Acesso à maconha para uso adulto reduz demanda por drogas prescritas, diz novo estudo

Foto, em vista superior, mostra várias cartelas de medicamentos, sendo uma vermelha, contendo comprimidos de várias cores e formatos. Imagem: Unsplash / Volodymyr Hryshchenko.

A legalização da cannabis para uso social reduz as prescrições de medicamentos por meio de programas estaduais de saúde nos EUA para tratar dor, depressão, ansiedade, sono, psicose e convulsões, de acordo com uma pesquisa recente

Os estados americanos com maconha legal estão observando uma redução na demanda por drogas prescritas e nos custos dos programas de saúde estaduais, de acordo com um novo estudo publicado na Health Economics.

A pesquisa se baseou nos dados dos Centros de Serviços Medicare e Medicaid, que administram os programas de saúde pública, em todos os 50 estados dos EUA de 2011 a 2019.

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Shyam Raman, estudante de doutorado na Escola de Políticas Públicas da Universidade Cornell, e Ashley Bradford, da Universidade de Indiana, analisaram os dados e descobriram que o volume de prescrições de drogas indicadas para dor, depressão, ansiedade, sono, psicose e convulsões diminui significativamente quando os estados legalizam a maconha.

O estudo é um dos primeiros a se concentrar no impacto da legalização da cannabis para uso pessoal em uma ampla gama de medicamentos prescritos.

“Esses resultados têm implicações importantes”, disse Raman, explicando que as reduções na utilização de drogas encontradas podem levar a “economias significativas de custos” para os programas sociais de saúde.

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As descobertas, segundo os autores, também indicam uma oportunidade para reduzir os danos que podem advir dos efeitos colaterais perigosos associados a alguns medicamentos prescritos.

Na análise dos cerca de 40 estados que legalizaram a maconha medicinal, incluindo 19 que regulamentaram o uso adulto, os pesquisadores observaram uma mudança significativa na demanda por drogas usadas para tratar distúrbios do sono e ansiedade, mas nenhum impacto real nos medicamentos indicados para náuseas.

O papel da legalização da maconha na redução de drogas prescritas

Um estudo separado, publicado em 2018 no JAMA Network, analisou pacientes adultos, inscritos no Medicaid, nos estados americanos que haviam legalizado a maconha, assim como em estados onde a planta ainda não era legal, e descobriu que, entre 2011 e 2016, os estados com cannabis legal para uso medicinal e adulto tiveram taxas de prescrição de opiáceos 5,88% e 6,38% mais baixas, respectivamente.

A maconha é uma das alternativas potenciais não opioides que podem aliviar a dor com um risco relativamente menor de dependência e praticamente nenhum risco de overdose”, disse Hefei Wen, coautor do estudo e pesquisador da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de Kentucky, à Reuters.

Em outro estudo, os pesquisadores mostraram como a maconha medicinal pode combater a crise de opioides, em pacientes acima dos 65 anos. A pesquisa feita com pacientes do Medicare analisou os dados entre 2011 e 2015 e detectou uma queda de 14% nas doses de drogas prescritas por dia em 23 estados americanos com dispensários de cannabis medicinal.

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Uma pesquisa com pacientes de maconha medicinal da Flórida (EUA) publicada em junho do ano passado, na Medical Cannabis and Cannabinoids, revelou que a maioria (65%) reduziu ou eliminou a ingestão de pelo menos um medicamento prescrito após obter seu registro de cannabis. Os dados foram coletados em Centros de Tratamento de Maconha Medicinal em eventos do sudoeste da Flórida e no campus da Universidade da Costa do Golfo da Flórida de 157 pacientes de maconha medicinal registrados, de maio de 2019 a janeiro de 2020.

Os pacientes relataram redução da dependência de opioides (18%), ansiolíticos (18%) ou antidepressivos (15%). Além disso, os pacientes relataram substituir AINEs e soníferos pela a cannabis medicinal. Finalmente, 81% relataram que a maconha forneceu uma “boa quantidade” de alívio para seus sintomas, com resultados de alívio variando de 70% (inflamação geral) a 91% (náusea).

No Canadá, a legalização da cannabis foi acompanhada, entre outros benefícios, por um declínio nas prescrições de opioides em todo o país, de acordo com um estudo da Universidade de Toronto, publicado na Applied Health Economics and Health Policy, sobre as taxas de prescrição de opiáceos.

Os pesquisadores analisaram especificamente quantos opioides foram prescritos no Canadá antes e depois da legalização, bem como o dinheiro gasto com as drogas. O período observado foi de janeiro de 2016 a junho de 2019, e todos os dados foram retirados desse período.

“O gasto total mensal com opioides também foi reduzido em maior medida após a legalização (C$ 267.000 vs C$ 95.000 por mês)”, explicou o estudo. “Os resultados foram semelhantes para planos privados de medicamentos, no entanto a queda absoluta no uso de opioides foi mais pronunciada (76,9 vs 30,8 mg/pedido). Durante o período de 42 meses, o uso de gabapentina e pregabalina também diminuiu”.

Ao comparar os períodos de tempo pré e pós-legalização, os autores observaram que o declínio na MED [dose equivalente de morfina] média por pedido foi aproximadamente 5,4 vezes maior no período após a legalização da maconha (22,3 vs 4,1 mg por pedido).

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#PraTodosVerem: foto, em vista superior, mostra várias cartelas de medicamentos, sendo uma vermelha, contendo comprimidos de várias cores e formatos. Imagem: Unsplash / Volodymyr Hryshchenko.

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