‘Quero receber turistas do Brasil’, diz maior vendedor de maconha dos EUA
Ele comanda um negócio que fatura R$ 40 milhões ao ano e emprega 200 pessoas, mas se preocupa com a gestão de Trump. Caso tudo dê certo no mercado, Steve DeAngelo espera receber turistas de países como Japão, França, lugares como a Alemanha e o Brasil. As informações são do Estadão.
O sucesso da maior varejista de maconha dos Estados Unidos, a Harborside Clinic, em Oakland, na Califórnia, confirma a expectativa do país em relação a esse mercado, especialmente após plebiscitos nas últimas eleições aprovarem o uso da erva em 29 Estados. Criada em 2006 por Steve DeAngelo, a loja tem duas unidades, mais de 200 mil clientes, 200 funcionários (incluindo a divisão industrial) e uma receita anual de US$ 40 milhões.
Segundo relatório da ArcView, as vendas para uso adulto devem alcançar US$ 22,8 bilhões em 2020, com crescimento de 31% ao ano. Caso fosse totalmente legalizada, ficaria atrás somente da indústria da cerveja, com receita anual em torno de US$ 45 bilhões, contra os US$ 100 bilhões da bebida, conforme mostra pesquisa do Marijuana Business Daily. Atento a esse potencial, o fundador da Harborside tem planos para comprar um terreno de 160 hectares para cultivar a matéria-prima. A seguir, ele fala sobre as expectativas em relação ao futuro do negócio.
Você abriu a Harborside Clinic há 10 anos. O que o levou a pensar que esse seria um bom negócio?
Nunca foi um negócio para mim, sempre foi uma causa. Meu primeiro encontro com a maconha foi uma experiência profunda e espiritual. Mas era ilegal e eu não gostava da ideia de ser um criminoso. Por isso, lutei pela legalização.
A que você atribui o sucesso da Harborside?
Nós amamos essa planta e amamos quem a ama. Isso transparece em tudo o que fazemos. Muitos dos primeiros dispensários (como são chamados os locais que comercializam a maconha para fins medicinais) eram amadores, administrados por pessoas que estavam acostumadas à ilegalidade e estavam mais interessados em ganhar dinheiro.
Quais foram os maiores desafios que enfrentou?
Sem dúvida o governo federal, que ignora todas as evidências científicas e afirma que a maconha é perigosa e venenosa, sem nenhum valor medicinal.
Nesse conflito entre os Estados que permitem o uso medicinal e o governo federal, o que pode mudar com o novo presidente, Donald Trump?
A administração de Barack Obama tinha uma política de não interferir nas leis estaduais, e não sabemos se isso vai mudar. A maconha venceu em oito dos nove Estados que tiveram plebiscitos para reformar leis sobre seu uso, inclusive em locais como a Dakota do Norte e o Arkansas, que são muito conservadores e votaram em Trump. Ou seja, a reforma só foi aprovada graças aos votos de pessoas que o elegeram. Esperamos que o novo governo entenda isso. Tudo é possível: você pode voltar aqui em um ano e me encontrar preso, ou me ver como o chefe de uma empresa três vezes maior.
Quais são os seus planos de expansão?
Enquanto a nova administração (de Donald Trump) não repreender, esperamos que o negócio cresça em tamanho. No momento, para entrar na Harborside, você precisa marcar uma consulta no médico, pagar entre US$ 70 e US$ 250 por ela, conseguir uma receita e entregá-la a nós para checarmos com a sociedade de médicos da Califórnia. Com a nova lei, qualquer adulto poderá entrar aqui. Isso poderá aumentar nosso negócio ao menos em 50%, talvez até dobrar.
Você tem expectativas em se tornar um ponto turístico?
Esperamos muitos turistas. A Califórnia já é um destino muito popular e acaba de ficar ainda melhor. Nós queremos nos preparar. Se tudo der certo em nosso mercado, queremos receber gente de países como Japão, França, lugares como a Alemanha e o Brasil.
Você teme que as novas leis provoquem uma “green rush”, com grandes corporações tirando o espaço de pequenos produtores do setor?
Não me preocupo com isso. Simpatizo com as pessoas que têm esse medo, entendo o sentimento, mas minha missão é colocar essa planta nas mãos de todos os habitantes da Terra que podem precisar dela. A única forma de fazer isso acontecer é inseri-la na economia e popularizar seu comércio. E daí se as pessoas comprarem de uma grande corporação? Ela ainda será uma planta boa.
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