A bolha do CBD está prestes a estourar?

Foto que mostra o tubo de um conta-gotas com a ponta inserida em um frasco de cor escura, do qual aparece apenar a boca, e contendo um óleo de maconha aerado com bolhas minúsculas que sobem em direção a outras maiores na superfície do líquido e um fundo escuro. Imagem: THCameraphoto.

Apesar da popularidade global, o setor de CBD atualmente enfrenta um entrave, pelo menos no Reino Unido. Saiba mais no artigo da revista The Spectator, escrito por Robert Jackman e traduzido pela Smoke Buddies

Se você esteve em algum lugar do Reino Unido perto de uma loja de saúde recentemente, sem dúvida viu o CBD — o derivado não psicoativo da cannabis que virou mania no estilo de vida.

Algumas estimativas dizem que 7 milhões de pessoas na Grã-Bretanha já usaram o CBD por seus supostos benefícios de bem-estar (que incluem relaxamento e melhora do sono). No entanto, apesar de todo o hype, a verdade é que o setor de CBD está enfrentando um entrave. Pelo menos no Reino Unido de alguma forma.

Embora o CBD aparentemente tenha chegado do nada, esse não foi um caso de “legalização” pelo governo. Na verdade, nunca foi ilegal: os óleos contêm traços tão pequenos de THC (a substância química que te deixa chapado) que nunca foram cobertos pela legislação britânica sobre drogas. Mas foi apenas quando a cannabis se tornou popular nos Estados Unidos que o CBD se tornou popular o suficiente para ser comercialmente viável.

Então, no ano passado, um relatório bombástico — o maior estudo sobre produtos de CBD na Grã-Bretanha até o momento — revelou sérias preocupações sobre o controle de qualidade. O relatório constatou que não apenas a maioria dos produtos na Grã-Bretanha sofre de rotulagem imprecisa, como também mais da metade dos produtos testados excede a quantidade permitida de THC. Isso os tornou ilegais e potencialmente perigosos também.

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Em resposta, a Food Standards Agency — o órgão que cuida da segurança alimentar na Grã-Bretanha — afirmou que, em março de 2021, todos os produtos de CBD vendidos no território terão que ser registrados individualmente como um ‘novo alimento’. Para obter esse status, eles precisam provar exatamente o que há neles (e que não são perigosos para a saúde humana).

Isso não afetará as empresas que fabricam produtos de CBD que não se destinam ao consumo (como bombas de banho e óleos corporais), mas será um enorme balde de água fria para quem vende óleos e vapes. Não menos importante, porque a vasta maioria desses produtos é importada da Europa, muitas vezes sem garantia de exatamente o que há neles.

Este é o fim do CBD na Grã-Bretanha? Provavelmente não. Nesta semana, Crispin Blunt, o parlamentar conservador e defensor da reforma das drogas de longa data, falou na maior conferência de cannabis da Europa, onde pediu à Downing Street que aproveite a oportunidade para ‘onshore’ a indústria — ou seja, facilitar para que as empresas britânicas produzam CBD, em vez de importar o óleo da Polônia, República Tcheca e Itália (três dos países que dominam o setor atacadista de CBD).

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É evidente como isso pode atrair o governo, mas também exigiria uma grande mudança nas leis de licenciamento sobre o cultivo de cannabis.

Afinal, o Reino Unido tem sido historicamente um dos países mais rigorosos da Europa, mesmo quando se trata de cânhamo industrial — a cannabis fibrosa de baixa potência, que às vezes é colhida para produtos de CBD mais baratos. Muitos dos óleos que você pode comprar perfeitamente legalmente na Grã-Bretanha — até o próximo mês de março — seriam realmente ilegais (ou pelo menos muito difíceis de fabricar).

Nada disso impediu que a moda do CBD decolasse na Grã-Bretanha. Em vez disso, levou a uma indústria caseira de óleos de CBD white-label sendo importados por atacado da Europa e depois rotulados pelas empresas do Reino Unido. Muitos desses atacadistas exibem em conferências sobre cannabis no Reino Unido, embora as marcas que revendem seus produtos estejam menos dispostas a clamar sobre isso.

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Até agora, não havia nenhuma regra exigindo que os produtos de CBD apresentassem um relatório de laboratório independente com uma descrição exata do seu teor de CBD e THC (e que eles não contenham toxinas prejudiciais como DXM). Embora muitos óleos possuam relatórios de teste, eles nem sempre são os que chegam às ruas. Na última vez que verifiquei, a maioria dos óleos da Holland & Barrett não tinha.

Mas há outro fator que pode salvar a indústria de CBD. Até agora, as grandes empresas de cannabis da América do Norte — aquelas com os meios e experiência necessários para atender aos padrões da FSA — seguraram a exportação de produtos de CBD para a Grã-Bretanha. Mas isso provavelmente tinha algo a ver com o fato de que o status legal do CBD era um pouco ambíguo no Reino Unido.

Se nada mudar, a decisão da FSA mostra que as autoridades não estão preocupadas necessariamente com o CBD em si; apenas com o potencial de produtos não seguros se infiltrarem no mercado. Claro, o governo ainda pode decidir proibi-lo, mas eu suspeito que não. E isso pode dar às grandes empresas americanas a confiança para exportar para a Grã-Bretanha.

Isso significa que os britânicos fãs de CBD devem estocar seu produto favorito antes de março? Isso pode ser um pouco cauteloso demais. Você esperaria, afinal, que as marcas que falam liricamente sobre o brilho do produto possam estar dispostas a garantir que o seu CBD seja proveniente de fornecedores de qualidade. Mas gera uma sombra de incerteza sobre a indústria: e uma que vale a pena ficar de olho.

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#PraCegoVer: em destaque, foto que mostra o tubo de um conta-gotas com a ponta inserida em um frasco de cor escura, do qual aparece apenar a boca, e contendo um óleo de maconha aerado com bolhas minúsculas que sobem em direção a outras maiores na superfície do líquido e um fundo escuro. Imagem: THCameraphoto.

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