TRUMP, MÉXICO E MACONHA

Entre outras declarações pra lá de polêmicas, Donald Trump culpa exclusivamente os mexicanos pelo tráfico de drogas que abastece os estoques dos EUA. Essa relação foi criada justamente quando a guerra às drogas começou. Entenda na coluna da semana do advogado e ativista, André Barros, a relação entre o tráfico, a maconha, Trump e os mexicanos.

A lei seca proibiu a bebida alcoólica nos Estados Unidos de 1920 a 1933. Neste período, foi construído um grande aparato de repressão à importação, à fabricação e à venda da droga então ilícita. O Departamento de Narcóticos atuava sistematicamente em âmbito nacional.

Com a legalização, esse departamento e seus agentes ficaram desolados pelo fracasso de sua missão pois, além de não terem conseguido acabar como o álcool, seu consumo só fez crescer naqueles anos. E pior, o que iriam fazer a partir de então, já que só sabiam fazer isso?

Logo encontraram um inimigo, os mexicanos, que foram em grande número para lá na década de 1920 em busca de empregos e ameaçariam o mercado de trabalho dos estadunidenses. Como os chineses, que apreciavam o consumo do ópio fumado e, da mesma forma, ameaçariam os empregos dos americanos, os Estados Unidos proibiram seu uso e utilizaram da ilegalidade do ópio para reprimir os chineses. Esses haviam imigrado em grande número a fim de construir estradas de ferro naquele país. Outras formas de consumir a substância eram permitidas, já que não faziam parte dos hábitos daquele povo.

Da mesma forma, como os mexicanos apreciavam o consumo da maconha, a erva foi sendo colocada na ilegalidade em vários Estados pela atuação do Departamento de Narcóticos, que precisavam criminalizar ‘outra substância’, já que a bebida alcóolica estava legalizada. A maconha foi escolhida como o motivo para reprimir os mexicanos da mesma forma que o ópio fumado foi selecionado para reprimir os chineses. Essas foram as formas encontradas para alimentar a xenofobia americana.

Agora, Donald Trump, eleito presidente pelo Partido Republicano, culpa apenas os mexicanos pela entrada das drogas tornadas ilícitas. Como se nada chegasse pelo Pacífico, pelo Atlântico, de avião, nem pelo Canadá… entra tudo somente pelo México? Com este argumento, o candidato quer levantar um muro para separar os EUA do México, sob o falso argumento do combate ao consumo de substâncias ilícitas em solo americano.

Os Estados Unidos são o maior mercado consumidor de praticamente todas as drogas ilícitas. Aliás, essas foram tornadas ilegais por atuação sistemática e internacional da diplomacia americana, que liderou a assinatura de diversos tratados proibindo determinadas substâncias. Culpam sempre os outros países por seu astronômico consumo interno.

Trump apenas faz a política histórica americana, aproveitando o consumo de determinadas substâncias por pessoas de outras nacionalidades e utilizando a criminalização para perseguir pessoas vindas de outros países. Logo agora que a maconha vem sendo legalizada em solo americano, os mexicanos, que foram as maiores vítimas da “guerra à maconha”, não vão poder usufruir dos enormes lucros desse novo mercado legal.

Sobre André Barros

ANDRÉ BARROS é advogado da Marcha da Maconha, mestre em Ciências Penais, vice-presidente da Comissão de Direitos Sociais e Interlocução Sociopopular da Ordem dos Advogados do Brasil e membro do Instituto dos Advogados Brasileiros
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