Veja 5 dicas para empreender no meio canábico no Brasil

Fotografia que mostra um pin no formato da folha da maconha preso a uma blusa xadrez. Foto: Diogo Vieira.

O mercado canábico pode ser tentador para muitos brasileiros que veem no empreendedorismo a realização do sonho em ter o seu próprio negócio. Baseado em acontecimentos, dúvidas e experiências, compartilho no texto abaixo algumas dicas que podem facilitar a vida de quem quer iniciar ou continuar numa empreitada canábica

Mesmo ainda tida como uma substância ilícita no país, para uso recreativo/social, a maconha e seus usos já movimentam todo um mercado de produtos legais, gerando empregos e impostos no Brasil. Juntando este cenário à tendência regulatória dos usos medicinal e social da planta em todo o mundo, é natural que mais pessoas enxerguem toda a cultura acerca da planta como uma oportunidade de negócio melhor que as opções mais tradicionais, inclusive no Brasil.

Segundo o relatório da Arcview Market Research e da BDS Analytics, o consumo de maconha para fins terapêuticos no Brasil passou de 2 milhões de dólares, em 2017, para US$ 4 milhões em 2018. Os gastos aumentarão à medida que o programa da maconha medicinal se expanda no país. Em grande parte devido a um considerável aumento no número de pacientes, estima-se que os gastos com cannabis medicinal atinjam os US$ 62 milhões, cerca de 240 milhões de Reais, em 2022. O relatório não considera o consumo recreativo.

Calma! Antes das cifras saltarem aos olhos, outros aspectos precisam ser vistos e revistos.

O mercado canábico pode ser tentador para muitos brasileiros que veem no empreendedorismo a realização do sonho de ter seu próprio negócio. Mas baseado em acontecimentos, dúvidas e experiências, que acompanho nestes últimos anos, resolvi compartilhar algumas dicas que podem facilitar a vida de quem quer iniciar ou continuar numa empreitada canábica.

Compromisso com a causa. Dentro da mente de algumas pessoas ainda há o antigo conflito: ativismo x capitalismo. Deixe isso de lado, até porque muita das empresas ativas no Brasil são formadas por ativistas que dedicam-se à normalização de um mercado e cultura carregados de estigmas e injustiça. Se você está interessado apenas no dinheiro do meio canábico, sem nem ao menos pensar numa reparação social, provavelmente não irá prosperar neste universo. Estar no empreendedorismo canábico exige que você seja capaz de compreender os usos da planta e a necessidade de um marco regulatório para por fim a uma guerra que vitimiza majoritariamente uma parcela da sociedade.

Seja capaz de, maneira educada e informada, passar os benefícios da maconha para o bem-estar de quem necessita, de falar sobre os avanços nos lugares onde já regulamentou, dos usos industriais da planta e entre outros. Você não precisa ser um PhD na história da cannabis, comece se informando e criando o compromisso de reverberar a luta. Hoje, muitos que estão à frente do mercado canábico surgiram como porta-voz de algo que é amplamente mal compreendido.

Não se intimide, independente do governo, se a sua empresa é legal, erga a cabeça e lute pelos avanços e mudanças nas leis. Se hoje você acha difícil, deixo o depoimento de Alexandre Perroud, proprietário da Ultra420, que já percorre essa estrada há quase 25 anos. Clique aqui e assista.

Esteja por dentro da lei. Apesar de já vermos as movimentações em relação à regulamentação da maconha no Brasil, aqui ainda não é o Canadá, Colorado ou Uruguai. Evite criar um projeto de empreendedorismo que só vai trazer perda de tempo e dinheiro, e risco à sua liberdade, sem consultar advogados(as) especializados(as) na causa.

Mesmo diante de alguns avanços no Brasil, a cannabis ainda é um assunto delicado. Para ter um projeto que respeite a realidade brasileira, com impacto social positivo e minimizando riscos judiciais, converse com profissionais com visão jurídica e intimidade com a questão canábica no país, conforme informa o post na rede social do coletivo de juristas Reforma da Política de Drogas o qual recomendo. Além do coletivo de juristas recomendo também o escritório da Dª Lorena Otero, aos novos e atuais empreendedores. Se você precisa do contato de mais profissionais, como registro de marcas ou patentes, faça seu pedido pelo contato@smokebuddies.com.br.

