Sem violência: Smoke Buddies assina nota de repúdio contra ação da PM na Marcha da Maconha de Maceió

Sem violência: Smoke Buddies assina nota de repúdio contra ação da PM na Marcha da Maconha de Maceió - Smoke Buddies

A fórmula “Marcha da Maconha + Polícia Militar” sempre foi complicada, mas de alguns anos para cá o que era exceção se tornou quase uma regra: a PM deixa os maconheiros livres para defenderem seus ideais e direitos. Mas isso não ocorre  em todo lugar. Por este motivo, o Smoke Buddies decidiu assinar a nota que repudia a ação truculenta e violenta da PM de Maceió durante a MM da cidade. Já passou da hora das autoridades de plantão colocarem na cabeça que viemos para ficar e que nossa luta é mais que legítima.

O Coletivo Marcha da Maconha Maceió vem manifestar-se publicamente em repúdio à repressão e truculência da Polícia Militar do Estado de Alagoas, orquestrada pela Secretaria do Estado de Defesa Social e legitimada pelo Secretário Alfredo Gaspar de Mendonça, ocorrida no último domingo, 31, durante a atividade cultural de encerramento da Marcha da Maconha Maceió.

Reconhecida constitucionalmente pelo STF, a Marcha da Maconha acontece todos os anos em diferentes cidades do país levantando o debate sobre a necessidade de uma nova Política de Drogas, e consequentemente reivindicando a legalização da maconha para seus diversos usos. Entendemos que a atual política proibicionista, além de não eliminar o tráfico, tem gerado milhares de mortes todos os anos no país, sendo a maioria dessas vítimas os pobres, negros e moradores das periferias. A nossa primeira edição ocorreu ano passado, de forma pacífica e legítima. Neste ano, a nossa segunda edição ocorreu na orla da capital alagoana, com concentração no antigo Alagoinhas em direção ao Posto 7, no Bairro da Jatiúca. Logo no início a atividade foi tomada por manifestantes, maioria oriundos das comunidades periféricas, que pediam o fim da violência militar dentro das periferias e a legalização da maconha.

A todo momento a organização deixava claro que se tratava de um ato político e que deveria ser evitado o uso da maconha. Durante a concentração, e em grande parte do trajeto, tivemos uma marcha linda e tranquila. A primeira ocorrência de tumulto ocorreu após uma guarnição da RP (Rádio Patrulha) passar pela manifestação. A viatura parou no meio da manifestação e um policial desceu apontando a arma para os manifestantes. Essa ação provocativa fez com que muitas pessoas corressem temendo a repressão. Graças à organização do evento, a marcha foi normalizada e seguiu adiante. Essa atitude da PM provocativa foi o recado do que viria a seguir.

Chegamos ao Posto 7 e preparávamos para finalizar as atividades com uma intervenção cultural, como combinado com os órgãos competentes. Em poucos minutos após o início da atividade, várias viaturas da RP (Rádio Patrulha) começaram a chegar ao local do evento. Membros da organização se dirigiram ao comandante da PM ressaltando que o evento mantinha-se pacífico, sem qualquer ocorrência de violência, e que se pretendia finalizar dessa forma. O Comando da PM, de maneira autoritária, apenas disse: “Não tem diálogo, só conversamos com gente de bem”. Logo após, começaram as abordagens invasivas. Muitas ofensas, empurrões e provocações (por parte da polícia) marcaram o início do que seria aquela noite.

 

Sem violência: Smoke Buddies assina nota de repúdio contra ação da PM na Marcha da Maconha de Maceió - Smoke BuddiesApós a chegada da RP, dezenas de viaturas do BOPE, ROCAM e FORÇA NACIONAL somaram-se à repressão. Os policiais, sem identificação, desceram com escudos, armas, e bombas na mão. A organização foi mais uma vez ao encontro do comandante para dizer que o movimento era pacífico, e que havia famílias com crianças, idosos, e que foram cumpridas todas as exigências legais. Foram mostrados todos os documentos necessários e as taxas exigidas pela prefeitura pagas. O comando mais uma vez ignorou e rejeitou o diálogo, iniciando a repressão com bombas de efeito moral, balas de borracha e gás lacrimogêneo. A PM transformou uma manifestação pacífica num cenário de massacre. Agressões que ultrapassaram todos os limites, físicos, psicológicos, morais e verbais fizeram parte da atuação da Polícia Militar de Alagoas.

Nove pessoas foram detidas: Felipe Oliveira, organizador da Marcha da Maconha Maceió e militante do PSTU; Thatiane Nicácio, organizadora da Marcha da Maconha Maceió e militante do PT, que foi brutalmente agredida; Lucas Almeida, estudante de Ciências Sociais da Ufal, que foi preso enquanto filmava a repressão e teve seu material danificado; Wendel Fischer, professor de Ciências Sociais da Ufal; Lorena, professora de Ciências Políticas da UNIT; Jonas Cavalcante, advogado e integrante da Comissão de Direitos Humanos da OAB-AL e mais três participantes da Marcha. Após horas de depoimentos e tentativas (com êxito em alguns detidos) de forjar um flagrante a fim de justificar a truculência ofertada ao movimento durante a noite, às 03h00 os presos começaram a ser liberados.

