Turismo da maconha faz sucesso em Los Angeles, com tour temático e tudo mais

O mercado da cannabis legal floresce mais a cada dia nos EUA. Em estados como Colorado, Oregon e Califórnia, o turismo da maconha atrai a atenção de turistas que podem se deleitar com uso recreativo da erva em tours, lojas e hotéis especializados. As informações são da AP, via O Globo.

A venda de maconha para uso recreativo se tornou legal na Califórna este ano, e a indústria está mirando tanto turistas quanto locais, com tours, lojas, opções de hospedagem e anúncios que miram este público-alvo. “A poucos minutos do LAX”, diz a propagando da rede MedMen, em referência ao Aeroporto Internacional de Los Angeles. Sim, há cadeias de lojas de cannabis aqui. E há roteiros canábicos em ônibus também, como os da Green Line Trips, com paradas em dispensários entre uma atração turística e outra, como o Griffith Park. Pode-se até mesmo fumar no ônibus.

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MedMen, um dos muitos dispensários de cannabis em West Hollywood, tem a pontuação de 4.8 stars no weedmaps.com, um site que lista lojas especializadas na erva nos destinos onde ela é legalizada. Nos horários mais movimentados, há filas para entrar, e você terá que mostrar um documento provando que tem 21 anos ou mais.

Mas, uma vez lá dentro, é uma mistura de head shop (loja de produtos relacionados à cannabis e ao fumo) com uma loja da Apple. O ar cheira à erva. Nos balcões há maconha, óleos, biscoitos e balas para o hálito, entre iPads com informações sobre diferentes plantas. As descrições soam como as de um vinho: “Alguma picância no olfato.”

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Prateleiras exibem vaporizadores, pomadas, infusões, velas. Refrigeradores estão cheios de bebidas e congelados como um churros com influsão de cannabis. Os vendedores usam camisetas com os dizeres “Compre. É legal”. O estilo pessoal de cada um vai do cabelo verde ao grisalho, de dreadlocks a cortes curtos, alguns com tatuagens e piercings, outros sem. Mas uma coisa eles têm em comum: são todos tranquilões.

‒ É o melhor emprego que já tive – diz Richard Horn, 26 anos, enquanto me mostra a loja.

#PraCegoVer: fotografia de um casal de turistas observando um iPad as opções de maconha em um dispensário de Los Angeles, ao fundo vários clientes andam pela loja. Créditos: Richard Vogel – AP.

Horn conta que são dois tipos de produtos, os com THC, a principal substância psicoativa, e os com CBD, que não causa efeitos cognitivos, mas é vendido para combater a ansiedade, aliviar dores e acentuar o prazer sexual. Não entendi exatamente como uma mesma substância pode diminuir a dor e aumentar a excitação, até ele murmurar algo sobre “dormência” e “maior duração” e aquilo ficar um pouco estranho, já que tenho idade suficiente para ser sua mãe. A conversa logo muda para produtos canábicos para animais de estimação e impostos.

Você poderia pensar que o preço da maconha legalizada estaria mais baixo do que quando ela era ilícita, até se dar conta dos custos do negócio: aluguel, funcionários, propaganda e impostos. A erva legal pode ser 35% mais cara do que os usuários pagavam nas ruas, dependendo da cidade. A marijuana na MedMen é vendida por cerca de US$10 a US$25 por grama, dependendo da qualidade. Cigarros prontos são vendidos a US$ 5 a US$ 15, dependendo da marca. Compradores com permissões oficiais para maconha medicinal pagam menos, porque a eles não são cobrados os impostos. Você pode comprar até uma onça (28 gramas) de cannabis por dia, ou até 8 gramas de cannabis concentrada (usada em derivados).

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Clientes parecem não se abalar com o custo. Vestidos casualmente ou em trajes executivos, eles exploram, cheiram embalagens e discutem sobre os produtos com os vendedores. Horn é fã dos vaporizadores a bateria:

‒ É o melhor custo-benefício.

Você pode pagar com dinheiro vivo ou cartões de débito (companhias de cartões de crédito não entram nessa operação porque a maconha continua ilegal em âmbito federal). Muitos consumidores saem com sacolas cheias de produtos, mas os turistas encontram alguns desafios. A lei proíbe o consumo de produtos canábicos em público ou em qualquer outro lugar onde o tabaco é banido — o que, na Califórnia, inclui restaurantes, bares, parques e praias. A maioria das grandes redes hoteleiras no estado também é para não-fumantes, o que pode levar os visitantes de volta para onde estavam antes da legalização: à procura de um lugar para fumar.

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São Francisco abriu “lounges para consumo”, onde fumar é permitido, e já se fala em algo parecido em West Hollywood. Por enquanto, porém, a melhor opção para os turistas procurando lugar para fumar pode ser buscar hotéis e imóveis para alugar que aceitem a prática. Alguns deles são anunciados online como “420-friendly”, a referência ao 20 de abril, um feriado extraoficial do apreciadores da erva. O site KushTourism.com lista passeios guiados e também hospedagem amigável ao consumo.

#PraCegoVer: fotografia de turistas na calçada aguardando para embarcar em um ônibus da Green Line Trips que faz tour pelos dispensários de maconha de Los Angeles. Créditos: Richard Vogel – AP.

Mas o que fazer na hora de voltar para casa? Você não pode levar maconha em aviões ou para além dos limites estaduais, já que o consumo é ilegal em nível federal. Isso vale também para os produtos “de boticário” com CBD, pois o uso medicinal da droga é proibido em diversos estados. Em alguns aeroportos do Colorado e no de Las Vegas, foram instalados “caixas da anistia”, onde viajantes podem depositar as drogas antes de passarem pela inspeção de segurança, mas ainda não há nos terminais da Califórnia.

Agentes da Transportation Security Administration (TSA) estão focados em ameaças reais, não em marijuana, de acordo com a porta-voz da agência, Lisa Farbstein. Se acontecer de encontrarem a droga na bagagem durante a inspeção de rotina, a TSA encaminha o incidente para os agentes locais, e eles decidem como lidar com isso, segundo Farbstein. Mas um viajante parado pela TSA com uma quantia legal de maconha na Califórnia não poderia ser multado porque o porte da droga não é crime aqui.

No fim do meu tour pela MedMen, pergunto a uma compradora se posso conversar sobre o assunto. Mesmo sendo legal, ela não aceita falar porque a filha é policial. Hábitos antigos são difíceis de mudar.

Pergunto a outra mulher bem vestida por que ela veio à MedMen, e ela me olha curiosa: “Fiquei sem maconha”, disse Bari Bogart, 62 anos.

‒ Medicinal ou recreativa? – perguntei.

Ela riu:

‒ Você está brincando?

É verdade. Ninguém precisa mais fingir.

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#PraCegoVer: fotografia do interior de um ônibus da Green Line Trips com vários turistas no momento em que um deles passa um baseado para o outro. Créditos: Richard Vogel – AP.

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