Youtube continua silenciosamente apagando canais sobre maconha

O Youtube, a maior plataforma de vídeos da rede, sistematicamente segue deletando canais com conteúdos educacionais e informativos sobre a cannabis. Até agora, mais de 20 canais canábicos foram deletados do site sem maiores explicações. Será o fim da liberdade de expressão na rede?

Enquanto você lê este texto, mais um canal sobre maconha pode estar sendo deletado do Youtube. O último caso que chamou nossa atenção foi o canal “Eu, a maconha e uma câmera”, deletado este mês sem maiores explicações.

Recentemente, a jornalista Mônica Pupo noticiou, em seu site Maryjuana, que um dos principais produtores de conteúdo canábico da Espanha, Marihuana Television, também foi banido do Youtube sem explicações. No ar desde 2008, o canal recebia cerca de meio milhão de visitas ao mês. Com vídeos informativos, coberturas de eventos, dicas de cultivo e reportagens diversas, o Marihuana Television utilizava o Youtube como uma de suas principais plataformas de comunicação.

Segundo artigo, revoltados com a censura, os produtores do canal criticam a postura da rede social, cujas “regras comunitárias” afirmam que “nossos produtos são plataforma para a liberdade de expressão”“Quer dizer então que a comunidade canábica não merece desfrutar da liberdade de expressão?”, perguntam-se os idealizadores do Marihuana Television.

Mais de 20 canais sobre maconha já foram deletados pelo Youtube. Na lista disponível no site Maryjuana é possível ver que não são só as marcas que estão sendo censuradas, mas também criadores de conteúdos informativos como o Marihuana Television e o canal de nosso colunista hermano Henrique Reichert, o “Eu, a maconha e uma câmera”.

Politicagem Publicitária

Sem conteúdos violentos, sexualmente explícitos ou perigosos de qualquer forma, muitos dos canais já existiam há anos no Youtube e neles eram exibidos atos, debates, inovações e técnicas ligadas à cultura, ao cultivo e à colheita de cannabis.

Com a plataforma acirrando os ataques contra o conteúdo canábico, Henrique Reichert foi pego de surpresa ao ter o canal “Eu, a maconha e uma câmera” deletado no dia 09/05. O EMC contabilizava mais de meio milhão de visualizações ao mês e 82 mil inscritos. Lá, Reichert dava dicas de cultivo e mostrava como é viver num país com a cannabis regulamentada, o Uruguai.

“O Youtube decidiu que todo conteúdo gerado em quase 2 anos de trabalho não segue as regras da comunidade e excluiu o canal”, conta Reichert, que completa: “Faz 1 ano que vivia disso, o canal acabou se tornando minha principal fonte de renda e me dedicava exclusivamente a ele”.

Apesar do Youtube ser conhecido por monetizar (com valor bem baixo, clique aqui para saber mais) os conteúdos autorais que rendem altos números de views, o mesmo não permite anúncios nos canais canábicos, que são classificados como “conteúdo restrito por idade”. Entretanto, os proprietários de canais podem vender patrocínios diretamente para marcas da indústria canábica, como acontece atualmente.

Os canais canábicos são ferramentas educacionais para ativistas, advogados, médicos, juristas,  produtores, consumidores, pais e familiares de pacientes que usam a maconha com fins medicinais, o que tem sido ótimo para normalização do tema perante a sociedade através de documentários, atos e manifestos antiproibicionistas.

A plataforma faz as exclusões sem uma razão específica, apenas apresentando uma lista genérica de restrições que inclui promoção à violência, o uso de drogas ilegais, a criação de conteúdo spam, entre outras. E o que parece é que as diretrizes da rede social precisam urgentemente serem atualizadas. Afinal, a legalização da maconha está em curso no mundo todo e canais como o “Eu, a maconha e uma câmera”, entre outros norte-americanos, não estariam infringindo lei alguma, ao menos nos 29 estados que já legalizaram.

Diante de uma pesquisa sobre os canais canábicos deletados  em portais norte-americanos, é nítido que o motivo da exclusão trata-se de uma ‘Politicagem Publicitária’: o Youtube não pode gerar receita com conteúdos sobre cannabis.

No ano passado, a plataforma viveu o “The Adpocalypse” em que muitos dos seus principais anunciantes viram seus anúncios exibidos antes de conteúdos impróprios, incluindo vídeos que descreviam violência, promoviam o discurso de ódio e entre outros, fato que gerou um boicote até que a plataforma encontre uma solução.

Com o dinheiro virando fumaça, os algoritmos foram atualizados para impedir conteúdos classificados como “inadequados”. Com isso, inúmeros youtubers do meio canábico, da causa LGBT, gamers, colecionadores, historiadores e pessoas que lidam com assuntos delicados estão sendo penalizados com a exclusão dos canais.

Com uma comunicação difícil, o Youtube permanece em silêncio sobre o aumento da fiscalização de suas diretrizes ambíguas. A alternativa de alguns está sendo migrar para outras plataformas como o Vimeo e TheWeedTube, como fez o canal “Eu, a maconha e uma câmera” agora no Vimeo, mas persistindo também no Youtube.

Aos empreendedores youtubers (ou não) aconselhamos sempre manter um backup de todo o conteúdo produzido e de preferência upado em uma plataforma própria, além das tradicionais. Força galera e continuem com o trabalho.

A Smoke Buddies é contra qualquer ato que minimize ou impeça a liberdade de expressão, seja em assuntos relacionados à maconha ou não.

“A persistência transpõe todo obstáculo” – Sêneca.

#PraCegoVer: Fotomontagem da silhueta de uma mão segurando um aparelho celular com o símbolo de censura (carinha triste) do Youtube e ao fundo desfocado o logo da plataforma.

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Sobre Dave Coutinho

Carioca, Maconheiro, Ativista na Luta pela Legalização da Maconha e outras causas. CEO "faz-tudo" e Co-fundador da Smoke Buddies, um projeto que começou em 2011 e para o qual, desde então, tenho me dedicado exclusivamente.
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