2021 promete ser o ano da cannabis na América Latina, segundo relatório

Fotografia de duas inflorescências de maconha de pistilos marrons, que aparecem no lado direito, no primeiro plano, e, após uma faixa de vegetação, o morro do Corcovado, no canto superior esquerdo, fora de foco. Imagem: Dave Coutinho | Smoke Buddies. Raiz.

Em toda a extensão da América Latina e do Caribe, que cobre mais de 10.000 quilômetros de norte a sul, a indústria da cannabis tem emergido, ou reemergido como alguns diriam, de forma não linear; olhando para trás, isso não seria esperado na época do nascimento dessa indústria na região. As informações são da Prohibition Partners

A importância desta região do mundo para a indústria global de cannabis foi a força motriz por trás do lançamento em novembro da segunda edição do relatório Latin America and Caribbean Report, da Prohibition Partners, acompanhado pelo seu novo escritório no centro financeiro da América Latina, São Paulo.

Com o respaldo de fontes locais em vários países, certas tendências chamaram a atenção da empresa de dados ao trabalhar no novo relatório, algumas delas sinalizando uma indústria que ainda está crescendo e dando os passos certos, mas também enfrentando desafios globais, como a Covid-19, e locais, como os labirintos de regulamentação.

Considerando a diversidade da região, principalmente em termos de evolução da indústria da cannabis e do cânhamo, algumas dessas tendências são mais relevantes para alguns mercados, mas sinalizam o que se pode esperar dos países que ingressaram nesta indústria mais recentemente, como o Equador, Peru e Argentina (o novo Decreto 883/2020).

Um dos achados interessantes do relatório é o crescimento das relações intralatino-americanas no setor, principalmente com empresas da Colômbia e do Uruguai, que estão expandindo sua presença para países vizinhos como Brasil e Peru. Isso é significativo para uma região que tradicionalmente desempenha o papel de exportador de matérias-primas no comércio internacional, muitas vezes ignorando as possibilidades que existem não do outro lado do oceano, mas ao lado.

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Outra tendência notável foi a passagem da integração vertical para a especialização. As empresas entendem que participar de todo o processo, da semente à venda, pode ser desafiador e exige muitos recursos. Com isso, empresas especializadas vêm surgindo, o que também sinaliza um importante mercado de F&A potencial nos próximos anos.

A importância da sustentabilidade vem crescendo nos últimos anos e principalmente nos últimos meses, com dados mostrando que a atenção dos consumidores latino-americanos tem aumentado em termos de impacto ambiental do produto. A abstenção de uma abordagem sustentável dos negócios pode levar à perda de oportunidades de negócios, como demonstrado pelo resultado do recente acordo UE-Mercosul.

Qualquer visitante da América Latina logo perceberá como sua população aproveita as possibilidades que os smartphones oferecem. Esse fator tem sido a causa raiz da onda de telemedicina em 2020, impulsionada pela Covid-19, com check-ups on-line de aproximadamente 3 milhões de pessoas em setembro de 2020. A tecnologia também está presente nas novas parcerias entre empresas locais e empresas de last-mile delivery, muito populares na América Latina, para entregar produtos à base de cannabis. Isso é particularmente interessante na região mais urbanizada do mundo, onde cerca de 85% da população vive nas cidades.

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Ressalta-se, tanto no que diz respeito às empresas locais quanto internacionais, o rápido crescimento da base de pacientes locais, principalmente no Brasil, onde os pacientes vêm aumentando rapidamente em 2020. O primeiro semestre deste ano fechou com quase 9.000 autorizações para importação de produtos à base de cannabis, o que representa praticamente todas as concedidas em 2019, e mais de 18.000 pacientes, acumulado desde 2015 (este número não inclui os pacientes que acessam o produto por meio de associações, o que elevaria o número para mais de 40.000). Na Colômbia, os últimos meses testemunharam novas clínicas em Bogotá, expandindo sua presença a partir de um mercado praticamente inexistente.

Uma tendência em toda a região, que não parece ter evoluído muito nos últimos anos, é a falta de conhecimento dos cidadãos sobre os produtos à base de cannabis e seus benefícios. É comum encontrar empresas afirmando que o mercado ainda dificilmente reconhece a palavra “CBD” como um diferencial, enquanto o estigma ainda persiste em muitas camadas da sociedade, dificultando a geração de demanda por parte dos consumidores. Está presente em toda a região, reforçada em alguns países pela falta de possibilidades publicitárias.

Cânhamo é definitivamente algo que ouviremos muito nos próximos anos na América Latina. Com o surgimento de organizações regionais, estudos que demonstram que vastas áreas de terras são adequadas ao seu cultivo, a abertura de marcos legais, juntamente com os benefícios ambientais da planta, muitas empresas estão começando a olhar para o cânhamo industrial, que representa menores barreiras de acesso e oportunidades de mercado promissoras em uma região com fortes capacidades agrícolas. Os sinais são ainda mais positivos devido ao aumento de 1,752% no comércio sino-latino-americano desde 2002, sendo a China atualmente a maior produtora mundial de cânhamo.

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Por último, mas não menos importante, um senso de respeito para com e a história da planta de cannabis na América Latina e no Caribe têm sido uma tendência observada em todos os países, de empresas a organizações de base. A sensação é que, devido à relação centenária da região com esta planta, existe uma relação especial com a cannabis que vai além dos custos de produção competitivos — que podem ser até 80% mais baratos se comparados aos países desenvolvidos — e se traduz em uma rica diversidade genética já sendo alavancada pela Colômbia com exportações recordes de sementes em 2020.

A região da América Latina e o mundo aguardam ansiosamente o resultado dos atuais debates políticos sobre o PL 399/2015 no Brasil para o cultivo e do debate mexicano sobre o mercado de uso adulto, já que essas duas economias representam cerca de 350 milhões de pessoas e constituem quase 60% da economia latino-americana.

Estamos confiantes que, seguindo a tendência deste ano, 2021 será um ano de evolução e consolidação do setor na América Latina.

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#PraCegoVer: em destaque, fotografia de duas inflorescências de maconha de pistilos marrons, que aparecem no lado direito, no primeiro plano, e, após uma faixa de vegetação, o morro do Corcovado, no canto superior esquerdo, fora de foco. Imagem: Dave Coutinho | Smoke Buddies.

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