Por que a legalização da maconha não acabou com o fanatismo antidrogas

Fotografia que mostra uma mulher sentada em um antigo sofá de cor bege e segurando um cigarro de maconha à boca, enquanto um homem vestido com uma jaqueta vermelha estende os braços em sua direção, com uma expressão apreensiva. Foto: Chico State School of the Arts | Flickr.

Embora possa levar semanas para se descobrir a causa do incêndio em Los Angeles, a lição para defensores da reforma das políticas de drogas é que vieses proibicionistas ainda levarão muito tempo para desaparecer. Entenda mais no artigo de Chris Roberts para a Forbes, traduzido pela Smoke Buddies

A causa da enorme explosão e incêndio que destruiu um prédio no centro de Los Angeles na noite de sábado e enviou 12 bombeiros para o hospital ainda não é conhecida.

Quanto aos efeitos, eles foram imediatos, decisivos — e inteiramente previsíveis.

Um culpado foi identificado antes mesmo do início do trabalho dos investigadores de incêndio. O culpado, como sugeriram as reportagens iniciais da mídia, foi a cannabis, uma teoria que os fanáticos da antilegalização ampliaram em um uivo na segunda-feira. Por extensão, isso significa que o experimento social em andamento da legalização da maconha é o cúmplice, e cenas como a carnificina de sábado em Los Angeles são a conclusão lógica para qualquer outra cidade ou estado que pondere erva legal.

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Tudo isso soa familiar, por que é. E embora possa levar semanas ou mais para os investigadores do incêndio descobrirem a causa real, a lição para os defensores da reforma das políticas de drogas e para qualquer pessoa na indústria da cannabis é que vieses antidrogas levarão muito mais tempo para desaparecer — e você pode fazer tudo certo e ainda sofrer um revés nas guerras da informação.

Julgamento e culpa vieram rapidamente, porque culpar a erva por uma explosão violenta e incêndio se encaixa em um roteiro familiar, embora não tenha sido espanado na Califórnia por um tempo. No local, os bombeiros descobriram cartuchos de butano queimados e explodidos. O butano é um composto altamente inflamável usado como combustível para isqueiros e maçaricos de chef. O butano também é usado como solvente nas técnicas de extração de óleo de cannabis, um dos muitos métodos disponíveis para criar o óleo concentrado encontrado nos cartuchos de caneta vaporizadora.

O butano e o “butane honey oil”, ou “butane hash oil”, também serviram como bete noires convenientes para policiais, políticos e ativistas antilegalização, porque extrações por “artistas” usando butano — geralmente em casa e geralmente em salas com pouca ventilação ou em outras condições semelhantes às de uma “banheira de gin” — demonstraram uma tendência incomum, mas inegável (e inegavelmente ruim e perigosa), a explodir.

Fazia algum tempo que os laboratórios de “butane hash oil” estavam no noticiário. Como o Google Trends sugere, esse é um fenômeno cíclico — basta um idiota em uma garagem para acionar uma palavra-chave na internet —, mas o interesse parece ter atingido o pico no final de 2013, pouco antes do início das vendas legais de maconha no Colorado e Washington. Você deve se lembrar que o bicho-papão mais recente e conveniente para a multidão contra a legalização chegou neste outono na forma de lesão pulmonar por vaporizador, uma crise de saúde muito assustadora que os pesquisadores médicos vincularam muito inconvenientemente a produtos ilícitos do mercado. Mas desde que o butano foi encontrado no local do incêndio no centro de L.A., aqui estamos.

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O viés das autoridades pode ser parcialmente culpado. Logo após a explosão, o capitão do Corpo de Bombeiros de Los Angeles, Erik Scott, cujos bombeiros ficaram feridos no incêndio, descreveu o prédio na Rua East Boyd, 327, como uma fábrica de ‘hash-oil’ — apesar do fato de que, na segunda-feira, exatamente zero cannabis ou sinal de cannabis foi descoberto no edifício. Também não havia relatos de cheiro de maconha no prédio, antes ou depois do incêndio. A cannabis é um ingrediente muito necessário no “butane hash oil” — e é muito difícil de esconder, principalmente quando aceso.

Os relatórios emergentes apontam que East Boyd, 327, é o endereço de um atacadista chamado SmokeTokes — e que o SmokeTokes pode ter sido um fornecedor atacadista de butano, uma substância perfeitamente legal de se possuir, para tabacarias e outros varejistas onde o butano é comprado. Ou seja, completamente removido de qualquer coisa relacionada a cannabis, erva, maconha e óleo de haxixe.

Alex Traverso, porta-voz do Departamento Estadual de Controle de Cannabis, confirmou na segunda-feira que não havia nenhum negócio de cannabis licenciado pelo estado no endereço.

“Parece que eles são algum tipo de negócio de atacado”, disse ele. “Que não toca a planta”.

Apesar dessa indicação clara das autoridades de que a cannabis legal não estava envolvida e nenhum sinal claro de que qualquer cannabis estava envolvida, os relatórios da mídia — inclusive da “imparcial” Associated Press, republicado em todo o mundo — continuaram a descrever a cena como um “fabricante de óleo de haxixe”.

Como o Los Angeles Daily News apontou, não é a primeira vez que o SmokeTokes pega fogo. Em 12 de setembro de 2016, quando o SmokeTokes estava em seu antigo local próximo, os bombeiros também descobriram uma “explosão” de “cilindros de gás”, informou o jornal. Ninguém ficou ferido naquele incêndio, e os eleitores da Califórnia legalizaram a cannabis recreativa dois meses depois.

Armazenar butano é como armazenar gasolina ou munição: inerentemente perigoso, mas um risco que pode ser mitigado. De qualquer maneira, é um risco que a sociedade considera aceitável. Caso alguém conte, munição mata mais americanos em um mês do que jamais morreram por explosões de óleo de butano.

O que a explosão e o incêndio do SmokeTokes fizeram foi expor alguns dos vieses de longa data dos Estados Unidos em relação à cannabis. Alguns desses vieses são mantidos por pessoas cujos meios de subsistência dependem disso. O resto de nós é meramente suscetível a cair em velhos padrões e permanecerá até que o comportamento aprendido possa ser desaprendido.

Um bom primeiro passo seria que as autoridades e a mídia resistissem à tentação e acertassem a história. Não é tão difícil.

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#PraCegoVer: em destaque, fotografia que mostra uma mulher sentada em um antigo sofá de cor bege e segurando um cigarro à boca, enquanto um homem vestido com uma jaqueta vermelha estende os braços em sua direção, com uma expressão apreensiva. Foto: Chico State School of the Arts | Flickr.

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