Tratamento com cannabis medicinal melhora a qualidade de vida de crianças autistas

Fotografia de uma muda de maconha em um torrão de terra que está sobre as palmas das mãos de uma pessoa, da qual pode-se ver apenas os braços vestindo blusa preta, na parte esquerda da foto, e, na direita, um céu com nuvens desfocado. Cannabis.

Para especialista, os resultados de estudos sobre o uso da cannabis no tratamento do autismo são animadores e representam uma nova possibilidade para pacientes e familiares. As informações são d’A Redação.

Nos últimos anos, o uso terapêutico da cannabis vem atraindo atenção em todo o mundo. Países como Canadá, Reino Unido, Israel e, mais recentemente, Peru – que regulamentou o uso medicinal da planta em janeiro deste ano – já flexibilizaram suas leis para ampliar o acesso dos pacientes a medicamentos derivados da cannabis. Esse movimento global vai ao encontro não só de reivindicações da sociedade civil, mas também de pesquisas e estudos clínicos que visam identificar os benefícios da cannabis para o tratamento de diversas condições, como Parkinson, Alzheimer, epilepsia, dor crônica, distúrbios de ansiedade, câncer. O mais recente deles avaliou o uso de canabinoides para tratamento do TEA – Transtorno do Espectro Autista, e os resultados são animadores.

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O estudo, conduzido por pesquisadores da Universidade Ben Gurion e do Soroka Medical Center, ambos em Israel, e publicado na revista científica Nature em janeiro, acompanhou 188 pacientes com TEA menores de 18 anos tratados com canabinoides entre 2015 e 2017. Após seis meses de tratamento regular, 83% dos pacientes relataram avanços significativos ou moderados em aspectos comportamentais – melhora do humor, nos níveis de ansiedade, na concentração e na qualidade do sono –, além de maior facilidade para realizar tarefas cotidianas, como tomar banho e se vestir sozinhos. Também houve impacto direto na rotina dos pacientes: antes, apenas um terço (31.3%) afirmava ter uma boa qualidade de vida, índice que dobrou (66.8%) após seis meses de tratamento.

Segundo o Dr. Vinicius Barbosa, psiquiatra e pesquisador membro do Laboratório de Estudos Interdisciplinares sobre Psicoativos – LEIPSI/UNICAMP, o TEA tem três características principais – déficit persistente e significativo na comunicação e interação social; padrão restrito e repetitivo de atividades e comportamento e alterações da percepção sensorial – independentemente de qual seja sua origem. Podem haver, também, condições associadas, como epilepsia, agressividade, hiperatividade, depressão e ansiedade. “Não há, até o momento, tratamento específico para os sintomas centrais do TEA, apenas medicamentos para alguns sintomas associados e que, infelizmente, podem levar a outros problemas por seus efeitos colaterais, sobretudo no uso prolongado – algo que vemos de forma muito reduzida no tratamento com canabinoides, que além dos impactos positivos, apresenta menos efeitos adversos”. Para o médico, ao optar pelo uso de canabinoides, o foco deixa de ser somente a consequência do problema e passa a ser um tratamento mais específico, com enfoque nas bases biológicas por trás da condição.

“Estudos recentes têm relacionado o autismo a um desequilíbrio do sistema imunológico – principalmente dos astrócitos, células de defesa localizadas no cérebro –, levando a um processo neuroinflamatório crônico que afeta os neurônios. É justamente na comunicação entre os sistemas nervoso e imunológico que o sistema endocanabinoide atua, com moléculas e receptores que agem buscando o equilíbrio”, afirma o especialista. “Também há estudos que apontam para uma diminuição dos níveis de endocanabinoides nessa população, levando à desregulação do sistema. Assim, seria possível buscar um reequilíbrio do organismo com os canabinoides da planta. Talvez seja esse o motivo pelo qual o tratamento com o canabidiol (CBD) e outros canabinoides vêm apresentando resultados positivos”.

Para o médico, esses resultados são animadores e representam uma nova possibilidade para os pacientes e seus familiares – reforçando que a abordagem medicamentosa é parte do tratamento e que, por isso, o acompanhamento terapêutico multiprofissional e o tratamento de outras comorbidades clínicas são de extrema importância. “Esses estudos indicaram melhora em sintomas centrais do TEA, como a comunicação, que nunca havia sido observada em ensaios clínicos anteriores. Isso é muito animador. Estamos aguardando os resultados das pesquisas em curso e outras serão necessárias para atingirmos o máximo potencial dessa terapêutica no autismo”, finaliza.

Sobre o Dia Mundial da Conscientização sobre o Autismo

Em 2 de abril é celebrado o Dia Mundial da Conscientização sobre o Autismo, data criada pela Organização das Nações Unidas (ONU) para ampliar o conhecimento e reduzir o estigma em torno da condição. O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um distúrbio do neurodesenvolvimento caracterizado por dificuldades de interação social, deficiências verbais e físicas e padrões restritos e repetitivos de comportamento que costuma se desenvolver na infância. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 70 milhões de pessoas no mundo estejam no espectro do autismo; no Brasil, estimam-se 2 milhões de casos de TEA, metade deles ainda não diagnosticados.

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#PraCegoVer: fotografia (de capa) de uma muda de maconha em um torrão de terra que está sobre as palmas das mãos de uma pessoa, da qual pode-se ver apenas os braços vestindo blusa preta, na parte esquerda da foto, e, na direita, um céu com nuvens desfocado. Créditos da foto: Shutterstock.

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