75% do haxixe vendido em Madri contém contaminação fecal, segundo estudo

Fotografia em plano fechado que mostra as mãos de uma pessoa (que está em frente à câmera), vestindo luvas pretas, segurando uma considerável bola de haxixe em tom de bege entre as palmas (na horizontal); detalhe para um relógio de cores em tons de bege e marrom em um pulso e uma tatuagem em torno do outro, a roupa cinza ao fundo fora de foco.

O autor do estudo atribui o resultado ao modus operandi do mercado ilegal: os traficantes engolem o haxixe em bolotas e depois tomam laxante para as expelir. As informações são do El País.

Manuel Pérez Moreno passou mais de um ano à procura de traficantes nas ruas que vendem cannabis. Mas o madrileno de 54 anos, pai de dois, afirma que nunca fumou um baseado em sua vida. Sua missão envolveu a visita a bairros da capital espanhola e a cidades vizinhas da região como Parla, Alcorcón e Alcobendas. Quando ele chegava nesses novos locais, ele se dirigia a um bar e fazia perguntas como: “Você sabe onde eu posso comprar haxixe?”. Uma vez que ele encontrava os comerciantes locais, ele verificava a mercadoria, pagava por ela e levava embora com ele.

Pérez Moreno é farmacêutico da faculdade de veterinária da Universidade Complutense de Madri. Ele conseguiu coletar 90 amostras diferentes de resina de cannabis, todas de diferentes fontes. Os resultados de seus estudos sobre os narcóticos constituem o primeiro estudo detalhado do chocolate – como a droga é conhecida na gíria local – disponível nas ruas espanholas.

“A maior parte do haxixe vendido na região de Madrid não é apto para consumo humano, principalmente devido a critérios microbiológicos, e representa um perigo para a saúde”, conclui o estudo, publicado na revista Forensic Science International.

Mais de 31% da população espanhola entre 15 e 64 anos consumiu cannabis em algum momento de suas vidas, de acordo com o último relatório sobre drogas do Ministério da Saúde da Espanha. Quase três milhões de pessoas fumaram no ano passado. Pérez tem más notícias para essas pessoas. Setenta e cinco por cento das amostras analisadas continham grandes quantidades da bactéria E.coli, o que é uma indicação de contaminação fecal.

Pérez coloca isso no modus operandi de muitos traficantes. No Marrocos, eles embrulham pequenos pedaços de haxixe – chamados de bellotas ou bolotas – em filme plástico, e os engolem um a um depois de terem comido iogurte para neutralizar seus ácidos estomacais. “Quando chegam à Espanha, tomam um laxante e expelem as bellotas”, explica ele. “E então elas são colocados à venda”.

Quarenta por cento dos bellotas que ele examinou carregavam o cheiro de fezes.

O estudo de Pérez aponta que nos últimos anos o número de pacientes com câncer que fumam maconha, em uma tentativa de reduzir os efeitos secundários de sua quimioterapia, tem aumentado. “Esses pacientes têm um sistema imunológico enfraquecido, o que significa que uma infecção causada pelo consumo de haxixe contaminado ou adulterado pode ser fatal”, alertam os autores do estudo.

A quantidade média de bactérias em cada grama de resina era 500 vezes maior do que a quantidade máxima estabelecida pelos Estados Unidos para a maconha ou para as regulamentações europeias que cobrem produtos como frutas ou chá.

Mas as bactérias fecais não foram o único risco. Em 10% das amostras A equipe de Pérez também detectou o fungo Aspergillus, que pode causar infecções e reações alérgicas perigosas. “Aspergilose pode causar a morte se não for tratada”, adverte o farmacêutico.

“Isso é claramente um problema de saúde pública”, explica a bióloga Inmaculada Santos, coautora do estudo e também professora da faculdade de veterinária. “As quantidades de bactérias que encontramos são assustadoras. O problema não é apenas a inalação. O haxixe é constantemente manipulado [pelos usuários] com as mãos”. Os autores do estudo também alertam que os consumidores minimizam a contaminação porque acham que ela será eliminada pela combustão. “Não há filtros nas juntas”, explica Pérez. “Você não está apenas respirando fumaça, mas também partículas”.

“É um estudo realmente interessante”, diz o psicólogo Claudio Vidal, do Energy Control, projeto que busca reduzir os riscos do consumo de drogas. Mas ele é cauteloso. “É um número baixo de amostras e não sabemos quantos lotes de haxixe estavam circulando naquele momento. Não podemos saber se os resultados são representativos do haxixe que é vendido na região de Madri ou na Espanha”.

Em 2012, o Energy Control analisou 170 amostras de haxixe, e fungos, agentes de corte ou traços vegetais foram encontrados em 4% deles. No entanto, os pesquisadores não estavam procurando por contaminação bacteriana.

Autoridades espanholas desmantelaram 335 toneladas de resina de cannabis em 2017, mas Pérez ressalta que a qualidade das drogas encontradas em grandes apreensões é muito diferente das vendidas na rua. Haxixe que é vendido em forma de tijolo geralmente chega a bordo de lanchas. A equipe de Pérez também analisou 17 desses pacotes. Trinta por cento foram encontrados para ter quantidades de bactérias fecais que excedeu os limites de segurança.

“Esse tipo de contaminação se deve ao fato de que o haxixe é ilegal na Espanha”, explica Vidal. “Num mercado regulado, isso seria impensável”. O farmacêutico Manuel Pérez resume seu projeto com o título de um livro publicado em 2013 pelo psicólogo Eduardo Hidalgo: Você sabe o que está fazendo?

Pérez explica que, para realizar seu estudo, ele pagou pelas drogas de seu próprio bolso e depois destruiu as amostras com ácido clorídrico após a análise. “Eu não poderia me imaginar pedindo uma concessão para comprar haxixe”, ele brinca.

Tradução: Smoke Buddies

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#PraCegoVer: fotografia (de capa) em plano fechado que mostra as mãos de uma pessoa (que está em frente à câmera), vestindo luvas pretas, segurando uma considerável bola de haxixe em tom de bege entre as palmas (na horizontal); detalhe para um relógio de cores em tons de bege e marrom em um pulso e uma tatuagem em torno do outro, a roupa cinza ao fundo fora de foco. Créditos da foto: Yelp.

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