Será que a legalização da maconha medicinal aumenta o consumo ilegal?
Uma nova pesquisa publicada pela JAMA Psychiatry conclui que sim: consumidores que recorrem ao mercado ilegal aumentaram em locais onde as leis com relação à erva foram flexibilizadas. Mas será que a história é por aí? Entenda mais sobre o tema no texto abaixo.
Um novo estudo publicado pela JAMA Psychiatry faz alegações controversas sobre a maconha. Publicação aponta que números de consumidores na ilegalidade aumentaram mais nos estados norte-americanos que aprovaram o uso medicinal da cannabis.
Atualmente, 64% dos norte-americanos vivem em estados que permitem o uso da maconha medicinal para uma variedade de condições e doenças. Isso inclui o estado da Virgínia Ocidental, que recentemente aprovou a legalização. Estima-se que 205 milhões de americanos agora podem procurar uma recomendação médica para usar maconha, apesar de permanecer ilegal em nível Federal.
Segundo publicações que divulgam o estudo, os pesquisadores utilizaram entrevistas e analisaram os dados de três pesquisas (1991, 2001 e 2013) feitas pelas autoridades da área de saúde dos EUA para concluir que nos estados com legislação sobre maconha medicinal o uso e “abuso” de maconha aumentaram quase 60%.
Considerando os dados da amostra para todo o país, “a aprovação da legislação sobre a maconha medicinal seria a responsável por 1,1 milhão a mais de consumidores adultos da cannabis ilegal e cerca de 500.000 com transtornos devido ao uso abusivo”, concluem os autores do estudo. Para a médica Deborah Hasin, a principal autora do estudo, essas leis podem ter beneficiado as pessoas que têm problemas de saúde, mas “mudar a legislação estadual, seja para uso recreativo ou medicinal, também pode ter efeitos negativos sobre a saúde pública”, de acordo com a publicação no El País Brasil.
Para os defensores da maconha o estudo não é tão convincente como Hasin e seus colegas podem esperar. É o que mostra a publicação do USA Today.
O estudo contradiz dúzias de pesquisas e foi baseado em uma pesquisa em que as pessoas foram questionadas face a face ao invés de anonimamente, o que já pode distorcer os resultados. Outro ponto a ser considerado é que ao longo dos anos tornou-se mais confortável admitir o consumo da maconha, além do fato de que anteriormente as perguntas eram feitas por agentes do governo e depois passaram a serem feitas por empresas privadas, o que também afeta o resultado.
“Esta pesquisa parece estar empenhada em mostrar algum aumento nos transtornos de uso de maconha, no entanto todos os outros pesquisadores chegaram a conclusões opostas”, disse Mason Tvert do Marijuana Policy Projet, ao USA Today. “Esta pesquisa é contradita por anos de dados e todos os outros estudos que tenham sido feito sobre este assunto”.
Tvert disse ainda que os dados que a equipe de Hasin usa baseiam-se em um padrão de pesquisa que considera qualquer tipo de consumo regular de maconha como “abuso” e sugere que, sendo assim, 80% dos americanos seriam considerados alcoólatras se o mesmo padrão fosse aplicado ao álcool.
Como bem observado pelo portal cannabico Merry Jane, com tanta informação nova sobre cannabis inundando nossos feeds de notícias, é difícil saber em quem acreditar e no que confiar, mas como com qualquer pesquisa, é sempre uma boa ideia ver de onde o financiamento vem. Neste caso, o estudo de Hasin foi apoiado pelo Instituto Nacional sobre o Abuso de Drogas e pelo Instituto Nacional de Abuso de Álcool e Alcoolismo, grupos financiados pelo governo federal, feliz com a proibição.
Tanto nos EUA, principalmente nos estados com alguma forma de legalização, como em qualquer outra parte do mundo que há uma regulação da maconha é normal as pessoas se sentirem mais tranquilas em falar sobre o consumo da cannabis.
Até mesmo no Brasil, que ainda não é legalizado, as pessoas já se sentem mais a vontade em assumir e normalizar o uso da maconha, até mesmo para mostrar a necessidade de regulamentar, mas não é por isso que tal explanação servirá para se afirmar que existem mais usuários. O usuário sempre existiu, porém a proibição, violência e todo estigma que cercam a vida de muitos estão caindo e mais pessoas se assumindo.
Fotografia de capa: Phill Whizzman | Smoke Buddies
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