelecido entre as legendas prevê a legalização do consumo e venda de cannabis no país.
A manifestação foi composta por ativistas, rappers, ex-policiais, pessoas que usam maconha para tratamentos médicos e vários pequenos empresários que aproveitaram a oportunidade para promover produtos cannabis-friendly, de cânhamo ecológico e acendedores de cera de abelha até kits completos de cultivo de cannabis, segundo informou a DW.
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De acordo com o Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência, mais de 4 milhões de pessoas usam maconha regularmente na Alemanha.
O acordo de coalizão apresentado pelo governo do chanceler Olaf Scholz em novembro foi claro sobre seus compromissos.
A regulamentação da venda e distribuição de maconha para uso adulto permitirá “garantir a qualidade, evitar a proliferação de substâncias impuras e garantir a proteção da juventude”, afirma a coalizão. A cannabis é liberada para uso medicinal na Alemanha desde 2017.
O relatório produzido por um grupo de trabalho criado pelos três partidos diz ainda que o plano inclui observar após quatro anos da aprovação da legislação qual foi seu impacto social.
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Contudo, até agora não houve nenhuma palavra ou cronograma sobre quando as lojas legais de maconha poderiam ser abertas, e os ativistas pró-cannabis estão ficando impacientes.
“Tudo o que eles precisam fazer é assinar”, disse Martin Montana, vestido com um terno decorado da cabeça aos pés com folhas de maconha verde fluorescente. “O importante é proteger os jovens, garantir que não seja distribuído nos pátios das escolas — tudo isso é lógico, assim como com o álcool”.
Montana é um ex-soldado que disse ter usado cannabis para lidar com os sintomas do transtorno de estresse pós-traumático. “Preciso disso para controlar meus ‘flashbacks’ e, nos últimos 20 anos, consegui fazer isso. Eu só quero fazer isso de forma pacífica e legal”.
O novo governo de coalizão também quer ampliar modelos de redução de danos, que incluem testes de verificação de drogas em que usuários podem ter substâncias adquiridas ilegalmente verificadas quanto à sua composição química e serem alertados sobre ingredientes perigosos.
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Enquanto isso, duas organizações pró-legalização, a German Hemp Association (DHV) e a Network for Legalization, criaram um sistema on-line — baseado em estatísticas criminais e um estudo da DHV sobre a receita fiscal potencial da cannabis legalizada — que conta o número estimado de processos criminais “relacionados ao consumo” e os impostos perdidos estimados a cada segundo que o governo não introduz a venda legal de maconha. Em 20 de abril, o sistema apontava mais de 68.000 processos e mais de € 1,7 bilhão (R$ 8,5 bilhões).
Um estudo publicado no ano passado pela Universidade Heinrich Heine em Düsseldorf calculou que a legalização da cannabis pode render às autoridades fiscais da Alemanha um total de mais de 4,7 bilhões de euros (R$ 23,5 bi) por ano por meio de receitas fiscais adicionais e contribuições para a segurança social, bem como economias na aplicação da lei e na justiça.
Outro orador de destaque na manifestação dessa quarta-feira, segundo a DW, foi Hubert Wimber, ex-presidente da polícia na cidade de Münster e agora chefe do braço alemão da Law Enforcement Against Prohibition, uma organização de agentes da lei que atuam contra a proibição das drogas.
Wimber disse que a descriminalização foi apenas um passo inicial. “Trata-se de criar um mercado regulamentado com o objetivo de retroceder e, finalmente, destruir o mercado ilícito”, disse ele. “Isso é o que todos nós queremos como consumidores: um mercado transparente com critérios razoáveis para ingredientes ativos e regras concretas de proteção aos jovens. Eu sei pela minha experiência que os mercados criminosos não protegem os jovens de forma alguma.”
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#PraTodosVerem: fotografia mostra uma multidão nas ruas de Berlim segurando placas e cartazes com desenhos da folha da maconha e mensagens pedindo pela legalização. Foto: Carsten Koall / dpa.
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