Pense fora da caixa e foque no que você é bom. Ter um negócio canábico vai muito além de ser dono de uma loja ou ter criado um produto relacionado. Muitas das vezes você terá que ser o ‘faz tudo’. Do planejamento logístico ao marketing, passando pelo atendimento ao cliente ao gerenciamento de mídias e comércios virtuais. Os empreendedores canábicos estão em um espaço tão inovador que o conhecimento especializado usado em outra áreas precisa ser aperfeiçoado. Não tente abraçar o mundo sozinho, busque mídias e profissionais dedicados e/ou familiarizados com a cultura canábica nacional e, principalmente, pense fora da caixa. Investigue e busque as necessidades, o mercado é amplo e vai muito além dos apetrechos para consumo.

Concorra, mas não esqueça do “um por todos e todos por um”. A falta de concorrência em um dado mercado pode ser vista como algo positivo por alguns empreendedores -ou até mesmo o cenário ideal. Mas esse pensamento não é bom! A falta de concorrentes pode significar um mercado fraco. Concorrência é sinal de mercado, de demanda, de que tem quem pague pelo que você e outros têm a oferecer.

Muitos se concentram tanto em superar seus concorrentes que perdem o foco de seus cliente e missão. Sem ele, os empreendedores não teriam tanta inclinação em pensar na qualidade, inovação e outros nos produtos e serviços oferecidos. Concorrência também é aprendizado, o empreendedor pode aprender com os erros e acertos dos competidores.

A concorrência no mercado canábico deve ser saudável por motivos de segurança. Em razão da situação ilegal da maconha, aliada à falta de conhecimento e preconceito social pela cultura e mercado, os empreendedores devem concorrer, mas devem sempre se manter unidos.

Qualquer repressão ou injustiça contra alguma marca canábica deve ser denunciada, e a denúncia deve ser apoiada, afinal nessas horas as diferenças ficam de lado, pois a luta é a mesma, no famoso “um por todos e todos por um”.

Todo amor a quem age assim! Especialmente aos que se manifestaram diante da suspensão provisória no Instagram, dos perfis da Jonha e da Smoke Buddies, que foram restabelecidos após alguns dias.

Seja profissional. As empresas canábicas pelo mundo estão cada vez mais profissionais, as maiores já cotam suas ações nas principais Bolsas de Valores. E isso certamente não se deu por um golpe de sorte ou por seus empreendedores terem sido desleixados com seus clientes, fornecedores ou prestadores de serviço. Seja profissional, atenda bem, auxilie e, principalmente, se desculpe em caso de qualquer deslize, errar é normal e é digno assumir e solucionar.  Não deixe o estereótipo “maconheiro doidão” te prejudicar.

Ouça sua base de clientes, mentores e amigos, eles são mais importantes do que você acredita. Lembrando de alguns pontos anteriores, sem comprometimento sempre haverá alguém lá fora que fará coisas melhores que você.

Espero ter contribuído e esclarecido alguma das inúmeras dúvidas que recebemos por e-mail, caso deseje mande a sua também para davecoutinho@smokebuddies.com.br.

Leia também:

Pessoal do “Legalize” foi quem viabilizou a vinda das grandes corporações de maconha ao Brasil

União e resistência na forma como fazemos negócios

#PraCegoVer: fotografia (capa) em detalhe e ângulo 3/4 de um pin no formato da folha da maconha preso a uma blusa xadrez. Créditos da foto: Diogo Vieira.

mm

Sobre Dave Coutinho

Carioca, Maconheiro, Ativista na Luta pela Legalização da Maconha e outras causas. CEO "faz-tudo" e Co-fundador da Smoke Buddies, um projeto que começou em 2011 e para o qual, desde então, tenho me dedicado exclusivamente.
Deixe seu comentário
Assine a nossa newsletter e receba as melhores matérias diretamente no seu email!