A caixa de comentários e a desinformação sobre a maconha no Brasil

Fotografia registra o fim da reunião que aprovou o relatório que regulamenta a cannabis medicinal e o cânhamo no Brasil. Ao centro, o senador Eduardo Girão caminha, enquanto outros membros da CDH permanecem em seus lugares e outras pessoas ocupam o espaço. Maconha.

Como foi a reunião da Comissão do Senado, que aprovou relatório sobre cannabis medicinal, do ponto de vista de quem acompanhou os comentários durante a transmissão, ao vivo, da votação pelo Youtube?

Pesquisas de opinião mostram que a maconha para fins medicinais é apoiada pela população  – a mais recente, do DataSenado, aponta que 3 em cada 4 brasileiros são favoráveis ao uso para produção de medicamentos, enquanto a larga maioria, 87%, sabe que substâncias extraídas da planta têm propriedades terapêuticas. Por outro lado, 64% dos mesmos entrevistados não defendem o plantio caseiro, mesmo que com prescrição médica para o consumo da cannabis in natura.

A opinião pública sobre a maconha terapêutica, tão diversa quanto a planta em si, flutua sobre questões éticas e morais sutis e subjetivas, que se confundem com visões sobre a maconha como narcótico e até com posições partidárias – e, dentro de uma proposta de discussão construtiva, a desinformação sobre a cannabis medicinal acaba por reinar.

“Era para ser preso até em falar o nome da droga”, lê-se em um comentário. “Em vez de discutir assuntos sérios, estão tentando liberar drogas”, dispara outro.

Pode parecer bobagem, ou até insanidade, gastar tempo analisando os comentários que surgiam na tela durante a transmissão ao vivo, pelo Youtube, da reunião da CDH que votou pela regulamentação, na forma de projeto de lei, da cannabis medicinal e do cânhamo no Senado. Mas ali, naquele universo paralelo e virtual, fica evidente, de forma muito caricata, o impacto que a falta de informação tem na evolução do debate sobre a cannabis medicinal no Brasil.

“ESSA MERDA MATA”, comenta alguém.

Enquanto, na reunião que aprovou o relatório, os senadores realizavam um verdadeiro embate (com alguns golpes sujos) de ideologias, bem analisado, por sinal, em artigo de Dave Coutinho, na transmissão pela internet, a caixa de comentários sinalizava uma batalha quase perdida – pelo menos para a construção do conhecimento social sobre o tema.      

“Eu recomendo maconha pra quem tá vivo, porque só assim pra aguentar um Brasil com tanta falta de informação”, posta, sabiamente, uma pessoa.

Em meio aos bots do mau, trolls e gladiadores anti-proibicionistas, relatos pessoais sobre como a cannabis medicinal, de fato, contribui para a vida de quem convive com condições para as quais ela poderia ser usada se perdiam em um verdadeiro caos de argumentos falsos, egotrips e insultos, que, segundo minha filosofia, não valem a menção.

“Minha filha usa o Extrato da Cannabis e está com excelente RESULTADOS”, comenta um. “Meu filho depende desse remédio e pra importar de fora do país vai todo meu salário”, argumenta outro.

E, se ao fim da votação, que terminou com a aprovação da matéria para tramitação como Projeto de Lei, houve um alívio de ver, finalmente, o assunto evoluindo, aos trancos e barrancos, dentro do Senado Federal, fica também nítida, a partir da caixa de comentários do Youtube, a necessidade de estourar a bolha para espalhar, cada vez mais longe, informação de qualidade sobre a maconha no Brasil.

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#PraCegoVer: fotografia (de capa) registra o fim da reunião que aprovou o relatório que regulamenta a cannabis medicinal e o cânhamo no Brasil. Ao centro, o senador Eduardo Girão caminha, enquanto outros membros da CDH permanecem em seus lugares e outras pessoas ocupam o espaço. Foto: Marcos Oliveira | Agência Senado.

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Sobre Thaís Ritli

Thaís Ritli é jornalista especializada em cannabis e editora-chefe na Smoke Buddies, onde também escreve perfis, crônicas e outras brisas.
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