Uso diário de maconha está ligado a taxas mais altas de psicose, segundo estudo

Fotografia de uma flor de maconha seca com pistilos marrons e a mão que a segura utilizando dois pauzinhos; à frente da mão pode-se ver um cabo conectado a um aparelho eletrônico e ao fundo, parcialmente nítido, parte do corpo da pessoa. Psicose.

O uso diário de maconha, especialmente das strains de alta potência, está ligado ao aumento do risco de desenvolver psicose, de acordo com um novo estudo realizado por pesquisadores de Londres. As informações são da NBC News

O estudo europeu, que analisou o uso de cannabis em 11 grandes cidades e no Brasil, é o primeiro a mostrar o impacto do consumo de maconha nas taxas de psicose, uma condição mental severa, em grandes populações. A ligação com a psicose foi mais forte em Londres e Amsterdã, onde strains de alta potência – maconha que contém mais de 10% de THC, o componente psicoativo da droga – são mais fortes e mais comumente disponíveis.

Em Amsterdã, metade de todos os novos casos de psicose estava ligada ao uso de alta potência; em Londres, um terço dos novos casos estava relacionado ao uso de alta potência.

“Nossas descobertas são consistentes com estudos anteriores mostrando que o uso de cannabis com uma alta concentração de THC, também conhecida como maconha do tipo skunk, tem mais efeitos nocivos na saúde mental do que formas mais fracas”, disse a Dra. Marta Di Forti, autora principal do Instituto de Psiquiatria, Psicologia e Neurociência do King’s College, em Londres. “Pela primeira vez, temos evidências consistentes de que existe uma relação dose-dependente entre o uso de cannabis e a psicose induzida em um nível populacional. Quanto mais cannabis você consumir, maior a probabilidade de você desenvolver um distúrbio psicótico”.

O novo estudo, publicado na revista científica The Lancet Psychiatry, analisou 901 indivíduos com primeiro episódio de psicose que usaram serviços de saúde mental em toda a Europa entre 2010 e 2015. Os pesquisadores coletaram informações sobre o histórico de uso de cannabis e outras drogas recreativas dos participantes. Eles usaram dados publicados para estimar os níveis de THC nos tipos de cannabis usados ​​pelos participantes.

As strains foram classificadas como de alta potência – acima de 10% de THC – ou baixa potência – abaixo de 10% de THC.

Nos 12 locais, as pessoas que usaram algum tipo de cannabis diariamente tiveram três vezes mais chances de ter um diagnóstico de um novo episódio de psicose, em comparação com pessoas que nunca usaram cannabis, concluíram os pesquisadores. Isto aumentou para cinco vezes mais a probabilidade para o uso diário de cannabis de alta potência.

De todos os novos casos de psicose nos 12 locais durante esse período, estima-se que um em cada cinco novos casos de psicose foi relacionado ao uso diário de cannabis. Um em cada 10 foi ligado ao uso de cannabis de alta potência, descobriu o estudo.

“THC é o culpado nos eventos psicóticos”, disse Di Forti.

Na Holanda, o conteúdo de THC chega a 67% em certas cidades, como Nederhasj. Em Londres, a cannabis do tipo skunk, conhecida por seu forte cheiro, representa 94% do mercado de rua e tem um THC médio de 14%.

Pesquisas anteriores ligaram o uso da erva e psicose, mas os estudos não foram em populações grandes o suficiente para fornecer resultados confiáveis.

Um estudo canadense publicado no Journal of Child Psychology and Psychiatry em 2017 mostrou um aumento substancial em “experiências do tipo psicóticas” em usuários adolescentes. O estudo também relatou efeitos adversos no desenvolvimento cognitivo e aumento dos sintomas de depressão.

Leia: Fumar maconha na adolescência aumenta os riscos de se desenvolver psicose

Outros estudos mostram que o uso crônico pode até interferir no desenvolvimento normal do cérebro adolescente.

“Os resultados deste estudo precisam ser levados a sério”, disse o Dr. Adrian James, secretário do Royal College of Psychiatrists, em Londres.

“A cannabis traz graves riscos para a saúde e os usuários têm uma maior chance de desenvolver psicose”, disse James em um comunicado. “Os riscos aumentam quando a droga é rica em potência, usada por crianças e jovens e quando usada com frequência”.

Muitos países legalizaram ou descriminalizaram o uso de cannabis, levando a preocupações de que isso poderia resultar em um aumento no uso de cannabis e danos associados.

Estudos sobre a maconha não podem ser realizados nos EUA porque a droga – que agora é legal por prescrição de um médico em 33 estados e recreacionalmente em 11 estados mais o Distrito de Columbia – permanece na mesma classe federal como heroína e LSD, uma droga da Classe I, designada como tendo “alto potencial para abuso” e “nenhum uso medicinal atualmente aceito”.

Os defensores da saúde pública da pesquisa de cannabis nos EUA acreditam que as leis de maconha não devem ter influência sobre a capacidade de um cientista de estudar as consequências da droga em uma população.

Isso torna a pesquisa europeia e canadense ainda mais importante, especialmente à medida que strains de maconha mais potentes entram no mercado estadunidense. Por exemplo, um estudo descobriu que a quantidade média de THC nas amostras de maconha dos EUA aumentou de 4% em 1995 para mais de 12% em 2014. Durante esse mesmo período, o canabidiol, o componente não psicoativo da maconha, caiu de 0,28% para 0,15.%. Essa mudança na proporção de THC para CBD tem um efeito pronunciado na potência percebida da droga.

“O CBD, ao qual nos referimos como o componente ‘bom moço’ da cannabis, não tem componente psicoativo e tem sido demonstrado que compensa os componentes psicoativos do THC em estudos experimentais”, disse Di Forti.

Nos EUA, a potência média de THC dos produtos de flores de cannabis vendidos nos mercados licenciados pelo estado de Washington é de mais de 20%, e a potência média dos produtos à base de extratos – como óleos para canetas vaporizadoras e dabs – está na casa dos 70%, segundo Jonathan Caulkins, pesquisador de políticas de drogas e professor da Universidade Carnegie Mellon, disse à NBC News.

Di Forti adverte que, até que mais pesquisas sejam feitas, é do interesse da maioria das pessoas ficar longe da cannabis de alta potência.

“Se você quiser experimentar, faça isso raramente”, disse ela.

Tradução: Smoke Buddies

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#PraCegoVer: fotografia (de capa) de uma flor de maconha seca com pistilos marrons e a mão que a segura utilizando dois pauzinhos; à frente da mão pode-se ver um cabo conectado a um aparelho eletrônico e ao fundo, parcialmente nítido, parte do corpo da pessoa. Créditos da foto: David Zalubowski – AP.

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