Incidentes como este, que ferem o direito à liberdade democrática de manifestação, infelizmente estão se tornando práticas habituais em Alagoas, principalmente em Maceió. O episódio ocorrido com os estudantes do CEPA no dia 27 de fevereiro de 2015, enquanto reivindicavam o direito ao passe livre estudantil, e a agressão ocorrida um dia anterior à Marcha da Maconha – durante o QuaZinada, evento cultural promovido no bairro do Vergel, que teve a sede invadida pela PM -, fazem parte de uma lamentável onda de barbaridades que segue engolindo o cotidiano do estado governado pelo sucessor de Renan Calheiros, Renan Calheiros Filho (PMDB), político que segue reprimindo ainda mais a periferia que sangra longe das belas praias do litoral de Alagoas e atacando covardemente os movimentos sociais.

Diante do exposto, repudiamos veementemente a ação da polícia comandada por Renan Filho, a ordem e o posicionamento do Secretário Alfredo Gaspar de Mendonça, que demonstrando um autoritarismo digno da ditadura e infringindo a constituição, insiste em criminalizar a juventude negra e pobre de Alagoas. Não aceitaremos que nosso movimento seja criminalizado. Movimento esse plural, pacífico, dentro das regularidades exigidas, e amparado por lei. Compreendemos que essa não é a política de segurança que deve ser usada perante os movimentos sociais, muito menos devem fazer parte do cotidiano da população. Alagoas é o estado onde os jovens negros e de periferia mais morrem no Brasil. Sabemos que todos eles são vítimas da falida ‘Guerra às Drogas’. Levar às ruas o debate sobre a legalização das drogas é algo urgente para nós.

Gostaríamos de agradecer aos manifestantes presentes por colaborarem com a construção de um ato pacifico. Agradecemos também ao apoio prestado pela OAB de Alagoas, principalmente à Comissão de Direitos Humanos da entidade, aos movimentos sociais e culturais e a toda população que manifestou solidariedade e o importante interesse na construção de uma nova política de drogas, que seja humana e pacífica.

Legalizar salva vidas!
Abaixo à repressão!
Lutar não é crime!

Maceió, 03 de Junho de 2015.

Assinam essa nota:

1. Associação Multidisciplinar de Estudos sobre Maconha Medicinal – AMEMM
2. Marcha da Maconha Salvador
3. 420 App
4. Associação Brasileira de Estudos sobre Substâncias Psicoativas – ABESUP
5. Grupo Interdisciplinar de Estudos sobre Substâncias Psicoativas – GIESP
6. Rede Latino Americana de Pessoas que Usam Drogas – LANPUD
7. Rede Brasileira de Pessoas que Usam Drogas – BRASPUD
8. Coletivo Antiproibicionista da Bahia
9. Coletivo Balance de Redução de Riscos e Danos
10. Coletivo 420ssa -BA
11. Blog Lombra- BA
12. Plataforma Brasileira de Política de Drogas
13. Growroom
14. Coletivo Jornal Germinal
15. RUA – Juventude Anticapitalista
16. Centro Acadêmico de Ciências Sociais – UFPR
17. Smoke Buddies – Revista Eletrônica Cannábica
18. Hempadão
19. Torrando com Tomazine
20. ANEL –Alagoas
21. DCE – Quilombo dos Palmares –UFAL
22. Maryjuana Blog
23. Revista Maconha Brasil
24. Revista semSemente
25. Movimento Pró-corrupção
26. Rede 4:20
27. ABRACannabis – Associação Brasileira pela Cannabis
28. Jornal Cannabica
29. Sirva-se Cultura Altenativa -AL
30. Coletivo Noiz Q Faiz -AL
31. Coletivo MAIS –UFAL
32. Movimento Pela Legalização da Maconha
33. JPT/AL
34. Coletivo Tamanca – AL
35. MOVA – Movimento Cultural Alagoano
36. Sistema de Rua – AL
37. Coletivo Antiproibicionista de Pernambuco – PE
38. Aborda – Associação Brasileira de Redução de Danos
39. Marcha das Vadias Alagoas
40. REPENSE
41. Marcha da Maconha São Paulo
42. ResPire Redução de Danos
43. Grupo Maconhabras
44. NEIP – núcleo de estudos interdisciplinares sobre psicoativos
45. Coletivo DAR – Desentorpecendo a razão
46. Coletivo Ativistas da Paz
47. ACUCA – Associação Cultural Cannábica de São Paulo
48. Movimento Ocupe Estelita
49. Quilombo Raça e Classe -AL
50. Cia Hip Hop – AL
51. Fórum Intersetorial sobre Drogas e Direitos Humanos de São Paulo
52. Fórum Estadual de Redução de Danos de São Paulo
53. Movimento Mulheres em Luta – MML
54. Matilha Cultural – SP
55. Identidade Alagoana
56. Ala Feminista da Marcha da Maconha Rio de Janeiro
57. PopFuzz Coletivo -AL
58. PSTU
59. Movimento Popular por Moradia
60. Sombra Maceió

 

Imagem: Nathi Vilela

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